Confrontos em concerto de Anselmo Ralph em Cascais
fazem pelo menos três feridos
Ana Henriques
25/08/2014 - PÚBLICO
Estava convocado um meet para
o local. Presidente da Câmara diz que se tratou de "uma rixa entre dois indivíduos",
uma "situação pontual".
O programa de encerramento
das Festas de Cascais, na noite deste domingo, foi interrompido devido a
confrontos entre pessoas que estavam a assistir ao concerto do cantor angolano
Anselmo Ralph. Há pelo menos três feridos, dois dos quais foram transportados
de ambulância para o hospital.
Terão sido esfaqueados ou
cortados com garrafas partidas. Os distúrbios começaram pelas 23h30, estava o
espectáculo quase a terminar, bem em frente ao palco montado na zona da baía de
Cascais, junto à Praia dos Pescadores. De sobreaviso estavam dezenas de
polícias. Foi o próprio cantor que, perante o que se estava a passar,
interrompeu o concerto e chamou as autoridades. “Vi um tumulto de jovens, ali
no meio da confusão, a brigar. E havia muitas crianças ali no meio”, descreveu
mais tarde aos jornalistas, justificando a sua atitude. Ciente do que podia vir
a suceder, já tinha iniciado o espectáculo pedindo paz à assistência. Mas de
nada valeu.
Depois dos primeiros
confrontos, dos quais resultaram os três feridos, registaram-se ainda várias
escaramuças entre polícias e jovens, alguns dos quais acabaram por ser detidos,
depois de perseguições policiais por entre a multidão, que depois de terminar o
concerto se tinha dispersado mas continuava quer junto ao palco quer no areal
da praia.
Terão sido detidas três
pessoas e identificadas várias outras. Segundo um amigo de um dos jovens
levados para a esquadra de Cascais, que pediu para não ser identificado, os
agentes da PSP não conseguiram apanhar os verdadeiros responsáveis pelos
distúrbios – razão pela qual detiveram quem conseguiram agarrar –
“curiosamente, quatro pessoas de raça negra e um caucasiano”. Dentro da
esquadra "foram espancados", assegurava. "Os polícias dizem que
foram ofendidos verbalmente. Não sei se é verdade", referia, enquanto
esperava por um advogado que vinha dar assistência ao amigo, jogador de
futebol. Foram muitas as críticas à actuação policial por parte da assistência.
"A gente somos do ghetto", observava uma estudante de Hotelaria do
Vale da Amoreira. "E os bófias gostam muito de atrofiar connosco. Têm de
aprender que somos como uma família. Se batem num de nós..."
Apesar dos insistentes
pedidos de informação, nenhum oficial da PSP nem qualquer outro agente
prestaram esclarecimentos à comunicação social sobre o sucedido na noite de
domingo. Entre os polícias ouviam-se, porém, comentários sobre a falta de
condições do local para acolher um evento com tanta gente. Segundo o presidente
da Câmara de Cascais, Carlos Carreiras, assistiram ao concerto entre 50 e 55
mil pessoas.
A multidão compacta que se
juntou não deixava sequer os hóspedes do Hotel Baía entrarem no edifício. Cerca
de duas dezenas de pessoas que entraram pelas traseiras e se escapuliram para o
último andar para verem melhor o concerto tiveram de ser dali retiradas pelas autoridades.
Anselmo Ralph ainda retomou o
espectáculo depois dos distúrbios, mas deu-o por terminado logo a seguir. “Nós
não podemos festejar quando há gente ferida. Vão em segurança e vão em grupo”,
disse, numa alusão à insegurança que se fazia sentir.
Agentes da Unidade Especial
de Polícia criaram então um cordão humano à volta da multidão, permitindo
depois que algumas centenas de espectadores se deslocassem da zona do palco
para a praia, ali mesmo ao lado.
O fogo-de-artifício que
estava previsto para dar as Festas de Cascais por encerradas acabou por ser
lançado nessa altura, eram 0h30, quando parte das pessoas que assistiam ao
concerto desceu ao areal e ficou por ali a conversar.
Para o local e para a hora do
concerto estava marcado um meet, o mesmo tipo de encontro de jovens convocado
pela Internet que esteve na origem dos incidentes registados esta semana no
centro comercial Vasco da Gama, em Lisboa. Mas o presidente do município, que
falou à comunicação social à 1h20, tentou minimizar o sucedido, negando que se
tivesse tratado de um "encontro marcado" e resumindo tudo a "uma
rixa entre dois indivíduos", uma "situação pontual" que foi
"muito empolada" e da qual teriam resultado "dois feridos".
Carlos Carreiras elogiou o
sangue-frio e o profissionalismo de Anselmo Ralph ao interromper o concerto
para chamar a polícia. “Não são dois indivíduos que vão estragar as Festas do
Mar”, declarou o autarca. O cantor admitiu que foi a primeira vez que lhe
aconteceu algo do género em Portugal.
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