A vergonha dos Espírito Santo
Por Luís Rosa
publicado em 1
Ago 2014 in
(jornal) i online
A inibição de um Espírito Santo por parte do Banco de Portugal será uma
vergonha que a família nunca perdoará a Salgado
1. Imprudente,
agiota, vil ou criminosa. Independentemente do adjectivo escolhido, a gestão de
Ricardo Salgado no BES e no Grupo Espírito Santo conseguiu o inimaginável:
quebrar a confiança que os depositantes tinham num banco com quase 150 anos. A
onda de choque provocada pela revelação do buraco pornográfico de 3,577 mil
milhões de euros obriga o novo líder do BES, Vítor Bento, a agir rapidamente
para acalmar a enorme desconfiança que existe neste momento em todos os
depositantes. Bento tem de falar em público o mais cedo possível para
tranquilizar os depositantes e evitar uma corrida aos depósitos.
Um banqueiro
moderno entende que a principal função de um banco é conceder crédito, cobrar
juros, aplicar comissões atrás de comissões e gerar lucros anuais de centenas
de milhões de euros mas a primeira, obrigatória e imprescindível função é
bastante mais simples: assegurar a segurança dos fundos que lhe são confiados. E
os depositantes do BES começam a ter dúvidas de que as suas poupanças estejam
seguras. Vítor Bento, com a ajuda do Banco de Portugal e do governo, tem de
clarificar e dar tranquilidade aos clientes do BES.
No dia de hoje
sabe-se que o banco necessita, segundo o “Jornal de Negócios”, de 1,5 a 3 mil milhões de euros
– valor que pode ser retirado da linha de crédito da troika com um total de
6400 milhões de euros. A disponibilidade destes fundos para injectar no banco
deveria ser uma boa razão para tranquilizar o mercado, mas a incerteza continua
a pairar. Vítor Bento tem de falar nos próximos dias e assegurar que não há
razões para alarme social.
2. O comunicado
violento do Banco de Portugal de quarta-feira à noite (provavelmente o primeiro
da sua história) abriu a porta da rua à família Espírito Santo. Inibir os
direitos de voto da Espírito Santo Financial Group no BES equivale a dizer a
Ricardo Salgado: “Venda rapidamente e em força. Não queremos cá os Espírito
Santo!”
Além do buraco,
da suspensão imediata de três administradores com responsabilidades na área da
fiscalização e auditoria e da mais que certa participação criminal dos factos
apurados, Salgado arrisca-se a ser o primeiro Espírito Santo a ser inibido de
exercer funções em órgãos sociais de sociedades financeiras. Dito de outra
forma: tendo em conta a pena máxima de 10 anos, Ricardo Salgado pode não voltar
a ser banqueiro até ao final da sua vida. E com ele e por causa dele mais
alguns membros da família. Será, muito mais que uma acusação criminal ou
condenação em tribunal, o exemplo máximo da desgraça e da vergonha que Ricardo
Salgado provocou na família EspíritoSanto – algo que nunca lhe será perdoado.
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