quinta-feira, 28 de agosto de 2014

CDS-PP exige que câmara vote o fim dos brasões coloniais no Jardim da Praça do Império. Câmara desencadeou ontem uma intervenção de emergência para dar melhor aspecto ao jardim em frente aos Jerónimos.


CDS-PP exige que câmara vote o fim dos brasões coloniais no Jardim da Praça do Império.
Câmara desencadeou ontem uma intervenção de emergência para dar melhor aspecto ao jardim em frente aos Jerónimos

O vereador do CDS-PP na Câmara de Lisboa, João Gonçalves Pereira, exigiu ontem que a decisão de acabar com os brasões das ex-colónias, talhados em buxo, que há mais de 50 anos decoram o Jardim da Praça do Império, seja discutida e votada na próxima reunião do executivo.
Marisa Soares / 29-8-2014

Numa carta enviada ao presidente da câmara, António Costa, o vereador da oposição considera que “este é um assunto cuja gravidade não permite que seja tratado com leviandade e ligeireza, ou à margem do processo deliberativo democrático a nível autárquico”. Gonçalves Pereira diz mesmo que a opção pela não-discussão do tema em reunião camarária “revela uma certa ideia de ‘quero posso e mando’ que não respeita as próprias regras da cultura”. Por isso, exige a “suspensão imediata de todas as decisões ou obras que visem alterar o jardim” e pede que a câmara solicite à Direcção-Geral do Património Cultural pareceres sobre a decisão e sobre as suas consequências para aquela zona classificada.
Na quarta-feira, em comunicado emitido pelo gabinete do vereador dos Espaços Verdes, José Sá Fernandes, a autarquia confirmou o que já tinha sido noticiado pelo PÚBLICO. “A Câmara de Lisboa não irá despender recursos financeiros a recuperar os brasões criados pelo Estado Novo das antigas colónias portuguesas e que há muito não existem, nem sequer como arranjos florais no local.”
Segundo o comunicado, apesar de os brasões das ex-colónias não serem
Este era o aspecto que o jardim tinha anteontem à tarde recuperados, Sá Fernandes pretende recuperar os restantes, alusivos aos distritos portugueses e à Cruz de Cristo, entre outros. O vereador acrescentou que os desenhos dos brasões em buxo e flores “há cerca de 20 anos que não eram intervencionados, sendo que alguns já nem existem no local, total ou parcialmente”. A nota não refere quando será feita a recuperação dos brasões.
Embora o comunicado garanta que o espaço “é mantido pela equipa de jardineiros da Câmara de Lisboa, que diariamente zela pelo local”, logo pela manhã de ontem, a autarquia mobilizou duas dezenas de pessoas para uma intervenção de emergência centrada nos canteiros dos brasões.
Supervisionados por vários responsáveis dos serviços de Espaços Verdes e com a presença do próprio Sá Fernandes e de membros do seu gabinete, os jardineiros desmataram durante todo o dia os canteiros em que o abandono era mais notório, servindo-se de várias carrinhas de caixa aberta para depositar as ervas cortadas e arrancadas.
A decisão de não recuperar o jardim e os argumentos invocados por Sá Fernandes — os brasões das ex-colónias estão “ultrapassados” e “não faz sentido mantê-los” — causaram “perplexidade” ao vereador do CDS-PP. “Tal decisão parte de um princípio político errado e enganador, segundo o qual os brasões ajardinados representam ou vinculam Portugal a símbolos coloniais”, afirma Gonçalves Pereira na carta enviada a António Costa, a quem acusa, juntamente com Sá Fernandes, de estarem “equivocados”.
“Se esse critério ideológico fosse seguido, chegaríamos ao absurdo de esconder os Jerónimos — monumento da expansão de Portugal — ou ignorar a Torre de Belém — símbolo dos Descobrimentos — ou ainda riscar das paredes as pinturas do salão nobre da Assembleia da República — alusivas ao ciclo imperial — ou ter vergonha dos brasões do antigo Banco Nacional Ultramarino e hoje excelente Museu de Design, apenas para mencionar quatro exemplos”, diz o vereador da oposição.

Em protesto contra os planos da autarquia surgiu já uma petição online pela preservação do jardim.

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