HERE WE GO AGAIN !! Gestão do BES, Banco de Portugal e Governo estudam apoio estatal. |
Gestão do BES, Banco de Portugal
e Governo estudam apoio estatal
CRISTINA FERREIRA
01/08/2014 - PÚBLICO
Há várias soluções que o Estado pode seguir para ajudar o BES a sair do
impasse: emissão de uma garantia do Estado, apoio formal à nova gestão,
separação dos activos tóxicos para serem geridos na esfera pública e venda a
privados da parte rentável; injecção de fundos estatais; ou uma recapitalização
através da linha criada pela troika.
Perante a
declaração histórica dos maiores prejuízos [apesar de semestrais] de sempre da
economia portuguesa, de quase 3,6 mil milhões de euros, o Estado prepara-se
para ter um papel decisivo na resolução do dossier BES, no contexto da União
Bancária europeia.
Com os analistas
a estimarem as necessidades de financiamento do BES entre 4 e 3 mil milhões de
euros (mais de metade do seu capital), as cotações a caírem a pique e os
clientes do banco a darem sinais de inquietação, aumenta a pressão para que a
gestão encontre um desfecho rápido para estabilizar o banco.
O acerto final
das contas referentes à actividade semestral do BES traduziu-se num prejuízo de
3577 milhões e no registo de imparidade e contingências de 4253 milhões de
euros, o que levou o Banco de Portugal a neutralizar os interesses da família
Espirito Santo no banco. Os valores são expressivos e atiraram o rácio de
capital Core Tier 1 para 5%, abaixo dos 7% recomendados, o que impede o
BES de passar no exame dos testes de
stress europeus.
Foi, aliás, esta
situação que levou Vitor Bento, depois da apresentação das contas semestrais na
quarta-feira, a anunciar que encomendou o novo plano de recapitalização ao
Deutsche Bank, mas não informou se será por via pública, privada ou mista. O
tema esteve no centro do debate nesta quinta-feira. A agência Bloomberg
considerou que “o BES poderá precisar de fazer um aumento de capital até quatro
mil milhões de euros” e o BPI menciona um valor entre 3 e 4 mil milhões de
euros.
A hipótese de o
Estado apoiar o BES já foi afastada por Pedro Passos Coelho e por Maria Luís
Albuquerque, que poderão ser forçados a rever as suas declarações. O primeiro
sinal surgiu nesta quinta-feira pela voz de Luís Marques Guedes, que admitiu
potenciais “impactos para a economia” se a crise no Grupo Espírito Santo (GES)
se acentuar. O ministro da Presidência e dos Assuntos Parlamentares não
descartou uma participação do Estado na recapitalização do banco, mas defendeu
que “a primeira linha” de salvamento do BES “deve passar necessariamente
primeiro pelo mercado, pelos accionistas privados”.
Uma posição
alinhada com Carlos Costa, governador do Banco de Portugal, que já disse que recebeu manifestações de
interesse por parte de privados, o que também afirmou o presidente executivo
Vítor Bento. Um dos investidores que contactou as autoridades foi um fundo que
esteve activo na resolução da crise da banca grega. Por seu turno, o Bradesco,
accionista de referência do BES, avisou que não acompanhará o aumento de
capital projectado.
A questão é saber
se, sem o Estado a dar um sinal inequívoco de que intervém no banco, os
privados aceitam “meter-se” na instituição, pois a tendência é para contornar
os riscos. E são várias as questões ainda sem resposta: Qual é a verdadeira
situação do BES? Quem manda? Quem são os reais detentores do capital (há
posições a garantir dívida)? Qual a extensão das ilicitudes (nos primeiros seis
meses do ano, o BES criou veículos especiais para investirem em dívida emitida pelo próprio
banco)? Qual a natureza das potenciais litigâncias jurídicas e policiais? Que
garantias há de que as contas do próximo trimestre não trarão surpresas?
E há ainda o tema
da exposição da instituição ao GES, que se tornou incontornável, pois os
problemas da esfera familiar têm acabado a desaguar no BES, o que levou às
sucessivas emendas das contas.
Os desafios que
as autoridades têm pela frente impõem, portanto, decisões não precipitadas, mas
rápidas, para travar eventuais ondas de choque resultantes de novas revelações.
E impedir que a “insegurança” sobre a boa saúde do banco continue a contaminar
a confiança dos clientes.
Daí que, conforme
apurou o PÚBLICO, as autoridades estejam articuladas (BdP, Governo, Europa e
gestão do BES) a estudar (pela primeira vez) como é que, dentro do novo quadro
jurídico criado pela União Bancária, o Estado pode intervir no BES. Há várias
soluções (ou uma mistura delas): emissão de uma garantia pública, apoio formal
à nova gestão (Vitor Bento não foi indicado pelo Estado, mas pelos accionistas
e 20% do capital, detido pela família Espírito Santo, já perdeu o poder de
voto), separação dos activos tóxicos para serem geridos na esfera pública e
venda da parte rentável, e ainda a injecção de fundos estatais ou a
recapitalização pela linha criada pela troika, ainda em vigor.
Ao contrário de
2008, quando o BPN foi nacionalizado, em que não existia um quadro jurídico e o
Estado se responsabilizou pelas perdas, hoje há instrumentos que impedem que
sejam os contribuintes a assumir os prejuízos resultantes de erros de gestores
imprudentes e pouco sérios. E as consequências de uma intervenção estatal no
BES são “fortes” e imediatas: os accionistas “perdem” o que investiram, bem
como os detentores de dívida subordinada. Se, por hipótese (o que não é
provável), o Estado subscrevesse um aumento de capital de 3 mil milhões de
euros, ficaria com 70% do BES. O mesmo se passará se fossem privados.
Uma das vias que
tem sido, aliás, sugerida por Carlos Costa é a do recurso aos 6 mil milhões de
euros do fundo estatal de recapitalização. Mas já não será nos mesmos moldes
“suaves” que beneficiaram o BCP, o BPI e o Banif, dado que as regras (do regime
de transição) que decorrem da entrada em vigor da União Bancária são agora mais
severas. O governador do BdP garantiu já que a solvabilidade do BES não está em
causa.
Por enquanto, o
problema parece estar circunscrito ao segundo maior banco privado que voltou
nesta quinta-feira a sofrer na bolsa portuguesa, com os investidores a
reflectirem os receios em torno de novo reforço de capital. Mas o dia foi
sobretudo negro para os subscritores (muitos clientes de retalho) do último
aumento de capital de Maio (reforço de 1,04 mil milhões) colocado a 65 cêntimos
e que assistiram à queda a pique da cotação (42,07%) que fechou a 0,201 euros
(e esteve durante a manhã 0,16 euros). Já os restantes bancos encerraram com
quedas menos fortes: BCP (4,37%), BPI (0,99%), Banif (3,23%).
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