Grécia promete nova lista de
reformas, Juncker liberta fundos
MARIA JOÃO
GUIMARÃES e MIGUEL CASTRO MENDES (Bruxelas) 20/03/2015 – PÚBLICO
A mensagem de Bruxelas a Tsipras
foi simples: “Dêem-nos uma lista rapidamente, e o dinheiro chegará rapidamente.”
O Governo grego
comprometeu-se a apresentar uma nova lista de reformas depois de numa
minicimeira na quinta-feira em Bruxelas ter ficado claro que só haveria
financiamento adicional depois de medidas concretas.
A chanceler
alemã, Angela Merkel, disse que “cada parágrafo do acordo conta”, referindo-se
ao acordo com o Eurogrupo de 20 de Fevereiro em que o Governo liderado por
Alexis Tsipras prometeu reformas a ser detalhadas mais tarde em troca do
desembolso da última tranche do empréstimo da troika. A demora na concretização
destas reformas está a causar preocupação em Bruxelas e outras capitais
europeias e a deixar responsáveis a falar já não de uma Grexit, a saída da
Grécia do euro por decisão política, mas de um Grexident – uma saída
descontrolada com mal entendidos e pressões a levarem a um fim da liquidez do
país.
O tempo começa a
ser a maior preocupação: a Grécia não deverá ter verbas suficientes para chegar
a meio do próximo mês sem o dinheiro da última tranche do empréstimo, 7,2 mil
milhões de euros, cujo pagamento foi suspenso antes das eleições de Janeiro que
deram a vitória à esquerda de Tsipras. A mensagem de Bruxelas foi, no entanto,
simples, dizia um responsável sob anonimato à BBC: “Dêem-nos uma lista rapidamente,
e o dinheiro chegará rapidamente.”
Merkel mostrou
uma ligeira flexibilidade, dizendo que Atenas pode alterar como quiser a sua
lista de reformas – “o que é importante é que os números sejam os mesmos”, ou
seja, não haja diferenças de poupanças em relação ao anteriormente acordado.
Caso houvesse
mudanças, essas teriam de ser analisadas de novo pelo Eurogrupo, o que
atrasaria ainda mais o processo.
Tsipras
queixava-se após a cimeira que ultimatos e prazos apenas criavam mais pressão,
mas no dia seguinte responsáveis de Atenas e Bruxelas citados pelo Financial
Times antecipavam que dentro de sete a dez dias o Governo grego apresentará
estas medidas. Assim, poderia ser convocado um encontro de emergência do
Eurogrupo para a sua avaliação e decidir as condições dos pagamentos.
O primeiro-ministro
grego declarou ter saído do encontro muito mais animado, mas comentadores
apontavam que o que conseguiu foi ter-se sentado com um clube restrito de
decisores (a nível mais elevado do que as reuniões dos ministros as Finanças) e
beneficiado de algum baixar da tensão e retórica das últimas semanas.
O facto do
encontro ter decorrido apenas com a chanceler alemã, Angela Merkel, o
Presidente francês, François Hollande, para além do presidente do Conselho
Europeu, Donald Tusk, o líder da Comissão Europeia, Jean-Claude Juncker, o
líder do Banco Central Europeu Mario Draghi e o chefe do Eurogrupo Jeroen
Dijsselbloem e, claro, Alexis Tsipras, deixou, no entanto, furiosos vários
líderes de outros países da zona euro: à Bélgica juntaram-se protestos da
Holanda e do Luxemburgo.
Apesar disso, a
bolsa de Atenas registou uma subida no dia seguinte à minicimeira, que terminou
às 2h da manhã (menos uma hora em Lisboa).
Juncker desbloqueia dois mil
milhões
Também na
sexta-feira, o presidente da Comissão Europeia deu um pequeno presente à
Grécia: reconhecendo que o país sofre “uma crise humanitária”, Juncker disse
que poderia libertar “dois mil milhões de euros de 2015” de fundos europeus não
utilizados para Atenas. Esta verba não seria para entrar nos cofres do Estado grego
mas sim para “reforçar os esforços a favor do crescimento e da coesão social”,
por exemplo na luta contra o desemprego jovem. Já está a funcionar uma equipa
para que a Grécia possa aproveitar melhor fundos estruturais europeus.
Em Atenas,
Tsipras falou sobre a reunião e congratulou-se sobretudo pelo reconhecimento de
que a Grécia enfrenta uma “crise humanitária”. Quanto ao que foi acordado na
minicimeira, repetiu que não vão ser adoptadas medidas “de recessão”.
O próximo grande
dia na saga da crise da dívida grega é já segunda-feira, quando Tsipras visita
Merkel em Berlim.
Sem comentários:
Enviar um comentário