Mais de 700 assinaturas para
salvar brasões das ex-colónias da Praça do Império
A autarquia
considera os brasões das ex-colónias ultramarinas portuguesas “estão
ultrapassados” e que são “símbolos do colonialismo”
SOL online
Está instalada
mais uma polémica em torno dos espaços verdes em Lisboa. Em causa está, agora,
o bucho do jardim da Praça do Império, em frente ao Mosteiro dos Jerónimos, que
o vereador dos Espaços Verdes da Câmara Municipal de Lisboa (CML) anunciou não
pretender recuperar.
Citado pelo
Público, Sá Fernandes asseverou, terça-feira, que a autarquia não iria
reabilitar as composições florais que reproduzem os brasões das ex-colónias
ultramarinas portuguesas – e que decoram um friso em torno da Fonte Monumental
da Praça do Império – por considerar que “estão ultrapassados” e que são “símbolos
do colonialismo”.
As críticas não
pararam de subir de tom e, ontem, a Associação de Defesa do Património de
Lisboa (ADPL) organizou uma manifestação pacífica que reuniu 50 pessoas na
limpeza daquele jardim próximo dos Jerónimos, para chamar a atenção para a
“falta de manutenção” a que o espaço, visitado por milhares de turistas, “tem
estado votado” e contra aquilo que a responsável da APDL, Aline Beuvink,
considera ser “uma leitura errada” do que é o valor do património da cidade:
“Os países não deixam de ser irmãos por causa dos brasões existirem ali. Os
brasões são parte da história, da nossa memória”, defende. Entretanto, a
petição online lançada pela Preservação do jardim da Praça do Império soma já
mais de 700 assinaturas.
Câmara ‘não pode
destruir património’
“Ontem, enquanto
limpávamos as ervas daninhas que se tinham acumulado sobre as sebes,
aproximaram-se pessoas de Goa, por exemplo, e consideraram absurdo alguém fazer
esta leitura política. Tem de haver um limite entre as ideologias e o legado
patrimonial que nos foi deixado. E o senhor vereador parece desconhecer esse
limite”, argumenta Aline Beuvink, explicando que “não está em causa a defesa ou
não da ideologia do Estado Novo, mas da arte, do património que é de todos.
Houve um arquitecto português – que, aliás é uma figura grande da história da
arquitectura portuguesa –, Cortinelli Telmo, que desenhou aquele espaço”.
“A Câmara não
pode, pura e simplesmente, chegar lá e destruir tudo”, indigna-se ainda a
historiadora, temendo que este tipo de decisões impliquem a abertura de um
“precedente perigoso”. “A Praça D. José [no Terreiro do Paço] foi mantida por
ser um símbolo da monarquia absolutista. Faz parte do património cultural de
Lisboa. Deveríamos destruí-la também?”, ironiza, questionando o facto de a CML
não ter em conta o contexto em que os brasões foram projectados.
Reagindo às
críticas de que tem sido alvo, o gabinete de Sá Fernandes, esclareceu,
quarta-feira, em nota enviada às redacções, que a CML “está a terminar um
estudo para, finalmente, recuperar os elementos ornamentais feitos em flores e
arbustos que em tempos adornaram o Jardim da Praça do Império” e que “os
brasões e outros elementos e arranjos ornamentais, como brasões dos distritos
portugueses, da Cruz de Cristo, do Escudo Português, serão recuperados, repondo
o seu desenho original”. Mas a CML “não irá despender recursos financeiros a
recuperar os brasões criados pelo Estado Novo das antigas colónias portuguesas
e que há muito não existem, nem sequer como arranjos florais no local”,
insistiu.
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