terça-feira, 26 de agosto de 2014

La dernière chance du président / LE MONDE . A última oportunidade/ Análise Teresa de Sousa/ PÚBLICO



La dernière chance du président 
LE MONDE | 25.08.2014 à 14h45 • Mis à jour le 25.08.2014 à 15h03

Edito du « Monde ». La rentrée politique s’annonçait difficile pour le président de la République et le premier ministre. En quelques heures, elle est devenue explosive.
En demandant à Manuel Valls, dès le début de la matinée de ce lundi 25 août, de former un nouveau gouvernement, François Hollande a en effet décidé de trancher, à chaud, une crise qui le menaçait autant que le chef du gouvernement. Cinq mois seulement après la constitution de l’équipe de Manuel Valls, au lendemain d’élections municipales calamiteuses, cette dramatisation, très inhabituelle de la part du chef de l’Etat, a toutes les allures d’un va-tout.
Il est vrai que le week-end des 23 et 24 août a été pour le moins singulier. Deux poids lourds du gouvernement – ceux-là mêmes qui avaient fait alliance avec M. Valls, au printemps, pour lui permettre de s’imposer à Matignon – n’ont pas hésité à contester publiquement et sévèrement la politique économique fixée par le président de la République depuis le début de l’année.

DÉBAT LÉGITIME OU DISSIDENCE INACCEPTABLE ?

Pour Arnaud Montebourg, « la réduction à marche forcée des déficits publics est une aberration économique, une absurdité financière et un sinistre politique », jetant les Français et les Européens « dans les bras des partis extrémistes » ; bref, le ministre de l’économie a jugé urgent d’« apporter des solutions alternatives ». Et son collègue de l’éducation, Benoît Hamon, a assuré qu’il ne se sentait « pas loin des frondeurs » du PS qui contestent depuis des mois au Parlement le cap économique de l’exécutif.

Débat légitime, assuraient les deux trublions, quand la situation du pays est aussi déprimée, la croissance nulle, la crue du chômage inexorable et l’économie européenne à l’arrêt. Dissidence inacceptable, ont tranché les deux responsables de l’exécutif.

BATEAU IVRE

C’est, en effet, leur autorité qui était en jeu. Le chef de l’Etat avait confirmé de manière très ferme, le 21 août dans ces colonnes, que le cap économique, budgétaire et européen serait tenu et que, loin de ralentir le rythme, il fallait « accélérer les réformes ». Quant au chef du gouvernement, il avait fait de son autorité et de la cohérence de son équipe les deux piliers de son image et de son action. Laisser la brèche, jusqu’ici seulement parlementaire, des « frondeurs » s’élargir à l’intérieur même du gouvernement risquait de donner de celui-ci, plus encore qu’auparavant, l’image d’un bateau ivre.
Pour MM. Hollande et Valls, c’est donc, plus que jamais, l’heure de vérité : ont-ils la majorité de leur politique ? Auront-ils demain, plus qu’hier, la capacité de convaincre leur camp qu’il n’y a pas, comme ils le martèlent, d’alternative à la politique tracée ? Ne risquent-ils pas, par le coup de force qu’ils viennent d’engager, de fédérer tous ceux qui refusent, peu ou prou, le cap fixé ? La réponse viendra dans les prochaines heures. Quelle qu’elle soit, elle sera pour le président la dernière chance de sauver son quinquennat.

