PS sem entusiasmo pelas polémicas
de Passos
Nuno Sá Lourenço
/ 7-3-2015 / PÚBLICO
Quando António
Costa falou, pela primeira vez, sobre a polémica à volta da carreira
contributiva do primeiro ministro, já o histórico socialista Manuel Alegre lhe
tinha roubado o protagonismo. De forma intencional ou não, a declaração do
líder socialista soou a resposta ao desafio do exvice-presidente da Assembleia
da República e ex-candidato a Belém. “Pedro Passos Coelho já deveria ter sido
confrontado pelo PS, e pelos outros partidos de esquerda, perante a obrigação
ética e política de se demitir”, defendeu o conselheiro de Estado em
declarações ao Diário de Notícias.
O histórico
socialista não conseguiu evitar escapar a sua perplexidade perante a “absoluta
impunidade política” de que goza o primeiro-ministro que levava os partidos de
esquerda a não exigir a saída de Passos Coelho. Alegre foi mesmo ao passado
recuperar outros casos em que “já houve ministros que se demitiram”, numa
referência ao exministro da Defesa socialista, António Vitorino. “E, no
estrangeiro, por muito menos, ocorrem estas demissões”, comparou mais uma vez.
A reacção mais
cautelosa de António Costa ontem, ao fim de uma semana em que evitou falar do
assunto, parece estar mais em sintonia com a elite socialista. A verdade é que
o debate à volta dos incumprimentos de Passos Coelho não tem animado o PS. Na
reunião da bancada parlamentar socialista, realizada na quinta-feira, os
deputados optaram por discutir os méritos das propostas sobre enriquecimento
injustificado e ouvir a apresentação de João Tiago Silveira, director do
gabinete de estudos que prepara o programa eleitoral.
Ao que o PÚBLICO
apurou, os momentos de divergência tiveram mais que ver sobre o projecto
socialista relacionado com a justiça, com alguns deputados apoiantes do
ex-líder António José Seguro a levantar objecções à proposta do próprio
partido.
Mesmo entre os
socialistas mais distantes da actual direcção existe a percepção de que não há
grande vantagem em cavalgar impetuosamente uma polémica. “Um líder do PS não
pode pedir a demissão de um primeiro-ministro. Só pode exigir a sua demissão”,
justifica o dirigente Álvaro Beleza, que tem assumido a liderança da ala
segurista desde que o anterior secretário- geral saiu de cena. Antes de mais
porque “a precipitação é sempre má conselheira”, explica. Depois, porque a
gravidade de uma exigência desse tipo “tem que ser muito bem fundamentada”,
remata.
Ainda assim,
Alegre não é o único, no interior do PS, a considerar que a gravidade da
situação justificaria essa consequência política extrema. Exemplo disso, logo
nos primeiros dias da polémica, o deputado socialista André Figueiredo tirou a
mesma conclusão na rede social Facebook. Escreveu “demissão” por Passos Coelho
“se ter embrulhado e por não ter sido verdadeiro desde o primeiro momento”,
explicou ao PÚBLICO. E acrescenta que a sucessão de declarações do chefe do
Governo só veio reforçar a convicção.
“O
primeiro-ministro sempre disse que nunca viveu acima das suas possibilidades. Ontem
veio justificar os alegados cinco processos da Autoridade Tributária com a
falta de dinheiro. Afinal, Pedro Passos Coelho confirma que viveu acima das
suas possibilidades.”
Mas André
Figueiredo compreende a forma mais comedida como o secretário-geral socialista
tem gerido a polémica. “O PS seguiu a linha de dar ao primeiro-ministro a
possibilidade do esclarecimento cabal”. Seguindo a “tramitação” normal, para
esperar “agora as respostas do chefe do Governo”.
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