La dernière chance du président
LE MONDE |
25.08.2014 à 14h45 • Mis à jour le 25.08.2014 à 15h03
Edito du « Monde
». La rentrée politique s’annonçait difficile pour le président de la
République et le premier ministre. En quelques heures, elle est devenue explosive.
En demandant à
Manuel Valls, dès le début de la matinée de ce lundi 25 août, de former un nouveau
gouvernement, François Hollande a en effet décidé de trancher, à chaud, une
crise qui le menaçait autant que le chef du gouvernement. Cinq mois seulement
après la constitution de l’équipe de Manuel Valls, au lendemain d’élections
municipales calamiteuses, cette dramatisation, très inhabituelle de la part du
chef de l’Etat, a toutes les allures d’un va-tout.
Il est vrai que
le week-end des 23 et 24 août a été pour le moins singulier. Deux poids lourds
du gouvernement – ceux-là mêmes qui avaient fait alliance avec M. Valls, au
printemps, pour lui permettre de s’imposer à Matignon – n’ont pas hésité à
contester publiquement et sévèrement la politique économique fixée par le
président de la République depuis le début de l’année.
DÉBAT LÉGITIME OU
DISSIDENCE INACCEPTABLE ?
Pour Arnaud
Montebourg, « la réduction à marche forcée des déficits publics est une
aberration économique, une absurdité financière et un sinistre politique »,
jetant les Français et les Européens « dans les bras des partis extrémistes » ;
bref, le ministre de l’économie a jugé urgent d’« apporter des solutions
alternatives ». Et son collègue de l’éducation, Benoît Hamon, a assuré qu’il ne
se sentait « pas loin des frondeurs » du PS qui contestent depuis des mois au
Parlement le cap économique de l’exécutif.
Débat légitime,
assuraient les deux trublions, quand la situation du pays est aussi déprimée,
la croissance nulle, la crue du chômage inexorable et l’économie européenne à
l’arrêt. Dissidence inacceptable, ont tranché les deux responsables de
l’exécutif.
BATEAU IVRE
C’est, en effet,
leur autorité qui était en jeu. Le chef de l’Etat avait confirmé de manière
très ferme, le 21 août dans ces colonnes, que le cap économique, budgétaire et
européen serait tenu et que, loin de ralentir le rythme, il fallait « accélérer
les réformes ». Quant au chef du gouvernement, il avait fait de son autorité et
de la cohérence de son équipe les deux piliers de son image et de son action.
Laisser la brèche, jusqu’ici seulement parlementaire, des « frondeurs »
s’élargir à l’intérieur même du gouvernement risquait de donner de celui-ci, plus
encore qu’auparavant, l’image d’un bateau ivre.
Pour MM. Hollande
et Valls, c’est donc, plus que jamais, l’heure de vérité : ont-ils la majorité
de leur politique ? Auront-ils demain, plus qu’hier, la capacité de convaincre
leur camp qu’il n’y a pas, comme ils le martèlent, d’alternative à la politique
tracée ? Ne risquent-ils pas, par le coup de force qu’ils viennent d’engager,
de fédérer tous ceux qui refusent, peu ou prou, le cap fixé ? La réponse
viendra dans les prochaines heures. Quelle qu’elle soit, elle sera pour le
président la dernière chance de sauver son quinquennat.
A última oportunidade
Análise Teresa de
Sousa / 26-8-2014 / PÚBLICO
Há oito meses,
quando François Holland aproveitou o seu discurso de Ano Novo para clarificar
as suas opções económicas, a maioria socialista passou semanas a discutir se
ele era um socialista, um social-democrata ou mesmo um social-liberal. O debate
da esquerda francesa tende sempre a ser mais sobre a ideologia do que sobre a
realidade e a melhor forma de alterá-la.
