sexta-feira, 29 de agosto de 2014

O renovado Cinema Ideal abriu para estar perto do seu bairro



O renovado Cinema Ideal abriu para estar perto do seu bairro
CATARINA MOURA 29/08/2014 - PÚBLICO
Um dos cinemas mais antigos da capital reabriu depois das obras de recuperação anunciadas no final do ano passado. O Cinema Ideal promete ser um espaço próximo dos moradores do centro de Lisboa com projecções alternativas aos grandes circuitos comerciais.

A projecção do primeiro filme está marcada para as 21h15, mas às 20h de quinta-feira já uma massa de gente rodea uma das montras da rua do Loreto, em Lisboa, entre o Largo Camões e a Bica.

Todos estão à espera da abertura do Cinema Ideal, cujas obras só foram ultimadas momentos antes. A pequena sala no centro da cidade encheu-se para duas estreias: a sua e a de "E Agora? Lembra-me", o premiado filme de Joaquim Pinto.

Quem não soubesse o que se estava a passar, podia dizer que parecia um final de tarde à porta de um bar – amigos e conhecidos, de copo na mão, vão conversando e divertindo-se. Olhando com mais atenção, lá estão as letras em amarelo a azul por cima das amplas montras: Cinema Ideal. O projecto, iniciativa da distribuidora Midas Filmes e da Casa da Imprensa, que detém o edifício, foi anunciado no final do ano passado como o renascer de um dos cinemas mais antigos da cidade. A promessa era um espaço renovado pelo arquitecto José Neves, um “cinema de bairro”, próximo da população local e com uma programação alternativa aos circuitos comerciais.

“É perto de casa e faz muita falta um cinema assim, no centro da cidade, com este formato, com esta ideia”, diz Tânia Afonso, que veio à primeira projecção para estar com os amigos que, como ela, trabalham na área do cinema.

“É muito importante ser um cinema de bairro, que não está integrado num centro comercial – o que para mim já é uma coisa agradável. A ideia é que uma pessoa se desloque aqui mesmo para vir ao cinema”, acrescenta André Godinho, que conversava com Tânia e mais uns quantos amigos à porta do número 15 da rua do Loreto.

“Houve um tempo em que a frequência do cinema era uma coisa de proximidade: ia-se a pé porque em todas as zonas de Lisboa havia três ou quatro cinemas que ficavam à distância de 15 minutos”, contextualiza ao PÚBLICO Pedro Borges, da Midas, para explicar o que deseja para este espaço. Um dos seus objectivos é colaborar directamente com os moradores da zona, por exemplo, na programação. “Ainda são tudo desejos: há contactos feitos com as juntas de freguesia da Misericórdia e de Sta Maria Maior, com as pessoas que moram aqui ao pé”.

Por enquanto, assume que talvez ainda nem toda a gente saiba deste novo cinema, mas que aqueles que ali moram já conhecem – “foram vendo as obras, espreitando pela rua de trás: as portas da saída de emergência normalmente estavam sempre abertas e as pessoas tinham curiosidade”.

Algumas paredes ainda cheiram a tinta. Nos corredores, dezenas de pessoas passeiam e vão descobrindo o novo espaço, comentam os acabamentos, o ar amplo da sala, as filas de cadeiras com distância suficiente entre si para que ninguém se tenha de levantar quando alguém quer passar. As áreas são pequenas: um estreito corredor de entrada para um foyer onde já estão os cartazes dos próximos filmes – "Magia ao Luar", de Woody Allen, e "Os Maias", de João Botelho –, e a sala, que não chega a ter 200 lugares no conjunto da plateia e balcão.

“Acabámos às 19h10”, confessa Pedro Borges, já com toda a gente sentada para assistir ao filme de Joaquim Pinto. Confessou que nem tudo ficou pronto – falta o sistema de som no palco e as obras no andar de cima para uma livraria com restaurante vão continuar durante as próximas semanas.

Na inauguração, a sala está cheia de convidados da área do cinema e aqueles que apareceram para comprar bilhete não tiveram que pagar, porque a primeira sessão foi gratuita. “Tínhamos muita vontade de abrir o cinema com um filme português. O Joaquim teve a generosidade de esperar algum tempo para que o cinema estivesse pronto – o filme estreia agora quase um ano depois de ter estado em Locarno e ter ganho prémios”, refere Pedro Borges.

"E Agora? Lembra-me" está em exibição no Cinema Ideal juntamente com "A Desaparecida", de John Ford, de 1956, em sessões intercaladas, a partir das 13h30. Os bilhetes têm preços entre os cinco e os sete euros, semelhantes aos dos cinemas das grandes distribuidoras. “Queremos sobretudo bom cinema e bons filmes. Portugueses obviamente, mas queremos também europeus, chineses, iranianos. Podem também ser filmes americanos, mas têm que  ter qualquer coisa. E queremos clássicos, claro”, informa Pedro Borges.


“Lisboa precisa de salas de cinema como esta: alternativa”, defende Alexandra Amaral, do outro lado da rua, ainda antes de a bilheteira abrir. Professora, veio porque conhece Pedro Borges há muito tempo. “Acompanhei as obras e acho que está uma sala muito bonita, com cadeiras cómodas”. Confessa que já não vai muito ao cinema porque “está a ficar cada vez mais velha”, mas promete vir ao Cinema ideal. “Estou muito satisfeita por se ir repor o filme do Ford e espero que tenha mais cinema português e europeu”.

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