Em Maio, o
ministro da Saúde anunciou que mais 52 médicos cubanos iriam reforçar vários
centros de saúde
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Médicos cubanos já terão custado
12 milhões de euros ao Estado
ALEXANDRA CAMPOS
19/08/2014 - 10:19 (actualizado às 12:55) PÚBLICO
O bastonário diz que o ministro “pode até contratar médicos chineses se
oferecer as mesmas condições [que oferece aos cubanos] aos portugueses e estes
não aceitarem”
O bastonário da
Ordem dos Médicos, José Manuel Silva, garante que, se os clínicos portugueses
ganhassem “4230 euros por mês, mais casa , água e luz” - o valor auferido pelos
clínicos cubanos contratados pelo Governo para trabalharem em centros de saúde
do Alentejo e Algarve -, “também estariam dispostos a ir para lá”.
O bastonário
aproveitou a notícia do jornal i - que revela na edição desta terça-feira que a
contratação de médicos cubanos custou nos últimos seis anos cerca de 12 milhões
de euros a Portugal - para repetir que o
Ministério da Saúde não oferece aos profissionais portugueses as mesmas
condições que proporciona aos cubanos e desafiar a tutela a fazê-lo, de uma vez
por todas.
“[Os sucessivos
ministros da Saúde] nunca avançaram com os incentivos”, lamentou o bastonário
ao PÚBLICO, defendendo que “esta discriminação positiva” resolveria o problema
da falta de médicos de família, que estima em “cerca de 600” em todo o país.
“Alguém pensa
que, a não ser por razões pessoais, um médico vai trabalhar para Portalegre por
oito euros limpos à hora [valor pago aos clínicos contratados, os chamados
“tarefeiros”]?”, pergunta José Manuel Silva. “O ministro pode até contratar
médicos chineses se oferecer as mesmas condições [que oferece aos cubanos] aos
portugueses e estes não aceitarem”, acrescenta. “Já dissemos isto ao ministro,
já o desafiamos a fazer um mapa das necessidades, mas não há resposta”,
lamenta.
Após uma queixa
do i à Comissão de Acesso a Documentos Administrativos, o Ministério da Saúde
acabou por revelar o teor dos contratos assinados com Cuba desde 2009. O jornal
analisou os documentos e calculou que o montante já pago pelo Serviço Nacional
de Saúde (SNS) desde essa altura rondará
os 12 milhões — apenas uma parte vai para os médicos, a outra fica para as
autoridades cubanas financiarem a formação e o serviço de saúde de Cuba.
O primeiro grupo
de médicos cubanos chegou a Portugal a 8 de Agosto de 2009, no âmbito de um
contrato celebrado entre os governos de Portugal e de Cuba, para prestar
cuidados médicos em centros de saúde no Alentejo, Algarve e Ribatejo. Locais
que ficavam sistematicamente sem candidaturas de médicos portugueses, na altura.
De então para cá,
os valores em jogo foram alterados. No início do protocolo, Portugal pagava
mensalmente por cada médico ao Governo cubano 5900 euros. No final de 2011, o
actual Governo reviu o valor para 4230 euros.
O último
aditamento ao acordo, de Abril de 2014, segundo o jornal, estabelece que os
médicos cubanos a trabalhar no SNS têm uma carga horária de 44 horas semanais,
"pagas a 96 euros à hora", três vezes “o tecto de 30 euros” que a lei
portuguesa admite nas contratações a empresas fornecedoras de serviços médicos.
Este cálculo está errado, porém. Dividindo os 4230 euros pelas 44 horas por
semana, considerando que um mês terá quatro semanas, o valor à hora é 24 euros.
Em Maio, o
ministro da Saúde anunciou que mais 52 médicos cubanos iriam reforçar vários
centros de saúde. A medida foi de imediato criticada pelo bastonário da OM, que
notou na altura que aqueles profissionais iam custar perto de cinco mil euros,
“o dobro” do que recebem os portugueses. É uma contratação que não faz sentido,
numa altura em que médicos mais jovens estão a emigrar e os mais velhos se
estão a reformar antecipadamente, argumentou então. José Manuel Silva repete
agora os argumentos para desafiar o Governo a pagar o mesmo aos portugueses.
O PÚBLICO já
pediu à Administração Central do Sistema de Saúde uma reacção à notícia do i,
bem como o teor dos contratos.
Notícia
actualizada com declarações do bastonário da Ordem dos Médicos e correcção do
cálculo sobre o valor pago à hora aos
médicos cubanos.
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