Divergência de rumos entre BCE e Fed aproxima euro da paridade com dólar
SÉRGIO ANÍBAL
11/03/2015 - PÚBLICO
Na zona euro, o banco central pôs as máquinas de imprimir dinheiro a
funcionar a alta velocidade. Nos EUA, a Reserva Federal prepara-se para tornar
o dinheiro mais caro. O resultado é um euro a valer pouco mais de 1,05 dólares
Os impactos da
política de compra de 60 mil milhões de euros de activos por mês iniciada pelo
BCE na segunda-feira continuam a fazer-se sentir de forma clara na zona euro. Os
títulos de dívida pública da generalidade dos países continuam a ver as suas
taxas a caírem e o euro continua a depreciar-se atingindo o valor mais baixo
dos últimos 12 anos face ao dólar.
Nesta
quarta-feira, os mercados obrigacionistas acentuaram a tendência das últimas
semanas de queda das taxas de juro da dívida pública europeia. Os bancos
centrais do Eurosistema, no cumprimento da estratégia delineada pelo Banco
Central Europeu (BCE), têm estado desde segunda-feira a comprar quantidades
significativas de dívida pública dos diversos Estados da zona euro. Este aumento
acentuado da procura tem como efeito natural uma subida do valor desses
títulos, a que corresponde uma descida das taxas de juro implícitas que se
praticam nos mercados.
Na Alemanha, a
taxas de juro da dívida a dez anos está já nos 0,21%. Com a dívida a cinco anos
já em terreno negativo, começa a colocar-se a hipótese de, num cenário
absolutamente inédito, a Alemanha passar a ser paga pelos investidores para
obter dinheiro emprestado a um prazo de dez anos.
As taxas de juro
que têm vindo a cair mais são as dos países periféricos. Nesta quarta-feira
desceram na primeira metade da sessão a um ritmo elevado, para depois
recuperarem parcialmente. Em Portugal, a taxa de juro da dívida a dez anos está
nos 1,620%, um pouco acima dos 1,157% de Espanha e dos 1,135% de Itália.
A dívida
portuguesa está a ser, como a dívida dos outros países da zona euro excepto a
Grécia, alvo de aquisições por parte do Eurosistema, neste caso por intermédio
do Banco de Portugal.
Mas para além da
descida dos juros da dívida pública, o maior impacto do programa de compra de
activos do BCE está a sentir-se na cotação do euro nos mercados internacionais.
A divisa europeia caiu mais 1% face à sua congénere norte-americana durante
esta quarta-feira, valendo agora pouco mais do que 1,05 dólares. Este valor já
é 12% mais baixo do que o registado no início do ano, depois de uma queda de
15% no decorrer de 2014.
E por isso, o
impensável há poucos meses começa agora a ser uma previsão bastante
generalizada de vários bancos de investimento: o euro pode chegar à paridade
com o dólar (um euro a valer um dólar) até ao final deste ano. No final de
2014, quando o Financial Times perguntou a 32 economistas europeus se a
paridade seria possível no decorrer do presente ano, 31 responderam que não. Nas
últimas semanas, são vários os bancos a reverem a sua previsão.
Isso acontece,
não só pela dimensão da queda do euro face ao dólar registada nos primeiros
meses de 2015, mas também porque as condições para uma continuada depreciação
da divisa europeia se mantém.
Em particular, o
que está a fazer descer o euro e a fazer subir o dólar são os rumos opostos que
estão a seguir as políticas monetárias nas duas maiores economias do planeta. Na
zona euro, o BCE está agora a imprimir dinheiro a grande velocidade, injectando
por mês mais 60 mil milhões de euros nos mercados. Nos EUA, depois de se ter
dado por concluído o programa de compra de activos, espera-se a todo o momento
que a Reserva Federal sinalize o início de uma subida das taxas de juro, que
desde 2008 estão coladas a zero.
Nesta
quarta-feira, numa entrevista ao Financial Times, o presidente da Reserva
Federal de St Louis, James Bullard, assumiu que uma subida de taxas está no
horizonte e disse que, embora haja o reconhecimento dos impactos sofridos pelas
empresas exportadoras norte-americanas com uma apreciação tão forte do dólar
(não só face ao euro) a Fed “irá deixar a taxa de câmbio ir até onde precisa de
ir para equilibrar os mercados internacionais”.
