LISBOA
A guerra entre táxis e tuk-tuk
está a aquecer – e não tem fim à vista
JOÃO PEDRO PINCHA
/ 20/8/2014 / OBSERVADOR
Os tuk-tuk estão a ganhar cada vez mais popularidade entre os turistas. Mas
não junto dos taxistas, que acusam os novos meios de "concorrência
desleal". E a câmara não sabe quantos veículos há.
A mulher de
Javier está maravilhada. “Então e um pastelinho de Belém, não há?”, pergunta,
depois de saber que o tuk-tuk onde ela, o marido e dois filhos vão fazer um
passeio lhes oferece uma garrafa de água pelo percurso de uma hora. Eles e
outros familiares, vindos de Granada, chegaram à Praça da Figueira e
dirigiram-se imediatamente aos mais recentes veículos turísticos da capital. Os
tuk-tuk são uma espécie de triciclo a motor com um número variável de lugares
que estão a ganhar cada vez mais popularidade entre os turistas estrangeiros. Para
Javier, a escolha foi “natural”. “Pareceu-nos mais cómodo e original”, explica,
referindo que, por onde o tour vai passar – as ruas estreitas da Mouraria –
nenhum autocarro passaria.
“Isto é ‘bué’ de
giro”, afirma uma muito entusiasmada Camila, motorista de tuk-tuk da empresa
Tuk Guide Portugal, que é a que vai levar Javier e a família a conhecer a
Lisboa medieval. A alegria do seu discurso reflete aquilo que diz ter sido uma
das grandes vantagens da chegada dos tuk-tuk à cidade: a possibilidade de os
turistas fazerem passeios com pessoas jovens, que falam várias línguas e que
têm formação específica para falar sobre os locais históricos de Lisboa. Algo
que muitos taxistas não têm, pelo que Camila rejeita as acusações que as
associações de táxi têm feito a este meio de transporte.
Joaquim Martins,
taxista com pouso habitual no Largo do Chiado, não tem dúvidas: os tuk-tuk são
“uma praga”. E não é o único a pensar assim. “Esta merda devia ser toda
incendiada”, grita um taxista da Praça do Comércio que pede para ser
identificado apenas como sr. Nogueira. Um colega, que não quis dizer o nome,
acrescenta: “Isto só se resolve com os táxis parados e atirando essas merdas
todas ao rio”. Segundo relatam, isso até já aconteceu junto às Docas com dois
tuk-tuk.
Mais moderado,
Fernando Manuel, condutor de táxi há cinco anos, explica que o negócio não foi
grandemente prejudicado pelo aparecimento dos tuk-tuk – “isto já estava mau” –
mas admite que há “concorrência desleal”. Tudo porque, refere, “um táxi tem de
ir à inspeção de seis em seis meses”, os taxistas têm de tirar um curso que
“custa cerca de 800 euros” para poderem transportar passageiros e, porque a sua
carta de condução é profissional, “o limite de álcool é de 0,2 g/l”.
Mas essas nem são
as principais queixas dos taxistas. O principal problema, refere Florêncio de
Almeida, presidente da ANTRAL, é não haver limitação dos percursos que estes
novos meios de transporte podem fazer. “O mercado é livre, ninguém o pode
contestar. Tem é que haver regras. Isso é um problema grave. É concorrência
ilegal”, afirma, peremptório. “Não é possível que um táxi não possa andar a
angariar clientes no meio da rua e estes serviços o façam”, afirma Florêncio de
Almeida, que acusa os tuk-tuk de pararem à porta dos hotéis e do aeroporto a
recolher turistas. “E até na Ponte 25 de Abril” já foi avistado um veículo,
diz.
Trocas de
acusações
No site da Tuk
Tuk Lisboa, empresa há mais tempo a operar tuk-tuk na cidade, estão disponíveis
cinco circuitos, um dos quais é o “personalizado” em que o visitante da cidade
“tem a liberdade de parar onde quiser” e escolher “o seu próprio itinerário”. Os
responsáveis da empresa não estiveram disponíveis para prestar esclarecimentos
ao Observador. Outra companhia, a Eco Tuk Tours Lisboa, especializada em
tuk-tuk amigos do ambiente, tem igualmente uma modalidade “à la carte”, que
permite o aluguer de um veículo por tempo indeterminado.
Não é o caso da
Calessino City Tour. Hugo Fernandes, proprietário e motorista do único tuk-tuk
que a empresa tem, garante que só faz “percursos pré-definidos”. E brinca: “Se
eu levasse pessoas ao aeroporto, gastava-se o gasóleo só a ir lá”. Também a Tuk
Guide Portugal não faz circuitos que não estejam programados. Ainda esta
terça-feira, refere uma colega de Camila que pede para não ser identificada,
recusaram-se a levar uns passageiros ao aeroporto. E acusa os taxistas de terem
uma condução perigosa. “Eles às vezes metem-se mesmo à frente” dos tuk-tuk para
provocarem acidentes, acusa.
Segundo Florêncio
de Almeida, que teve uma reunião com a Câmara Municipal de Lisboa no passado
dia 12 de agosto, o município informou a ANTRAL de que seriam 173 os tuk-tuk a
andar atualmente por Lisboa, propriedade de três empresas licenciadas para tal.
Na Rua do Comércio, esta terça-feira à tarde, eram visíveis dez tuk-tuk de,
pelo menos, cinco empresas diferentes, à espera dos turistas, que se concentravam
na paragem dos autocarros turísticos. Alguns desses turistas, questionados pelo
Observador, afirmaram que preferem os autocarros pela possibilidade que têm de
entrar e sair do veículo durante 48 horas por 25 euros. Um circuito de tuk-tuk
custa, no mínimo, 45 euros por hora.
À ANTRAL, o
município garantiu “que o assunto vai ser discutido futuramente” pelo executivo
camarário e pelos deputados da assembleia municipal, refere Florêncio de
Almeida. Ao Observador, a câmara afirmou não ser possível confirmar o número de
veículos e empresas a operar no setor dado a Florêncio de Almeida.
Já há meses, num
parecer subscrito tanto por esta associação como pela Federação Portuguesa do
Táxi (FPT) e entregue à Câmara Municipal de Lisboa, ambas as organizações
classificam a liberdade de trajetos como “um claro incentivo à prática de
transporte ilegal”. O “alargamento de licenciamentos a coberto de uma natureza
turística que introduz uma sobre-capacidade instalada no mercado”, diz o
documento, fez com que tuk-tuk e riquexós se tenham tornado concorrência direta
aos táxis, o que originou a “redução da sua rentabilidade e maior dificuldade
de rejuvenescimento das frotas e qualificação do pessoal”, lê-se na revista
Táxi, editada pela FPT.
Os circuitos de
tuk-tuk, passando pelos miradouros da cidade e/ou os seus monumentos mais
importantes, podem durar de uma a três horas e têm preços compreendidos entre
45 e 100 euros. Segundo o presidente da ANTRAL, “quatro horas num táxi em
Lisboa não custam mais do que 80 euros”.
1 comentário:
"possibilidade de os turistas fazerem passeios com pessoas jovens, que falam várias línguas e que têm formação específica para falar sobre os locais históricos de Lisboa." sic Agradecia que o autor do texto tivesse mais cuidado com a informação dada, pois o que reproduzo acima, retirado do texto, não corresponde à verdade, não possuem nenhuma formação em informação turística como também em condução. São várias as "barbaridades" nos comentários dos condutores/"guias" a nível histórico e cultural como linguístico, para já não falar nos verdadeiros "atentados" no respeita à condução!
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