Além da redução da frequência, cada comboio terá
também menos capacidade
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Concessão da linha de Cascais a
privados vai reduzir oferta de serviços
CARLOS CIPRIANO
26/08/2014 - PÚBLICO
Sem investimento em novo material circulante, os horários para a linha de
Cascais serão os possíveis: haverá menos comboios por dia e com paragens em
todas as estações. Consulta pública será lançada em breve, garante o Governo.
As simulações para
os horários da linha de Cascais quando esta for concessionada prevêem uma
redução da oferta face à actual, desaparecendo os chamados comboios rápidos e
assentando o modelo numa frequência mais espaçada e com paragens em todas as
estações.
Esta redução na
oferta é justificada pela falta de comboios, uma vez que os actuais estão no
fim do seu período de vida útil e está afastada a compra de novo material
circulante porque isso iria encarecer a concessão. A solução passa por recorrer
ao material excedentário da frota da CP Lisboa e afectá-lo à linha de Cascais.
Actualmente, a CP
só utiliza cerca de dois terços das automotoras UQE (Unidades Quádruplas
Eléctricas) que são usuais na linha de Sintra e dispõe também de três comboios
de dois pisos a mais. Sem dinheiro para investir – e baseado na teoria de que o
óptimo é inimigo do bom – o Governo deverá incluir no caderno de encargos este
material, com o qual o concessionário será obrigado a prestar o serviço
possível, inferior ao actual.
Além da redução
da frequência (menos comboios por hora sobretudo fora das horas de ponta), cada
comboio terá também menos capacidade, uma vez que as composições só terão
quatro carruagens em vez das sete actuais. E se forem usados comboios de dois
pisos, o tempo de paragem nas estações será maior dos que os 30 segundos
actuais pois o acesso às portas é mais difícil.
O concurso que
está a ser elaborado pretende dar margem de manobra aos candidatos para propor
novas e mais imaginativas soluções para o serviço. Mas fontes ligadas ao
processo dizem que “sem novos comboios é impossível manter o serviço actual”.
A boa notícia é
que é de esperar que acabem as supressões devido a avarias de material, como
aconteceu em vários dias da semana passada. Entre 1 e 18 de Agosto, segundo
dados da CP, foram suprimidos 4% dos comboios na linha de Cascais. Parece pouco
mas esse valor representa 157 comboios cancelados em apenas três semanas.
O motivo é sempre
o mesmo: os comboios da linha de Cascais são velhos, apesar de terem sido
objecto de uma modernização nos anos 90. Há, por exemplo, motores cuja concepção
original é de 1959. E os motores mais novos datam de 1979. Já todos foram
rebobinados, levaram novos segmentos, mas estão desadequados e têm uma
manutenção caríssima. Aliás, devido ao seu envelhecimento, a frota de Cascais é
hoje a mais dispendiosa de todo o parque da CP.
Para ajudar a
resolver os problemas dos motores, a EMEF (empresa de manutenção da CP) pediu
ajuda à Faculdade de Engenharia do Porto, procurando, assim, o milagre de fazer
durar mais seis ou sete anos material que está em fim de vida. E não se limita
a reparar os motores nas suas oficinas de Oeiras – alguns vão ser arranjados ao
Barreiro e ao Entroncamento para acelerar o processo e voltar a pôr os comboios
na linha.
Perguntar-se-á,
então, por que motivo não se afecta já à linha de Cascais as outras composições
da CP. Por quê esperar pela concessão? Porque entre o Cais do Sodré e Cascais a
alimentação eléctrica é feita a 1500 volts em corrente contínua e nas restantes
linhas da Refer é a 25.000 volts em corrente alterna. Vai ser necessário
investir primeiro na mudança da corrente eléctrica e na própria sinalização da
linha, que lhe está associada.
O ideal seria
modernizar também a infra-estrutura, mas, sem dinheiro, o Governo está a
estudar uma solução minimalista que consiste em mudar apenas a electrificação e
a sinalização, mantendo os carris, as travessas e o balastro tal como estão. A
falta de dinheiro, pelo menos, leva a soluções criativas. Em vez de se
construir uma nova subestação eléctrica para alimentar a linha a 25.000 volts,
a Refer prevê usar a subestação do Fogueteiro e fazer chegar a electricidade à
linha de Cascais através de um cabo de alta tensão que baixará por um dos
pilares da ponte 25 de Abril até Alcântara.
A concessão da
linha de Cascais a privados foi anunciada pelo actual Governo em Novembro de
2011, no Plano Estratégico dos Transportes apresentado à troika. A operação
faz, aliás, parte de um projecto mais vasto, que abrange também a concessão da
Metro de Lisboa, Carris, Metro do Porto, STCP e Transtejo.
O processo
relacionado com a CP chegou a ser apontado como o piloto das concessões, mas
acabou por ficar em stand by durante largos meses. No Verão do ano passado, o
Governo criou um grupo de trabalho para preparar a operação, mas o processo
pouco evoluiu.
Questionado sobre
a concessão da linha de Cascais, o Ministério da Economia adiantou ao PÚBLICO
que "o processo de consulta pública deverá ter início nos próximos
dias". A tutela acrescentou que, "depois de concluído esse processo
serão conhecidas as opções relativas ao modelo da concessão".
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