BES/GES um caso cada vez mais opaco
Por Eduardo
Oliveira Silva
publicado em 13
Ago 2014 in
(jornal) i online
É urgente e
essencial para se saber o mínimo indispensável convocar uma comissão de
inquérito parlamentar
Cada dia que
passa são mais perturbadoras as notícias sobre o futuro de tudo o que envolve o
ex-império Espírito Santo, começando até pelo sucedâneo chamado Novo Banco,
ontem mesmo já considerado lixo pela influente Moody's.
Relativamente à
parte GES, ou seja, a teia empresarial montada em holdings e unidades de toda a
espécie, a situação é clara. Parte das empresas quando analisadas
individualmente estão falidas ou em graves dificuldades financeiras. Não
sobreviverão aquelas, e não são poucas, que operavam frequentemente em circuito
fechado dentro do grupo, o que as desvaloriza e lhes retira mercado.
Obviamente também
haverá algumas que sobreviverão uma vez isoladas. No entanto, terão de passar por
um crivo que começa na averiguação da situação económica e financeira e acaba
na reconsideração dos gestores e directores de cada uma, sendo certo que até às
decisões finais se assistirá ao habitual rol de traições, cortes de cabeça e
saneamentos, sejam eles fundamentados ou não. Há gente sem culpa que vai pagar
e culpados que vão escapar. O costume no planeta dos homens. As ocorrências
serão muitas
e certamente
algumas bem feias. Primos e primas não terão um cartão de acesso privilegiado
ao que quer que seja, mas é preciso criar mecanismos para evitar perseguições
de sentido inverso, embora essa probabilidade seja baixa.
Uma das
realidades lamentáveis com que nos confrontamos todos os dias neste caso tem a
ver com as revelações a conta-gotas que cada cidadão tende a analisar como uma
verdade absoluta e definitiva, mas que, normalmente no dia seguinte, se
configura como apenas uma minúscula parcela de uma verdade complexa que talvez
nunca se deslinde, como sucedeu em casos semelhantes em Portugal ou no estrangeiro.
E aqui não vale a pena citar o caso Madoff como excepção porque na realidade
dele nada se sabe, a não ser que o seu alegado chefe levou mais de cem anos de
cadeia porque se auto-incriminou.
Quem, por
exemplo, sabia segunda-feira que o Banco de Portugal se tinha visto na
contingência de injectar 3500 milhões de emergência no BES? Por que razão um
dado tão significativo e que envolve responsabilidade directa dos contribuintes
só foi conhecido ontem?
Como interpretar,
ainda hoje, tantas declarações destinadas a tranquilizar cidadãos mais ou menos
incautos a propósito da situação do BES? Isto quando na realidade teria sido
altamente desejável uma atitude menos crédula para detectar as manobras que
estavam em curso entre o anúncio do nome de Vítor Bento e a saída de Salgado? E
já agora porque não se esclarece se efectivamente quem estava à frente do banco
nesse período tinha legitimidade para assinar cartas de conforto de 800 milhões
de dólares? Tinha mesmo? Venha a explicação.
Como ontem
afirmava Jorge Coelho, há muito por contar sobre o assunto (BES) e também sobre
a PT. Com o seu ar bonacheirão, Coelho está cheio de razão. Há realmente muito
para contar, mas haja quem o faça.
Para tal era
fundamental um escrutínio rápido e minimamente fiável de tudo isto. Como a via
judicial não funciona ou é lenta, como os supervisores estão excessivamente
envolvidos para poder ser preclaros, como os media não têm mecanismos
suficientes, talvez a única solução aceitável seja aprovar rapidamente uma
comissão de inquérito parlamentar, que se reúna quanto antes para fazer alguma
luz sobre uma situação que diariamente se torna mais confusa e opaca.
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