CDS-PP exige que câmara vote o
fim dos brasões coloniais no Jardim da Praça do Império.
Câmara desencadeou ontem uma intervenção
de emergência para dar melhor aspecto ao jardim em frente aos Jerónimos
O vereador do CDS-PP na Câmara de Lisboa, João Gonçalves Pereira, exigiu
ontem que a decisão de acabar com os brasões das ex-colónias, talhados em buxo,
que há mais de 50 anos decoram o Jardim da Praça do Império, seja discutida e
votada na próxima reunião do executivo.
Marisa Soares /
29-8-2014
Numa carta
enviada ao presidente da câmara, António Costa, o vereador da oposição
considera que “este é um assunto cuja gravidade não permite que seja tratado
com leviandade e ligeireza, ou à margem do processo deliberativo democrático a
nível autárquico”. Gonçalves Pereira diz mesmo que a opção pela não-discussão
do tema em reunião camarária “revela uma certa ideia de ‘quero posso e mando’
que não respeita as próprias regras da cultura”. Por isso, exige a “suspensão
imediata de todas as decisões ou obras que visem alterar o jardim” e pede que a
câmara solicite à Direcção-Geral do Património Cultural pareceres sobre a
decisão e sobre as suas consequências para aquela zona classificada.
Na quarta-feira,
em comunicado emitido pelo gabinete do vereador dos Espaços Verdes, José Sá
Fernandes, a autarquia confirmou o que já tinha sido noticiado pelo PÚBLICO. “A
Câmara de Lisboa não irá despender recursos financeiros a recuperar os brasões
criados pelo Estado Novo das antigas colónias portuguesas e que há muito não
existem, nem sequer como arranjos florais no local.”
Segundo o
comunicado, apesar de os brasões das ex-colónias não serem
Este era o
aspecto que o jardim tinha anteontem à tarde recuperados, Sá Fernandes pretende
recuperar os restantes, alusivos aos distritos portugueses e à Cruz de Cristo,
entre outros. O vereador acrescentou que os desenhos dos brasões em buxo e
flores “há cerca de 20 anos que não eram intervencionados, sendo que alguns já
nem existem no local, total ou parcialmente”. A nota não refere quando será
feita a recuperação dos brasões.
Embora o
comunicado garanta que o espaço “é mantido pela equipa de jardineiros da Câmara
de Lisboa, que diariamente zela pelo local”, logo pela manhã de ontem, a
autarquia mobilizou duas dezenas de pessoas para uma intervenção de emergência
centrada nos canteiros dos brasões.
Supervisionados
por vários responsáveis dos serviços de Espaços Verdes e com a presença do
próprio Sá Fernandes e de membros do seu gabinete, os jardineiros desmataram
durante todo o dia os canteiros em que o abandono era mais notório, servindo-se
de várias carrinhas de caixa aberta para depositar as ervas cortadas e
arrancadas.
A decisão de não
recuperar o jardim e os argumentos invocados por Sá Fernandes — os brasões das
ex-colónias estão “ultrapassados” e “não faz sentido mantê-los” — causaram
“perplexidade” ao vereador do CDS-PP. “Tal decisão parte de um princípio
político errado e enganador, segundo o qual os brasões ajardinados representam
ou vinculam Portugal a símbolos coloniais”, afirma Gonçalves Pereira na carta
enviada a António Costa, a quem acusa, juntamente com Sá Fernandes, de estarem
“equivocados”.
“Se esse critério
ideológico fosse seguido, chegaríamos ao absurdo de esconder os Jerónimos —
monumento da expansão de Portugal — ou ignorar a Torre de Belém — símbolo dos
Descobrimentos — ou ainda riscar das paredes as pinturas do salão nobre da
Assembleia da República — alusivas ao ciclo imperial — ou ter vergonha dos
brasões do antigo Banco Nacional Ultramarino e hoje excelente Museu de Design,
apenas para mencionar quatro exemplos”, diz o vereador da oposição.
Em protesto
contra os planos da autarquia surgiu já uma petição online pela preservação do
jardim.
Sem comentários:
Enviar um comentário