sábado, 7 de março de 2015

PS. Costa, a lama e o futuro / Luís Rosa


PS. Costa, a lama e o futuro
António Costa tem de antecipar com urgência algumas ideias do seu programa eleitoral para combater a percepção que começa a existir de que o PS não tem projecto político para Portugal

Por Luís Rosa
publicado em 7 Mar 2015 – in (jornal) i online

António Costa é um homem que raramente se deixa pressionar. A sua frieza e inteligência política oferece resistência aos que querem impor-lhe as respectivas ideias. Elabora e cria uma estratégia e não costuma desviar-se da mesma. Pelo menos era assim António Costa antes de chegar a líder do PS. A forma como está a reagir à pressão das últimas semanas mostra que não é fácil o trabalho de líder de oposição. 

O António Costa que chamava frouxa à oposição de António José Seguro não reagiria ao caso Passos Coelho, depois de uma semana em silêncio, a reboque das críticas de Manuel Alegre e Alfredo Barroso. Mas, pior que parecer que se limita a seguir a estratégia dos históricos do PS, foi ceder a José Sócrates.

O maior objectivo de Sócrates ao atacar Passos Coelho a meio da semana pela “miséria moral” revelada pelo primeiro--ministro ao referir-se indirectamente ao seu caso judicial foi demonstrar aos militantes socialistas que o partido precisa de um líder mais agressivo e pró-activo. Parece mentira, mas as acusações que Sócrates e os seus fiéis faziam antes a António José Seguro são as mesmas que agora fazem a António Costa. Como pano de fundo, é importante referir que José Sócrates não perdoa ao secretário-geral do PS o pouco apoio efectivo que lhe deu depois de ser preso.
António Costa é neste momento, e muito mais que Passos Coelho, um homem sem rumo definido. Os portugueses não sabem qual é o seu projecto político e os militantes socialistas começam a perceber que o edil de Lisboa não é o D. Sebastião que alguma comunicação social idolatrou.

Enquanto o projecto político de Passos, concordemos ou não com o mesmo, assenta em duas ideias claras (conseguimos ter apenas um resgate, continuamos a necessitar de disciplina orçamental e alinhamento europeu com a Alemanha), as ideias do PS ainda estão por explicar. Criou-se a ideia, muito perigosa para qualquer líder da oposição, de que António Costa não tem projecto. É uma percepção que nasce, é importante constatar, dos vários erros acumulados por Costa nos últimos meses.

Teve uma estratégia de ziguezague ao manifestar-se disponível para falar com todos os partidos ao mesmo tempo que pedia maioria absoluta; comemorou a vitória da extrema--esquerda grega como passados poucos dias tinha vergonha de pronunciar o nome “Syriza”; defende uma alteração de regras do Tratado Orçamental e da contabilização do investimento público, que já era defendida por António José Seguro; como admite que não vale a pena apresentar propostas contra a Alemanha e a maioria dos países europeus.

António Costa baseia a sua oposição na ideia de que o governo empobreceu o país e quer o fim da austeridade. Muito bem. Como? Com crescimento. E quem financiará esse crescimento? O Estado. Ok. E quem empresta os fundos necessários a esse aumento de investimento público? A União Europeia e os mercados. E como, se em Portugal a dívida pública chega a cerca de 130% da sua riqueza e o país precisa desesperadamente de baixar esse valor para uma referência abaixo dos 100%?


Em vez de tentar explorar de forma tímida um caso, como o da segurança social de Passos Coelho, António Costa devia antecipar o mais rapidamente possível a apresentação de algumas ideias-chave do seu programa eleitoral. Lutar na lama não costuma trazer muitos votos – ao contrário das propostas políticas diferenciadas que permitem a Portugal crescer.

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