O Presidente
apresentou, como o seu “pacto de responsabilidade”, um conjunto de medidas para
melhorar a competitividade da economia francesa, incluindo uma redução dos
impostos sobre as empresas de 40 mil milhões em três anos e uma redução das
despesas do Estado em cerca de 50 mil milhões de euros. Em Março, a escolha de
Manuel Valls para chefiar um novo Governo foi um sinal de que não se tratava
apenas de palavras. A popularidade de Hollande nessa altura já era a mais baixa
de qualquer Presidente da V República. A escolha de alguém que representa a ala
mais à direita do Partido Socialista, que é jovem e que tem a ambição de chegar
ao Eliseu, provou também que o Presidente já tinha a sua margem de manobra
suficientemente reduzida para ter de apostar em alguém capaz de mostrar aos
franceses e à Europa que o seu programa de reformas era para cumprir. Até
porque não tinha outro remédio. Os últimos dados indicam que a economia
estagnou e o emprego não desce enquanto a dívida não pára de crescer e a
balança com o exterior não melhora. Além disso, a chanceler alemã mantém-se
intransigente quanto à obrigação francesa de trazer o défice orçamental para os
3%, o que Hollande prometeu mas não vai conseguir cumprir.
Quando, em Março,
Hollande chamou Manuel Valls ainda condicionou as suas escolhas, de modo a não
dividir demasiado o PSF. Como escreve o Guardian, o Governo ainda reflectia “as
suas próprias contradições”. A estranha escolha de Arnauld de Montebourg, o
chefe da ala esquerda do PS, para a pasta da Economia só era justificável pelo
intuito de o neutralizar. Quando Montebourg resolveu pôr abertamente em causa a
política económica do Governo (porventura, com os olhos postos nas
presidenciais de 2017), Valls teve o pretexto ideal para dizer ao Presidente o
que se diz nestas circunstâncias: ou eu ou ele. Espera-se, desta vez, um
Governo mais coeso para aplicar a “agenda reformista” que ele próprio prometeu.
Falta ainda fazer
passar o novo Governo (que Valls deve apresentar hoje) pelo crivo da Assembleia
Nacional, onde a maioria socialista não lhe fará a vida fácil. Mas, em França,
o poder real está no Eliseu (incluindo a nomeação e a demissão dos seus
governos) e não no Parlamento. Foi assim com todos os ocupantes do Eliseu desde
o início da V República. Continuará provavelmente a ser assim. Num país que
vive ainda do confronto ideológico entre esquerda e direita, a única
alternativa costuma ser a rua. Valls disse recentemente que “estava fora de
questão mudar de política económica”, num país que “vive acima dos seus meios
há muitos anos.” Não são palavras habituais num primeiroministro francês. A
entourage do Presidente também quis dar um sinal no mesmo sentido: “Há quem
diga que, se tivéssemos um défice maior, a economia cresceria mais. Em 2011
tivemos um défice de 7% e a economia não cresceu.” Basicamente, o que ambos
querem dizer é que o mundo mudou e a França também vai ter que mudar. Mesmo que
seja “à francesa”.
O Presidente
levou dois anos a perceber que a França não tinha interesse em ir contra a
chanceler alemã, exigindo um caminho de recuperação mais amigo do crescimento e
menos da austeridade. Aprendeu que, de uma maneira ou de outra, tem de manter
uma boa relação com Merkel, que evite uma separação litigiosa que apenas traria
desvantagens para a França. Nicolas Sarkozy percebeu o mesmo e também ele mudou
de rumo: em vez de combater as políticas de austeridade da chanceler, resolveu
abraçála, mantendo a ilusão de que ambos lideravam a Europa. Hollande tem agora
uma boa oportunidade para influenciar a chanceler. Pela primeira vez, as
políticas mais flexíveis em matéria de défice, que alguns países europeus
reclamam, começam a encontrar algum eco. JeanClaude Juncker, o novo presidente
da Comissão, promete dar prioridade ao crescimento com mais investimento
europeu. Mas a grande mudança parece vir do BCE através do discurso de Mario
Draghi em Jackson Hole (onde se reúnem uma vez por ano os grandes banqueiros
centrais), antecipando uma viragem na política monetária. A economia europeia
não cresce, a inflação de médio prazo é muito inferior aos 2% fixados no
Tratado, alimentando o risco de deflação. As medidas que o BCE tomou foram boas
para salvar o euro e resolver o problema dos mercados da dívida, mas não para a
economia. Talvez também por isso, este é pior momento para a França entrar numa
deriva política. Valls é a última chance de um Presidente que recolhe apenas
17% da aprovação dos franceses. O que sobra é,
provavelmente, a rua.
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