Como é que depois de ter garantido que iria ser "uma formiguinha" em Bruxelas e de ter anunciado ter travado o combate ao Parlamento Europeu porque "a democracia está num processo terrível de degenerescência", Marinho e Pinto faz a mala?
A decisão de Marinho e Pinto
prejudica o interesse nacional
Por Ana Sá Lopes
publicado em 11
Ago 2014 in
(jornal) i online
O próximo
populista a ter sucesso eleitoral pode ser muito pior que Marinho e Pinto
Há coisas boas em
Portugal: o mar, Lisboa, o Porto, o Minho, o vinho, o Algarve, a Foz do Arelho,
as ilhas dos Açores, a comida em geral e o facto de o partido mais à direita
ser o CDS e o único populista com sucesso ser Marinho e Pinto. A Inglaterra é a
Inglaterra, mas tem o UKIP e o Nigel Farage, que estão a enlouquecer os outros
partidos, tornando-os cada vez mais anti- -imigrantes; em França Marine Le Pen
é a próxima vencedora das eleições.
O regime está a
implodir, mas ainda não gerou um Farage ou uma Le Pen. Ter o Marinho e Pinto e
o Paulo Portas, em compensação, é uma coisa boa deste país. No capítulo dos
extremismos, são preferíveis os produtos portugueses.
Infelizmente,
Marinho e Pinto, o melhor dos populistas para a média da União Europeia, decidiu
estragar a sua capacidade futura de representar o descontentamento que não
consegue ser canalizado para os partidos tradicionais (evidentemente, com
imensa culpa dos partidos tradicionais). Se Marinho e Pinto se cansou do cargo
de deputado ao Parlamento Europeu para que foi eleito em cinco semanas, que
garantias nos dá de não desaparecer da Assembleia da República (para a qual
também quer ser eleito) em 15 dias ou do Palácio de Belém (a que também quer
chegar) antes da primeira viagem de Estado? Apesar de sustentar que tomou esta
atitude exactamente para chegar lá - a São Bento, a Belém, ou aos dois sítios
ao mesmo tempo, Marinho e Pinto acaba a prejudicar seriamente o país: é
possível que o próximo populista a ter sucesso eleitoral seja bastante pior que
Marinho e Pinto. Como é que depois de ter garantido que iria ser "uma
formiguinha" em Bruxelas e de ter anunciado ter travado o combate ao
Parlamento Europeu porque "a democracia está num processo terrível de
degenerescência", Marinho e Pinto faz a mala? Dizer que "os problemas
nacionais são mais graves que os europeus" é uma justificação tão boa para
dar aos portugueses que o elegeram que até parece de um político em
degenerescência.
O país precisa de
Marinho e Pinto - pelas razões que escrevi antes -, mas assim as coisas começam
a tornar-se difíceis. Passar cinco semanas em Bruxelas e clamar "saio
menos europeísta do que entrei" não é um programa. Ser eleito e desistir
porque "o elemento agregador da Europa não está nos ideais, nem nas
políticas, mas no dinheiro" não é um argumento. Marinho e Pinto já
estragou a campanha das legislativas. Vamos a ver se não aparece alguém pior.
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