Demagogia e fantasias
Por Pedro Braz
Teixeira
publicado em 20
Ago 2014 – in jornal i online.
António Costa
está a precisar urgentemente de arranjar um ministro das Finanças, para parar
com a demagogia e as fantasias
Um dos problemas
maiores da política portuguesa é a forma como os nossos políticos se nos
dirigem. Parece que partem de duas premissas: 1. a esmagadora maioria dos
portugueses não passa de um bando de analfabetos, ignorantões e incapazes de um
mero simulacro de raciocínio; 2. não existem comentadores e analistas capazes
de desmontar as falsidades e baboseiras do discurso político, pelo que é
facílimo enganar os idiotas dos portugueses.
O que mais
impressiona é que, à medida que a educação se tem aprofundado, ao ponto de se
dizer que temos a "geração mais preparada de sempre", isso não se
tenha reflectido na qualidade do debate público. Das duas uma: ou o
investimento na educação é uma gigantesca fraude ou os políticos que presumem a
imbecilidade dos portugueses vão dar-se mal.
Todos podemos
ansiar por um país mais rico e próspero, mas não há riqueza nenhuma que
compense o subdesenvolvimento mental. Não há nada mais devastadoramente empobrecedor
que um debate público débil, que não promove o conhecimento, o rigor, a
elevação. A pobreza intelectual e cultural é uma corrente que nos impede de
navegar e descobrir novos mares e novas terras.
Infelizmente,
quem se tem destacado mais na pobreza do discurso tem sido António Costa, em
profundo contraste com as elevadíssimas expectativas que acompanhavam a sua
candidatura. É como se António José Seguro sempre tivesse sido olhado como um
pobre coitado, a quem se desculpavam as mais óbvias inanidades, enquanto Costa
terá sempre de ser analisado com muito maior exigência.
Primeiro foi a
baboseira de que a "riqueza" era a alternativa à austeridade, embora
se tenha esquecido de nos dizer em que botão se carregava para fazer jorrar
essa tal riqueza.
A nova pérola é
que a sustentabilidade da Segurança Social não exige cortes nas pensões mas a
criação de emprego, tendo-se esquecido mais uma vez, certamente por lapso, de
nos informar que manípulo é necessário accionar para gerar esse emprego aos
magotes. Também se esqueceu que temos 1,2 trabalhadores empregados por cada
pensionista, recebendo muitas centenas de milhares de pensionistas pensões
muito mais elevadas que aquilo para que contribuíram. Além disso, Portugal
apresenta um dos índices mais graves de envelhecimento da população, pelo que
qualquer ideia de que é possível deixar as pensões intactas não passa de
demagogia ou fantasia.
Dado que António
Costa deseja ganhar as eleições legislativas de 2015 com maioria absoluta,
seria muito útil que arranjasse - com carácter de urgência - um ministro das
Finanças para o seu próximo governo. Este poderia explicar-lhe uma série de
coisas que o candidato ainda não percebeu e limitar o chorrilho de disparates
que vem proferindo. Também existe o problema de, se não parar rapidamente com a
asneirada, já não conseguir nenhum ministro das Finanças com um mínimo de
qualidade, por duas razões. Por este perceber que teria de desmentir demasiadas
coisas ou por tomar consciência de que nunca receberia o apoio do primeiro-ministro.
Ocupar aquele cargo sem o apoio indefectível do chefe do governo, num período
de dificuldades excepcionais, seria um suicídio político.
Ganhar eleições
(mas nunca com maioria absoluta, que os eleitores não são os imbecis que o
candidato presume) com base em promessas miríficas que serão esmagadas logo a
seguir dará um profundo rombo na legitimidade do novo primeiro-ministro e do
seu governo.
Acresce que o
Tribunal Constitucional acaba de dificultar a preparação do Orçamento de 2016,
o primeiro desafio que o novo governo enfrentará.
Na verdade, se
fôssemos levar à letra as promessas de António Costa, teríamos a troika de
regresso pouco tempo após o início do novo executivo. Seria a quarta
pré-bancarrota em pouco mais de 40 anos e o fim mais que provável do regime.
Investigador do Nova Finance
Center , Nova School of
Business and Economics
As opiniões
expressas no texto são da exclusiva responsabilidade do autor
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