PSD considera que
Rui Moreira é o chairman da Câmara do Porto e Manuel Pizarro o CEO
(administrador executivo)
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EDITORIAL / PÚBLICO / 20-8-2014
O laboratório do Porto está a
aquecer
Rui Moreira gere a mais complexa aliança da história do Porto. O fim da
história é maior do que a cidade
Eleito há um ano
com 40% dos votos, o novo presidente da Câmara do Porto, Rui Moreira, gere
aquilo que, visto como um desenho, parece um puzzle impossível de montar ou um
quadro de M.C. Escher, o artista holandês famoso pelas suas construções
impossíveis. Na Câmara do Porto, como nos quadros de Escher, as possibilidades
são infinitas. Nenhuma grande cidade portuguesa é gerida por um “governo” tão
complexo. De entre os seus vereadores com pelouros executivos, Moreira tem
colegas que são ex-PSD, que são actuais PS e actuais CDS e independentes. Como
ele. Nesta aliança nunca vista, uma espécie de híbrido excêntrico, até a sua
vice-presidente trabalhou directamente com Rui Rio, o anterior presidente, um
social-democrata cujo futuro é uma incógnita. O que está a acontecer no Porto é
um laboratório vivo. Nunca foi experimentado em Portugal a esta escala. Não é
apenas novo o facto de a segunda maior cidade ter sido ganha por um homem que
não vem de nenhum partido. É inovador o sistema de alianças que forjou. Moreira
foi eleito com o apoio formal do CDS, mas poucas semanas depois de ganhar
incluiu o PS na gestão da autarquia e fez um acordo de governação.
Derrotado como
nunca no Porto, o PSD tenta agora renascer das cinzas deixadas pelos 21% de
votos de Menezes. Vai tentar dividir o que está à partida dividido. Vai tentar
puxar para si o CDS, que é seu parceiro nacional. Não tem um nome forte para
derrotar Moreira, cuja frescura ainda perdura. Mas sabe que a frescura não é
eterna. Por onde vai Moreira sair nesta complexa escadaria de Escher? Se o seu
governo der certo, se melhorar a vida da cidade e encontrar respostas para os
problemas, a sua estranha amálgama ideológica incentivará independentes e
fragilizará as velhas máquinas partidárias. Se falhar,
perdemos todos. Não apenas o Porto .
PSD defende entendimento com CDS
para derrotar Rui Moreira em 2017
Democratas-cristãos, que apoiaram
actual presidente da Câmara do Porto, não fecham a porta a um entendimento com
o parceiro da coligação, mas dizem que ainda é cedo para discutir as
autárquicas
O PSD
considera que Rui Moreira está a cometer um “erro político” ao dar poder a
Manuel Pizarro
Margarida Gomes /
20-8-2014 / PÚBLICO
Onze meses após a
eleição do independente Rui Moreira, o PSD começa a pensar numa candidatura
alternativa ao actual presidente da Câmara do Porto. As próximas eleições
autárquicas só vão realizar-se em 2017, mas o PSD entende que esta é a altura
para começar a preparar o próximo combate e bater-se-á para encontrar um
candidato forte que protagonize uma candidatura que envolva também o CDS.
“Gostaria que
houvesse condições políticas no futuro para que o PSD e o CDS se entendessem e
tivessem um relacionamento político normal como sempre tiveram na cidade do
Porto”, declarou ao PÚBLICO o presidente da comissão política concelhia do PSD,
Miguel Seabra. “Estamos juntos no Governo, estivemos juntos nas recentes
eleições para o Parlamento Europeu e faria sentido que, no futuro, CDS e PSD se
entendessem relativamente às eleições autárquicas”, defendeu Miguel Seabra.
