Ervas daninhas
enchem os canteiros um pouco por todo o jardim
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No meio das ervas
altas, os brasões são quase irreconhecíveis
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Alguns brasões
vão ser requalificados e mantidos, segundo a câmara
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Câmara de Lisboa vai acabar com brasões das ex-colónias no jardim da Praça do Império
MARISA SOARES
27/08/2014 - PÚBLICO
Autarquia diz que símbolos do antigo Ultramar estão
"ultrapassados" e por isso decidiu retirá-los. Os restantes brasões
vão manter-se.
O jardim da Praça
do Império, em Belém, símbolo da exposição que celebrou a ideia do Portugal
pluricontinental durante o Estado Novo, vai perder parte da sua história. A
Câmara de Lisboa, responsável pelo espaço, decidiu retirar as composições
florais que reproduziam os brasões das ex-colónias e decoravam um friso em
torno da Fonte Monumental, por achar que “estão ultrapassados”.
Situado em frente
ao Mosteiro dos Jerónimos, numa zona sempre repleta de turistas, o jardim com
cerca de três hectares evidencia alguma negligência. Ervas secas e altas
preenchem os canteiros delimitados por sebes, também elas secas nalguns locais.
E as pequenas palmeiras ali plantadas já tiveram melhores dias. Mas o abandono
é ainda mais visível na faixa que circundam a fonte.
Outrora bem
talhados em bucho e preenchidos com plantas coloridas, os brasões das cidades e
províncias de Portugal e das ex-colónias, bem como as cruzes de Cristo e de
Avis, num total de 32 conjuntos de grandes dimensões, estão hoje quase
irreconhecíveis no meio das ervas. A situação não é de agora. “Está assim há
vários meses”, diz o presidente da Junta de Freguesia de Belém, Fernando
Ribeiro Rosa (PSD), que acusa a câmara de descurar a manutenção do jardim. O
autarca diz que já pediu satisfações ao vereador dos Espaços Verdes, José Sá
Fernandes. “Respondeu-me que os brasões são sinais do colonialismo e que não
contasse com ele para tratar daquilo”, afirma, indignado.
Em declarações ao
PÚBLICO nesta terça-feira, o assessor de imprensa de Sá Fernandes confirmou a
decisão da câmara de acabar com os brasões dos antigos territórios
ultramarinos, por considerar que "estão ultrapassados" e que
"não faz sentido mantê-los". Por isso, “não vão ser recuperados”,
afirmou. Segundo a mesma fonte, os restantes brasões vão ser reabilitados, mas
não existe ainda uma data para esta intervenção. Quanto à alegada falta de
manutenção, o porta-voz do vereador negou, garantindo que esta é feita “todos
os dias” pelos jardineiros municipais.
O jardim da Praça
do Império foi construído por altura da Exposição do Mundo Português, em 1940,
comemorativa dos 800 anos da Independência de Portugal e dos 300 anos da
Restauração da Independência. Desenhado pelo arquitecto Vasco Lacerda Marques,
é um jardim quadrangular onde sobressaem ciprestes, oliveiras e cedros, com
esculturas em pedra e calçada portuguesa a forrar o chão. Num dos canteiros ainda
resiste uma âncora que serviu como peça de um relógio de sol que mostrava as
horas na metrópole e nos territórios ultramarinos. A própria praça do Império
foi projectado por Cottinelli Telmo, o arquitecto modernista que também foi o
autor do Pardão dos Descobrimentos, ali mesmo ao lado.
“Os brasões fazem
parte da nossa história”, sublinha Fernando Ribeiro Rosa, que promete levar o
assunto em breve à Assembleia Municipal. O interesse deste jardim é atestado
por duas arquitectas paisagistas do Instituto Superior de Agronomia de Lisboa,
Elsa Isidro e Ana Luísa Soares, que desenvolveram uma Metodologia de
Caracterização e Classificação dos Jardins Públicos de Interesse Patrimonial.
Sendo 50 o topo da escala estabelecida para esta classificação, o jardim da
Praça do Império obtém 46 valores.
"Para além
da estatutária de valor artístico e da Fonte Monumental de elevado interesse
arquitectónico, este jardim é único na existência de um conjunto de brasões em
mosaico-cultura", escrevem as duas paisagistas num texto dedicado ao
jardim.
Fernando Ribeiro
Rosa aponta ainda o dedo ao município por deixar “a meio” as obras feitas no
vizinho Jardim Afonso de Albuquerque, em frente à Presidência da República,
outro dos grandes espaços verdes que não passaram para a responsabilidade da
junta aquando da reorganização administrativa da cidade, no início deste ano.
“O piso está todo estragado e há pedras soltas, esqueceram-se de pôr cimento
para acabar a obra”, acusa.
Em declarações à
Lusa, o assessor de Sá Fernandes referiu que “o mau estado do pavimento” pode
ter resultado de uma intervenção na via pública por parte de uma
"operadora" que não especificou. "Está prevista uma empreitada
para reposição do pavimento", adiantou.
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