Why printing money won't work for Europe
The sums involved
are only a fraction of those spent elsewhere – and it’s all too late, anyway
By Jeremy Warner6:20AM GMT 23 Jan 2015 / http://www.telegraph.co.uk/finance/economics/11362615/Why-printing-money-wont-work-for-Europe.html
All of a sudden, the wonders of unconventional
monetary activism are back in the spotlight, with Mario Draghi, president of
the European Central Bank, cast in the role of knight in shining armour, riding
to the rescue of the beleaguered eurozone.
Only one thing is certain about the
apparently open-ended programme of quantitative easing promised yesterday after
months of ECB infighting; though quite a bit more ambitious than expected, in
itself it won’t do the job, or anything close.
This is not to argue that Mr Draghi’s
latest assault on Europe ’s never ending slump
is worthless. Without it, the eurozone would no doubt be in an even worse
place. Nor is it to argue that there will again be no economic growth in Europe this year. All economies, however broken, will
eventually rebound to some degree, if only in the manner of what stock market
pundits sometimes call a “dead cat bounce”.
Even so, the impact of this latest bout of
money printing is unlikely to be any more than marginal. If it were to be done
at all, it should have been done ages ago. For a long time now, the ECB has
fallen woefully short of meeting its mandated inflation target. Coming so late
in the day, the ECB’s contortions look both unconvincing and desperate. They
are indeed typical of the European condition – a seemingly permanent state of
grudging incrementalism and denial.
Ever since the financial crisis first
erupted six years ago, Western economies have leant heavily on their central
banks to dig them out of the mess they are in. They have become the world’s
de-facto growth strategy.
Interest rates have been slashed to zero
and the system has been flooded with newly printed money. There is nothing
wrong with monetary activism as such, but to believe it a panacea is to descend
into fantasy, and it has now almost certainly reached the limits of its
usefulness.
Real interest rates are already deep in
negative territory, and still they don’t seem to have solved the demand
problem. Short of “helicopter drops” of free money, a policy which would amount
to outright debasement of the coinage, there is little more monetary policy can
do.
With everyone now at it – in the hope of
stealing a little bit of demand from the guy next door – race-to-the-bottom,
competitive currency devaluation has become a zero sum game that intuitively we
all know is likely to end badly.
In any case, German aversion to use of the
central bank printing press means that the Eurozone has been slow to join the
party, and may already have missed the boat. The statistics on this are quite
startling. In the US ,
there has been $3.8 trillion of QE, a sum equivalent to 25 per cent of annual
GDP. Relative to output, it’s been roughly the same for the UK , while the equivalent number for Japan is an
astonishing 36 per cent of GDP.
For the eurozone, it’s a tiny 3 per cent.
Even after yesterday’s promise has been exhausted, the eurozone will still be
left trailing at little more than 10 per cent. Magnitude aside, there are lots
of other reasons for believing that coming so late in the day, eurozone QE will
have less impact than in the US and Britain.
In both these latter cases, QE contained a
large element of surprise, and what’s more, it was launched in the depths of
the financial crisis, when it was instrumental in stemming the panic.
Subsequent doses seem to have had far less traction.
If one of the purposes of QE is the assumed
extra demand that comes from currency devaluation, then again it’s not clear it
will do a great deal of good. Britain
gained virtually nothing in terms of net trade from the 25 per cent devaluation
in the pound that followed the financial crisis. Dollar weakness likewise
failed to have much of an impact on the US , where other factors, such as
low-cost energy from the shale revolution, have played a much bigger role in
turning the economy around.
Belief that the fast devaluing euro will provide
both a life-saving boost to European exports and a surge in free spending
tourism is similarly just wishful thinking. External demand will not solve Europe ’s economic ills, nor will a few more American
tourists. And it’s most unlikely that more Germans will holiday in Greece , Spain
and Italy
this year simply because of the weak euro. They share the same currency these
days, or did no one notice. This is rather the nature of the problem. The
market-based adjustment mechanism that free-floating currencies provide has
been lobotomised in Europe in the name of
sovereign integration.
The trouble is that having decided on a
common currency, Europe has failed to develop
the collective approach to fiscal policy needed to make it work. Crisis has
been almost deliberately courted in the hope of driving structural and fiscal
reform, but it has only succeeded in giving voice to radical populists, from Greece ’s Syriza to Spain ’s Podemos. Not since the
break up of Yugoslavia has Europe looked so dangerously unstable.
Into this quagmire stumbles the European
Central Bank, with a belated copycat version of what’s already been tried in
the US, Britain and Japan. There’s no one else to step up to the plate, so we
can only wish Mr Draghi luck. He must surely know, however, that it scarcely
amounts to a solution.
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