Sim ... “Low Cost” / AirBnb / Turismo Globalizado ... o princípio do fim do último
“Santuário Natural” no meio do Atlântico.
“Bye Bye” Açores.
OVOODOCORVO
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Reservas directas nos hotéis dos
Açores disparam à boleia das low cost
Empresários e
autarcas esperam mais turistas no arquipélago com a liberalização das ligações
aéreas. À Câmara de Ponta Delgada têm chegado pedidos de informação sobre
investimentos em alojamento local
A partir de
Abril, com a liberalização das ligações aéreas, espera-se para o turismo dos
Açores uma “mudança estrutural” que quebre a desvantagem competitiva nos preços
que o arquipélago sempre teve de suportar
Ana Rute Silva /
9-3-2015 / PÚBLICO
As reservas de hotéis para os próximos três
meses, feitas directamente por turistas, aumentaram na ordem dos 20% nos
Açores, numa altura em que a liberalização das ligações aéreas com o continente
está prestes a entrar em vigor, a 29 de Março. Humberto Pavão, delegado da AHP
— Associação da Hotelaria de Portugal nos Açores, adianta que o ritmo de
reservas, sobretudo na ilha de São Miguel, “regista uma procura fora do normal”
de visitantes que não recorrem a operadores turísticos ou agências de viagens.
Descida dos
preços das viagens de avião promete trazer mais turistas aos Açores
A maioria das
viagens “estão a ser solicitadas dentro dos 45 a 60 dias antes da
chegada”, diz Humberto Pavão, acrescentando que nos circuitos habituais as
vendas “continuam normalmente”.
A pouco mais de
três semanas de entrar em vigor a liberalização das ligações aéreas, a
expectativa é grande. A chegada anunciada da Easyjet e da Ryanair trouxe “nova notoriedade”
ao destino, diz Marta Sousa Pires, administradora executiva do Grupo Bensaude e
directora comercial da Bensaude Hotels Collection. E isso está a “originar um
aumento de interesse para reservas de individuais, e inclusivamente para short
breaks [estadias
curta duração] já durante a Primavera na ilha de São Miguel”, adianta. A
entrada destas companhias aéreas “permite a expansão da comunicação do destino
e a sua divulgação em mercados que até então eram de difícil penetração”,
continua. O interesse começou em Janeiro e o ano tem sido “bastante positivo”
para o grupo, com sete unidades nos Açores. “Apesar de não querermos elevar
demasiado as nossas expectativas e sermos realistas, a verdade é que há muitos
residentes em Portugal continental, por exemplo, que encaram os meses que se
avizinham como uma oportunidade única de conhecer os Açores pela primeira vez,
e estamos absolutamente confiantes que quem vem uma vez vai querer regressar”,
sublinha Marta Sousa Pires.
Mais cauteloso,
João Nunes, comercial do VIP Executive Açores Hotel, em Ponta Delgada, acredita
que os impactos só se vão notar no final de 2015. “Por enquanto, não temos
sentido um aumento de reservas relacionadas com as low cost. Este é um cliente
do último minuto e, por isso, só mais tarde se vai notar. As reservas são
feitas através de operadores e a maior parte da programação vai continuar a vir
através da SATA”, adianta. João Nunes acredita que só nos últimos três meses do
ano será possível assistir a uma mudança, sobretudo nos preços. “Acredito que
nessa altura poderemos subir preços”, avança. “Só estamos à espera há 15 anos,
alguma coisa boa deve dar”, ironiza.
Naquele que foi
um ano recorde para a hotelaria nacional, com crescimento global de 11% nas
dormidas, o arquipélago registou uma tímida subida de 0,9% face a 2013 e
absorveu apenas 2,3% das 46,1 milhões de dormidas conseguidas em 2014 pelo
conjunto das regiões portuguesas. José Manuel Bolieiro, presidente da autarquia
de Ponta Delgada, recorda que o “principal constrangimento de um destino
turístico como os Açores, com baixa notoriedade e um historial reduzido de
turismo, sempre foi a sua dificuldade competitiva — muito cara e de reduzida
frequência”. E é por este motivo que Carlos Santos, presidente do Observatório
do Turismo dos Açores e professor catedrático da Universidade dos Açores,
aponta a nova política de transportes aéreos como o segundo marco mais
importante para o sector, depois de, em 2000, o turismo ter obtido “o
reconhecimento político de motor de desenvolvimento da economia regional”. A
partir de Abril haverá, por isso, uma “mudança estrutural” e “uma segunda
janela de oportunidades, que deverá ser devidamente aproveitada, pois
dificilmente surgirá outra”. Cabe agora à região “conseguir uma diferenciação
positiva em relação ao melhor destino concorrente em termos de rácio qualidade/
preço da sua oferta”, sublinha.
Na Câmara
Municipal de Ponta Delgada, em São Miguel, aumentam os pedidos de informação
sobre licenciamento para alojamento local, num sinal de que os empresários
também querem aproveitar a oportunidade. Contudo, José Manuel Bolieiro diz que
ainda é “cedo para apontar percentagens de crescimento em função da entrada das
low cost” e garante que a sua cidade tem estruturas hoteleiras suficientes para
dar conta do aumento de procura, até porque há unidades encerradas.
Certo é que quem
visitar os Açores nos próximos tempos deverá contar com uma descida das tarifas
praticadas, até agora muito penalizadas pelo custo do bilhete de avião. Mário
Machado, director de operações da TopAtlântico, realça que a “redução de uma
componente de preço tão pesada como a do transporte aéreo levará a preços mais
competitivos e a um, mais que provável, aumento do número de visitantes”. Ao
mesmo tempo, Jorge Alves, director-geral do operador turístico Turangra,
recorda que, “em teoria”, a redução de preços leva a um aumento da procura. É,
assim, “expectável um aumento de fluxo turístico para os Açores”, afirma.
Preservar a natureza
As ilhas terão de
se preparar para a chegada de mais visitantes e manter o equilíbrio entre o
crescimento e a preservação do património natural. O presidente da direcção da
Associação de Turismo dos Açores, Francisco Fernandes Gil, garante que “todas
as entidades, públicas e privadas, estão determinadas na afirmação dos Açores
nesta matéria, sabendo que crescimento não é sinónimo de degradação”. Mais
turistas significa mais pessoas com a “missão de preservar a natureza e o mar
dos Açores para as futuras gerações”, sustenta.
O aumento das
ligações aéreas traz ainda uma mudança “qualitativa”. Carlos Santos, presidente
do Observatório do Turismo dos Açores, acredita que virão “turistas com perfis
muito diversos e com expectativas e necessidades diversificadas”, que reservam
a viagem online e sem recorrer a agências. No terreno, defende, a oferta também
terá de se renovar, “quer criando novas tipologias de alojamento, quer através
da criação de novas actividades de animação e serviços”.
Evaristo Melo,
dono da BigBlue Adventures, que organiza passeios e actividades marítimas,
garante que está tudo a postos para receber os visitantes. O arquipélago está
preparado e os açorianos “estão sempre à frente do que é pedido”. “O que temos
está muito acima da nossa procura. Espero que haja mais turistas e uma
possibilidade de trabalharmos todos de igual para igual.”
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