OPINIÃO
A geringonça
VASCO PULIDO
VALENTE 31/08/2014 - PÚBLICO
António Costa e António José Seguro não vão ganhar nada, excepto um partido
desorganizado e dividido
António Costa e
António José Seguro não vão ganhar nada, excepto um partido desorganizado e
dividido. Nesta longa campanha de verão, nenhum deles se conseguiu explicar. Fora
a repetição dos lugares comuns da seita e alguns disparates que foram buscar à
extrema-esquerda, não disseram uma palavra capaz de esclarecer ou de
entusiasmar o “eleitorado” dessas desgraçadas “primárias” para
“primeiro-ministro”, sem regras claras, nem objectivos definidos. No meio da
confusão, só se percebeu que António José Seguro se recusa a sair e que António
Costa quer entrar. Os dois perderam o seu tempo a trocar insinuações de velha
azeda e mal disposta, que não resiste a espicaçar os vizinhos. Os jornais, de
quando em quando, falam em “diferenças” entre eles. Mas na realidade não há
diferenças que se vejam.
António Costa,
quando apareceu, tinha uma fama de homem sereno e reflectido, criada num
programa de televisão, em que quase não abria a boca e deixava confortavelmente
a berrata a Pacheco Pereira. Faziam um excelente par. Pacheco Pereira ficava
com a indignação e o excesso e António Costa com a prudência de estadista. Infelizmente,
na propaganda das primárias (nas suas voltinhas de candidato que em Portugal
nunca variam) está sempre rodeado por um bando de jornalistas sem senso à
procura de uma frase ou de uma notícia; e a oportunidade para se aliviar de
altos pensamentos é nula, tanto mais que na cabeça dele convivem ideias vagas e
mutuamente exclusivas: a da maioria absoluta e a do entendimento com a esquerda
radical, por exemplo, ou a da “negociação” com a “Europa” contra Merkel e
Hollande.
Entretanto, as
“primárias” de Seguro em vez de o aliviarem, como ele julgava, só lhe trouxeram
desgostos. Primeiro, a trafulhice das cotas pagas por defuntos e mais
categorias de ausentes. Segundo, a radical ambiguidade do conceito eleitoral de
“simpatizante”. E, terceiro, a licença ecuménica aos maníacos da política para
meterem o bico onde não são chamados. Peregrinando pelos tristes cafés da
província adormecida, bem longe dos “festivais” de música, gastronomia e
artesanato, Seguro recita as fórmulas do costume, sem acrescentar uma única
variação ao breviário. O país que o ouviu, já não o ouve. O eleitor médio de
qualquer partido reforça a sua compreensível repugnância em votar nele, e
sobretudo para “primeiro-ministro”. Mas começa também a fugir da gerigonça a
que se chama PS.
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