Europeus não reconhecem qualidade
ao ensino superior nacional
Só estudantes da Roménia, Turquia e Croácia demonstram vontade de vir
estudar para Portugal, revela estudo
Samuel Silva /
1-9-2014 / PÚBLICO
Os estudantes
europeus fazem uma avaliação negativa da reputação do ensino superior português
e essa percepção faz diminuir a intenção de estes alunos virem a estudar numa
universidade nacional.
Numa altura em
que o sector aposta forte na captação de estudantes internacionais, o primeiro
estudo do género feito no país, fruto de um doutoramento na Universidade do
Minho (UM), não traz boas notícias: só na Roménia, Croácia e Turquia é que
Portugal é bem visto.
Cerca de metade
dos 15 países europeus envolvidos no estudo avaliam o ensino superior português
abaixo da média. A ideia central desta investigação do professor do IADE —
Creative University Alexandre Duarte é a de que “o ensino superior de Portugal
não é muito reputado”. E isso condiciona todos os outros resultados. A
reputação é um “factor decisivo na escolha de instituição de ensino”, o que
ajuda a explicar que, entre os estudantes entrevistados, 81% revelem intenção
de estudar no estrangeiro, mas apenas 45% ponderem fazê-lo em Portugal.
O segundo factor
menos pontuado foi a capacidade de investigação das universidades nacionais, e
o país também perde capacidade de atracção face à importância do português —
língua vista como pouco relevante no espaço europeu. A representação do sistema
de ensino, a percepção da qualidade das infra-estruturas e dos docentes são
outros factores com nota negativa, segundo a tese Atracção da Educação: o
estereótipo nacional e a escolha do destino de estudo no ensino superior — o
caso português, que teve por base um inquérito aplicado junto de 464 estudantes
europeus inscritos.
O estudo deixa de
fora o país com maior percentagem de estudantes inscritos no ensino superior
nacional, o Brasil (26,8%). Entre os parceiros continentais, pontuam os
estudantes espanhóis (9,3%), seguidos dos de França (2,7%), Itália (2,4%) e
Reino Unido (2,1%).
Os alunos que demonstram
intenções mais fortes de vir a estudar em
Clima pode ajudar
a atrair alunos Portugal são os romenos (3,5 numa escala de 5 valores). Seguem-se
croatas (3,44) e turcos (3,33). Nestes três países, a competência em Portugal é
avaliada como “alta”.
Estes países
também aparecem nos primeiros lugares na avaliação da reputação do sistema de
ensino português, uma lista que volta a ser liderada pela Roménia (3,6). A
Croácia surge em quarto (3,2), seguida da Turquia (3,2). Pelo meio surgem a
Bulgária (3,2) e o Reino Unido (3,2), que é, de entre os países do continente,
aquele em que Portugal consegue ter avaliações mais positivas.
Estes resultados
surgem numa altura em que as universidades e os politécnicos têm apostado
fortemente na atracção de estudantes internacionais, depois de, no início do
ano, ter sido aprovado o novo Estatuto do Estudante Internacional, que permite
a fixação de propinas de valor mais alto para os estrangeiros — chegam a
atingir os 7000 euros anuais em universidades como Lisboa e Coimbra.
Para Alexandre
Duarte, a instituições de ensino continuam, porém, sem saber “quais são as suas
vantagens competitivas”. Este estudo aponta factores valorizados pelos
estudantes e em que Portugal tem um bom desempenho. Ao nível da vida social, o
país é considerado seguro, barato e hospitaleiro, sendo também valorizado o
clima, bem como a proximidade geográfica. Estas são, assim, características que
devem ser exploradas pelas instituições nacionais na comunicação da sua oferta
noutros países. Para o investigador, sem descurar a aposta nos países de onde
vem o grosso dos estudantes estrangeiros (PALOP e Brasil), as instituições
devem partir à procura de mercados como o romeno ou o croata.
Sem comentários:
Enviar um comentário