OPINIÃO
Lisboa: Costa lança austeridade sobre austeridade
ANTÓNIO FONSECA FERREIRA 08/08/2014 - PÚBLICO
Foi, recentemente, noticiado que a Câmara Municipal de Lisboa (CML),
presidida por António Costa, vai lançar uma nova taxa sobre os resíduos sólidos
urbanos (RSU).
“Faz o que eu
digo, não faças o que eu faço” é um velho aforismo popular que se aplica que
nem uma luva ao posicionamento de Costa candidato às Primárias do Partido
Socialista e à sua gestão como presidente da CML. Em declarações ao PÚBLICO
(19/07/2014), Costa informava que a criação da taxa sobre os RSU é uma
imposição da Entidade Reguladora dos Serviços das Águas e Resíduos (ERSAR),
obrigando à separação entre a taxa de saneamento e a taxa dos RSU. No município
de Lisboa tem vigorado uma taxa única (mais rigorosamente, trata-se de tarifas)
para os dois serviços. Na mesma ocasião,
António Costa acrescentou que a factura para os lisboetas sofrerá “um aumento
líquido mínimo”.
Esclareça-se
devidamente esta questão. Em primeiro lugar, a determinação da ERSAR é no
sentido de ser feita uma separação das taxas, mas não impõe o seu aumento. Este
aumento, um imposto mais sobre os lisboetas, é uma opção da gestão de António
Costa. E quanto ao “aumento mínimo”, veremos. Tudo é relativo. De qualquer
modo, Costa confirma o aumento dos encargos para os munícipes.
É flagrante a
contradição entre Costa candidato a primeiro-ministro e Costa presidente e
gestor da autarquia lisboeta. Costa tem criticado o Governo pelo excesso de
austeridade e de impostos, e tem defendido o respectivo alívio num futuro
governo socialista. Contudo, numa situação em que a população do país, que
integra os munícipes da capital, está fortemente castigada com a austeridade e
os impostos do Governo, Costa lança mais um imposto, agrava a austeridade para
os lisboetas.
E não tem de ser
assim. É natural que tenha de haver taxas para fazer face aos encargos com a
prestação de serviços aos munícipes, como é o caso da recolha e do tratamento
dos resíduos urbanos. Mas o montante dos encargos que os munícipes suportam
está relacionado com a organização e gestão da entidade prestadora dos
serviços, neste caso a CML. Ora é (re)conhecido o excesso de serviços, de
instalações, de viaturas, de funcionários, de assessores e de consultores, na
CML. Ou seja: António Costa tem à sua disposição uma extraordinária margem para
redução das despesas de funcionamento do município, evitando assim o lançamento
de mais impostos e podendo, mesmo, desse modo, obter recursos para investimento
na qualificação da cidade, como requerem, por exemplo, a pavimentação dos
arruamentos (tapar os buracos) e a limpeza e higiene urbanas.
Mas António
Costa, na boa tradição da (má) gestão política e administrativa portuguesa,
opta pelo aumento dos impostos (taxas, neste caso) em vez de racionalizar e
cortar na despesa.
Ainda, um
pormenor curioso: na referida notícia, o vereador das Finanças, Fernando
Medina, aponta o mês de Outubro para a entrada em vigor da referida taxa. Anote-se:
as eleições primárias do PS, nas quais Costa é candidato, realizam-se em 28 de
Setembro...
Urbanista, munícipe de Lisboa
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