O CDS não fecha a
porta a uma eventual coligação com o parceiro do Governo para a Câmara do
Porto, todavia, considera que é um pouco cedo para o partido se concentrar já
na questão das autárquicas. Até porque o CDS foi o único partido que apoiou a
candidatura de Rui Moreira ao Porto. No entanto, fonte do CDSPorto declarou que
o parceiro natural dos democratas-cristãos é o PSD. “Com muito mais facilidade
fazemos um entendimento com o PSD préeleitoral para governar a Câmara do Porto
do que com o PS”, disse a mesma fonte, convicto de que Moreira será de novo
candidato em 2017.
Eleito sem
maioria absoluta, Rui Moreira optou por fazer um acordo com o PS com duração de
quatro anos que “visa garantir a governabilidade estável, eficiente e
competente na cidade do Porto e, mais especificamente, na Câmara Municipal do
Porto, na assembleia municipal e nas juntas de freguesia”. Mas, no executivo,
houve quem reprovasse a opção do presidente e pouco depois começavam as
primeiras desavenças.
O primeiro ano de
mandato de Rui Moreira tem nota negativa para o PSD, que considera que o “presidente
está a cometer um erro político” ao entregar a gestão da autarquia ao primeiro
vereador socialista no executivo, Manuel Pizarro.
Fonte socialista
rejeita as acusações e afirma: “O PS, para cada problema, tenta encontrar uma
solução; o mesmo não acontece com alguns vereadores, que arranjam problemas e
não soluções”.
“Notoriamente,
Manuel Pizarro está muito mais por dentro das coisas e tem um pelouro
[Habitação e Acção Social] com muita visibilidade e, nessa perspectiva, podemos
dizer que temos um chairman [Rui Moreira], na lógica de uma empresa, e um CEO,
que é o administrador executivo, que é Manuel Pizarro”, afirma o vereador
independente eleito na lista do PSD, Ricardo Valente.
Existe o receio
que o clima de crispação que se instalou entre o presidente e Guilhermina Rego
e Sampaio Pimentel, os dois vereadores que integraram o anterior executivo de
Rui Rio e que o apoiaram na corrida à Câmara do Porto, se venha a acentuar.
Sampaio Pimentel,
número dois no executivo, é acusado de ter posições “muito radicais” e esta
postura tem-lhe valido algumas desautorizações, mas o vereador do CDS não
pretenderá desviar-se um milímetro que seja das suas convicções políticas. O
episódio mais recente tem a ver com as salas de consumo assistidas, um tema que
a autarquia está a estudar, mas que merece a total reprovação do autarca do
CDS.
Há pouco mais de
uma semana, estalou uma nova polémica relacionada com a nomeação do coreógrafo
Tiago Guedes para director de programação do Teatro Municipal, que inclui o
Rivoli e o Teatro do Campo Alegre. Neste caso, a despesa foi feita pelo
presidente da distrital do CDSPorto, Álvaro Castello-Branco.
As declarações do
ex-vice-presidente de Rui Rio e actual administrador da Águas de Portugal
desagradaram profundamente a Rui Moreira, que acabaria por desmarcar uma
reunião que tinha agendada com Castello-Branco para o dia seguinte.
Em declarações à
Lusa, CastelloBranco acusou o recém-nomeado director de programação de
“arrogância” pelas “considerações políticas” que fez enquanto trabalhador
“avençado da Câmara Municipal do Porto”. Em causa está a entrevista de Tiago
Guedes ao PÚBLICO na qual afirmou que o Teatro Rivoli “não tem sido bem
cuidado” e foi deixado “em muito mau estado pelo Filipe La Féria”. Na altura,
criticou a “inexistência de uma política cultural” na cidade nos últimos anos.
Em cima da mesa
está agora a privatização da Sociedade de Transportes Colectivos do Porto, um
assunto que também não é pacífico a nível do executivo. Há vereadores que
consideram que a câmara decidiu concorrer porque, uma vez mais, Pizarro
convenceu o presidente. Para alguns, “a privatização da STCP representa um
embaraço gigantesco para o Governo, mas sobretudo para o CDS”, porque o assunto
está sob a tutela do ministro Pires de Lima.
O PÚBLICO tentou
contactar Rui Moreira, sem sucesso.
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