Joana Marques Vidal admite
existência de uma rede de corrupção instalada no Estado
MIGUEL SANTOS / 25/2/2015,
OBSERVADOR
Joana Marques Vidal, procuradora-geral da República, admitiu esta
terça-feira, em entrevista à RR e ao Público, que existe uma rede que
"utiliza o aparelho do Estado para realizar atos ilícitos".
A
procuradora-geral da República (PGR), Joana Marques Vidal, admitiu esta
terça-feira em entrevista à Renascença e ao Público, que existe “uma rede que
utiliza o aparelho do Estado e outro tipo de aparelhos da Administração Pública
para realizar atos ilícitos”, muitos na área da “corrupção”.
Desafiada a
comentar sobre uma eventual crise de regime, depois de vários casos de
corrupção terem sido tornados públicos envolvendo, alegadamente, altos quadros
da classe político-económica do país, Joana Marques Vidal começou por dizer que
não lhe competia “fazer análises de regime”, mas admitiu que existe uma rede de
corrupção instalada no Estado. Mais: a PGR apontou as áreas da “Saúde e da
contratação pública” como os terrenos mais férteis onde germinam este tipo de
casos.
O “Caso Marquês”
dominou também grande parte da entrevista. Joana Marques Vidal aproveitou para
afastar a hipótese de o Ministério Público (MP) se sentir de alguma maneira
condicionado pelas eleições legislativas que se avizinham. “O MP tem de atuar
de acordo com aquilo que a lei prevê. Não há os chamados timings políticos nem
os timings para as investigações”. Na prática, explicou a PGR, “se a acusação
tiver de coincidir com as eleições” assim acontecerá.
As questões
relacionadas com a violação do segredo justiça, não só no caso que envolve o
ex-primeiro-ministro, mas também noutros, foram alvo de críticas por parte de
Joana Marques Vidal. A PGR garantiu o MP está a tomar medidas para “limitar” e
travar as sucessivas fugas, mas admitiu que houve “alguns deslizes” de
magistrados e de outros responsáveis que conduziam investigações importantes.
Joana Marques
Vidal pronunciou-se ainda sobre o defecho do “Caso dos Submarinos” e deixou
críticas à forma como a Justiça se comportou. “O caso dos submarinos é daqueles
que dará uma imagem não muito simpática do MP, mas que envoleu também polícia
criminal, órgãos de perícia criminal e outras estruturas (…) O MP terá que
reconhecer que podia ter tido um desempenho mais adequado“, confessou a PGR.
Agora, o
importante é aprender com os erros e
tentar não repetir as falhadas cometidas no caso, sublinhou Joana Marques
Vidal. “É um caso que devemos analisar com calma. Ver onde houve passos menos
correctos e [fazer dele] um case study que nos permita melhorar a nossa
capacidade de investigação criminal”.
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