Henrique Neto
VASCO PULIDO
VALENTE 27/03/2015 - PÚBLICO
Costa podia talvez mostrar alguma curiosidade pelos motivos que levaram um
homem de 78 anos, modesto e com uma excepcional carreira na indústria, a sair
da sombra.
Henrique Neto, um
velho socialista, achou de repente que o país precisava das suas luzes e
resolveu apresentar a sua candidatura a Presidente da República.
Está no seu
direito, mas foi logo zelosamente insultado pelas luminárias do PS. Ao
admirável José Lello, lembra Beppe Grillo. Para Augusto Santos Silva, com a sua
elegância habitual, não passa de um bobo. E António Costa declarou à pressa que
o episódio lhe era “indiferente”: Henrique Neto, para efeitos práticos, não
existia. No que não deixa, em certa medida, de ter razão. Sem dinheiro, sem
apoio no partido, sem uma organização própria, sem um nome nacional, Neto com
certeza que não irá longe. Costa podia talvez mostrar alguma curiosidade pelos
motivos que levaram um homem de 78 anos, modesto e com uma excepcional carreira
na indústria, a sair da sombra. Infelizmente, Costa não se interessa por essas
bagatelas.
Só que, posto de
parte cavalheiramente este fantasma da Marinha Grande, ficam algumas perguntas,
que merecem resposta. Será, por exemplo, que, a benefício de uma amnésia
incurável e total, Costa já esqueceu o que foram os bons tempos de António
Guterres: a indecisão diária, a desordem no Governo, a ausência de autoridade,
o populismo intermitente de um primeiro-ministro católico? A sério que gostava
de ver esse melancólico espectáculo repetido em Belém? Ou prefere Vitorino, o
advogado de negócios, que nunca abriu a boca sobre o estado, o destino e o
caminho de Portugal? Ou a invenção de Soares, que dá pelo nome de António
Nóvoa, e que não se recomenda por mais do que uma oratória com um século de
atraso e uma vacuidade absoluta? Esses não são bobos, nem Grillos, nem
indiferentes?
A direita não
comentou a candidatura de Henrique Neto. Por motivos tácticos mais do que
óbvios, mas também porque evidentemente não se sente segura. Durão Barroso,
eleito pelos portugueses para primeiro-ministro, arranjou na “Europa” um
emprego melhor. Marcelo Rebelo de Sousa é um comentador (exclusivamente
preocupado com a “apresentação” das políticas) a quem, ao fim de 30 anos de
televisão, não se conhece uma convicção, um princípio, um objectivo. Rui Rio,
fora a importância que ele a si mesmo se atribui, é uma personagem secundária
do Porto. E Santana Lopes continua heroicamente Santana Lopes. No meio disto,
desta pobreza e desta inconsciência, porque não a extravagância de Henrique
Neto?
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