Caso BES: catástrofe e ruína
Só com Francisco a Igreja
recuperou das cinzas o combate ao capitalismo
Por Ana Sá Lopes
publicado em 14
Ago 2014 IN
(JORNAL) I online
A Igreja
portuguesa não se mete a sério na "política" pelo menos desde 1975,
quando se aliou ao PS, por um lado, e à extrema-direita, por outro, para
combater o avanço dos "comunistas". Com maior ou menor discrição, a
Igreja nunca mais travou nenhum combate com a mesma energia: não o fez sequer
quando foi aprovado o casamento entre pessoas do mesmo sexo, ao contrário do
que aconteceu em Espanha. Também não tinha vindo para a rua, enquanto
instituição, protestar contra a lei do aborto. Com uma ou outra excepção, a
Igreja cumpriu o lema de deixar aos homens o que é dos homens e a Deus o que é
de Deus. Provavelmente, também por isso, enquanto corpo institucional, a Igreja
tem atravessado esta crise com alguma parcimónia - e todos os discursos dos
seus responsáveis maiores costumam estar a anos-luz da violência crítica que o
Papa Francisco tem lançado contra o sistema capitalista.
Mas alguma coisa
mudou radicalmente para o bispo de Leiria-Fátima ter vindo ontem criticar
"a ditadura do capitalismo financeiro e especulativo", citando Bento
XVI, e a "tirania económico-financeira, especulativa, virtual, desligada
da economia real", citando o Papa Francisco. O bispo António Marto avisou
que o caso BES pode levar "à catástrofe e à ruína de um país" e
"as primeiras vítimas são sempre os mais pequenos e os mais pobres".
A aliança tácita
da Igreja com o capitalismo é uma velha história que a ascensão do comunismo
ateu no século xx só serviu para reforçar. Era preciso escolher um dos lados e,
com a excepção dos padres adeptos da teologia da libertação, a Igreja escolheu
o seu. A crise financeira apanhou a Igreja aos papéis, repetindo naturalmente o
essencial da doutrina, mas incapaz de qualquer ruptura com o sistema.
E então veio o
Papa Francisco, o maior fenómeno mediático que a Igreja conseguiu, depois do
fracasso neste domínio do intelectual Bento XVI. António Marto cita Bento XVI a
criticar "a ditadura do capitalismo financeiro e especulativo", mas
ninguém associou Bento XVI ao combate ao capitalismo. Foi preciso vir Francisco
para a Igreja recuperar das cinzas o combate consistente "à tirania
económico-financeira", num momento em que Cristo morreu, Marx também, e os
socialistas não se andam a sentir lá muito bem. Ver este discurso chegar à
Igreja portuguesa é um fenómeno extraordinário. Vamos ver se dura e se tem
algum apoio entre os militantes católicos portugueses.
Em Fátima
Na apresentação
da peregrinação anual do migrante e refugiado ao Santuário de Fátima, o bispo
de Leiria-Fátima D. António Marto afirmou que
“a falta de ética na finança” pode “levar à catástrofe e à ruína de um
país”
Sem comentários:
Enviar um comentário