A última oportunidade
Análise Teresa de Sousa / 26-8-2014 / PÚBLICO

Há oito meses, quando François Holland aproveitou o seu discurso de Ano Novo para clarificar as suas opções económicas, a maioria socialista passou semanas a discutir se ele era um socialista, um social-democrata ou mesmo um social-liberal. O debate da esquerda francesa tende sempre a ser mais sobre a ideologia do que sobre a realidade e a melhor forma de alterá-la.
O Presidente apresentou, como o seu “pacto de responsabilidade”, um conjunto de medidas para melhorar a competitividade da economia francesa, incluindo uma redução dos impostos sobre as empresas de 40 mil milhões em três anos e uma redução das despesas do Estado em cerca de 50 mil milhões de euros. Em Março, a escolha de Manuel Valls para chefiar um novo Governo foi um sinal de que não se tratava apenas de palavras. A popularidade de Hollande nessa altura já era a mais baixa de qualquer Presidente da V República. A escolha de alguém que representa a ala mais à direita do Partido Socialista, que é jovem e que tem a ambição de chegar ao Eliseu, provou também que o Presidente já tinha a sua margem de manobra suficientemente reduzida para ter de apostar em alguém capaz de mostrar aos franceses e à Europa que o seu programa de reformas era para cumprir. Até porque não tinha outro remédio. Os últimos dados indicam que a economia estagnou e o emprego não desce enquanto a dívida não pára de crescer e a balança com o exterior não melhora. Além disso, a chanceler alemã mantém-se intransigente quanto à obrigação francesa de trazer o défice orçamental para os 3%, o que Hollande prometeu mas não vai conseguir cumprir.
Quando, em Março, Hollande chamou Manuel Valls ainda condicionou as suas escolhas, de modo a não dividir demasiado o PSF. Como escreve o Guardian, o Governo ainda reflectia “as suas próprias contradições”. A estranha escolha de Arnauld de Montebourg, o chefe da ala esquerda do PS, para a pasta da Economia só era justificável pelo intuito de o neutralizar. Quando Montebourg resolveu pôr abertamente em causa a política económica do Governo (porventura, com os olhos postos nas presidenciais de 2017), Valls teve o pretexto ideal para dizer ao Presidente o que se diz nestas circunstâncias: ou eu ou ele. Espera-se, desta vez, um Governo mais coeso para aplicar a “agenda reformista” que ele próprio prometeu.
Falta ainda fazer passar o novo Governo (que Valls deve apresentar hoje) pelo crivo da Assembleia Nacional, onde a maioria socialista não lhe fará a vida fácil. Mas, em França, o poder real está no Eliseu (incluindo a nomeação e a demissão dos seus governos) e não no Parlamento. Foi assim com todos os ocupantes do Eliseu desde o início da V República. Continuará provavelmente a ser assim. Num país que vive ainda do confronto ideológico entre esquerda e direita, a única alternativa costuma ser a rua. Valls disse recentemente que “estava fora de questão mudar de política económica”, num país que “vive acima dos seus meios há muitos anos.” Não são palavras habituais num primeiroministro francês. A entourage do Presidente também quis dar um sinal no mesmo sentido: “Há quem diga que, se tivéssemos um défice maior, a economia cresceria mais. Em 2011 tivemos um défice de 7% e a economia não cresceu.” Basicamente, o que ambos querem dizer é que o mundo mudou e a França também vai ter que mudar. Mesmo que seja “à francesa”.


O Presidente levou dois anos a perceber que a França não tinha interesse em ir contra a chanceler alemã, exigindo um caminho de recuperação mais amigo do crescimento e menos da austeridade. Aprendeu que, de uma maneira ou de outra, tem de manter uma boa relação com Merkel, que evite uma separação litigiosa que apenas traria desvantagens para a França. Nicolas Sarkozy percebeu o mesmo e também ele mudou de rumo: em vez de combater as políticas de austeridade da chanceler, resolveu abraçála, mantendo a ilusão de que ambos lideravam a Europa. Hollande tem agora uma boa oportunidade para influenciar a chanceler. Pela primeira vez, as políticas mais flexíveis em matéria de défice, que alguns países europeus reclamam, começam a encontrar algum eco. JeanClaude Juncker, o novo presidente da Comissão, promete dar prioridade ao crescimento com mais investimento europeu. Mas a grande mudança parece vir do BCE através do discurso de Mario Draghi em Jackson Hole (onde se reúnem uma vez por ano os grandes banqueiros centrais), antecipando uma viragem na política monetária. A economia europeia não cresce, a inflação de médio prazo é muito inferior aos 2% fixados no Tratado, alimentando o risco de deflação. As medidas que o BCE tomou foram boas para salvar o euro e resolver o problema dos mercados da dívida, mas não para a economia. Talvez também por isso, este é pior momento para a França entrar numa deriva política. Valls é a última chance de um Presidente que recolhe apenas 17% da aprovação dos franceses. O que sobra é, provavelmente, a rua.

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