Manuel Alegre exige a Costa que
peça demissão de Passos
Histórico socialista repreende o PS por ainda não ter exigido a demissão de
Passos Coelho na sequência das dívidas à segurança social. Manuel Alegre diz ao
DN que está "perplexo" com a falta de ação.
RITA DINIS /
6-3-2015 / PÚBLICO
O histórico
socialista Manuel Alegre não compreende como é que o PS, PCP e Bloco de
Esquerda, ainda não exigiram a demissão do primeiro-ministro na sequência dos
casos tornados públicos de dívidas antigas à segurança social. Em declarações
ao Diário de Notícias, Alegre mostra-se “perplexo” e defende que Passos já
devia ter sido “confrontado pelo PS e pelos outros partidos da esquerda perante
a obrigação ética e política de se demitir”.
Segundo o
conselheiro de Estado socialista, a ideia que fica é que Passos “beneficia de
uma absoluta impunidade política”, já que “em qualquer outro país democrático”
a demissão seria o primeiro cenário a ser posto em cima da mesa. E não vai tão
longe, lembrando outros casos que aconteceram em solo nacional, como o episódio
em que o então ministro da Defesa António Vitorino (PS) se demitiu por alegadas
irregularidades no pagamento da sisa.
Manuel Alegre é
um dos pesos mais pesados na ala mais à esquerda do Partido Socialista e não é
a primeira vez que deixa recados ao PS, pedindo uma intervenção mais aguerrida
e eficaz no combate às políticas de austeridade aplicadas pelo atual Governo. A
última vez foi na sequência da polémica declaração de António Costa perante uma
plateia de representantes da comunidade chinesa em Portugal, onde Costa disse
que o país estava “muito diferente” face há quatro anos. Nessa altura, em
declarações também ao DN, Alegre chegou a afirmar que o secretário-geral
socialista devia-se bater mais por uma “rutura total” com a austeridade.
Sobre a forma
como Passos Coelho reagiu ao caso, fazendo uma intervenção de defesa pela via
do ataque à margem das jornadas parlamentares, no Porto, Alegre acusa o
primeiro-ministro de ter posto em causa o princípio da presunção da inocência
de José Sócrates. No seu discurso, Passos usou implicitamente o exemplo do
ex-primeiro-ministro, preso por suspeitas de corrupção e fraude fiscal, para
dizer que ele, apesar de não ser “perfeito”, nunca usou o “cargo para
enriquecer”. Um argumento que faz parecer que [Passos] quer “transformar um
caso judicial num caso político”, ao contrário do que tem dito até aqui.
Esta tem sido, de
resto, a opinião generalizada que corre dentro do PS, com os socialistas a
defenderem o fundamento da carta enviada ontem por Sócrates às redações do DN,
TSF e Jornal de Notícias. “[Sócrates] ficou indignado com o facto de o
primeiro-ministro ter violado um direito constitucional, que é o da presunção
da inocência”, disse aos jornalistas Eduardo Ferro Rodrigues, depois de ter
garantido que as dívidas de Passos não foi tema abordado na reunião de ontem da
bancada.
Afinal, Alfredo
Barroso preferia Seguro
Também o
histórico fundador Alfredo Barroso, que se desfiliou do PS na semana passada,
na sequência da polémica “chinesice” de Costa, seguiu a mesma linha de Alegre. Em
entrevista à Antena 1 esta sexta-feira, o socialista afirmou que não entende o
silêncio do PS nesta altura, e que está “dececionado” com os primeiros cem dias
de António Costa à frente do PS.
“Acho que ele
[António Costa] tinha a obrigação de dizer qualquer coisa muito clara, nem que
fosse para dizer que sobre estas matérias não comento. O que seria sempre um
pouco incompreensível, visto que os olhos do país estão concentrados nestes
problemas sério do primeiro-ministro que, noutros países, já teriam dado
certamente origem a um pedido de demissão”, disse.
E em jeito de
balanço dos primeiros cem dias de mandato de Costa à frente do PS, Alfredo
Barroso, que apoiou o autarca nas primárias, diz agora ter dúvidas sobre se,
afinal, António José Seguro não teria dado um melhor candidato para as eleições
deste ano. “Hoje já não sei se ele [Costa] será melhor do que seria António
José Seguro, que eu tanto ataquei e que hoje se deve estar a rir. Não me
arrependo mas estou dececionado com estes 100 dias do António Costa”, afirmou
àquela rádio.
A dimensão da
deceção mede-se pelas sondagens, diz Barroso, que não mostram o PS a
protagonizar qualquer “abanão” político como se pensaria aquando da eleição de
um novo líder. O histórico socialista diz que ainda acredita na vitória do PS
nas eleições, mas apenas por “exclusão de partes”, “por entrada em estado de
coma dos partidos que estão no poder”. Mas ressalva: “embora o PS também esteja
em estado de coma…”. Está tudo em aberto, diz.
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