EDITORIAL / PÚBLICO
Qual era a alternativa para
salvar o BES?
DIRECÇÃO
EDITORIAL 07/08/2014 - 00:21
A política misturou-se com o caso BES na Assembleia e o resultado foi uma
grande demagogia.
Maria Luís
Albuquerque foi nesta quinta-feira ouvida na comissão permanente da Assembleia
da República a propósito do Banco Espírito Santo (BES). Nem os partidos que
apoiam o Governo nem os da oposição saíram bem na fotografia. Num debate que
exigia serenidade, dada a sensibilidade com que o tema deveria ser tratado,
ninguém teve a preocupação de procurar discutir, aprofundar ou encontrar
alternativas ao modelo que foi escolhido pelo Banco de Portugal para salvar o
BES.
Nesta altura é
quase demagógico estar a comparar a actuação do Banco de Portugal e dos
governos nos casos BPN e BES, como fizeram ontem o PSD e o CDS. Na altura do
BPN, o contexto era outro, a emergência era outra e a própria legislação era
diferente. E as medidas de resolução que foram aplicadas agora para salvar o
BES resultaram de uma legislação que não é uma invenção deste Governo e dos
partidos da maioria. A nova lei está a ser implementada em toda a Europa de
forma concertada. Portugal teve foi o azar de estar a servir de cobaia.
À esquerda na
comissão permanente do Parlamento, partidos como o PCP e o Bloco mostraram que
o que os separa desta nova lei para salvar a banca é uma discordância
ideológica que parece insanável.
Já o Partido
Socialista, que teve a iniciativa de chamar a ministra ao Parlamento com
carácter de urgência, acabou por sair da audição fragilizado, já que se limitou
a criticar as opções do Governo e do Banco de Portugal sem nunca dizer o que
fariam os socialistas se fossem chamados a decidir. Nacionalizava-se o BES? Liquidava-se
o banco? Recapitalizava-se como se fez no BCP, BPI e Banif?
A medida da
resolução não será com certeza isenta de risco, como anda a propalar a ministra
das Finanças. Mas até agora parece ser a que mais protege o dinheiro dos
contribuintes.
Henrique
Granadeiro tem estado debaixo de fogo por causa do investimento em empresa do
Grupo Espírito Santo
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PT manda investigar a fundo
ligações ao Grupo Espírito Santo e Granadeiro demite-se
ANA BRITO
07/08/2014 - PÚBLICO
Gestor renuncia às funções na PT e diz que não convive bem “com os encargos
e responsabilidades de outros”. Administração diz que não sabia dos
investimentos na Rioforte e contrata auditor externo
Sai Henrique
Granadeiro, entram os auditores externos. Nesta quinta-feira, o presidente do
conselho de administração e da comissão executiva da Portugal Telecom (PT)
demitiu-se e ficou a saber-se que os administradores da operadora contrataram a
PriceWaterhouseCoopers(PwC) para “realizar uma análise abrangente de todos os
aspectos relevantes relacionados com as aplicações de tesouraria em entidades
do Grupo Espírito Santo”.
Num comunicado
enviado à CMVM, a administração da PT diz que nem o conselho, nem a comissão
executiva, “aprovaram ou discutiram” os investimentos na Rioforte, mas querem o
tema investigado a fundo. Entre outros aspectos, a administração quer saber se
houve alguma irregularidade na forma como os investimentos na Rioforte foram
reportados aos órgãos de liderança, apurou o PÚBLICO.
O comunicado da
PT nada refere quanto ao período temporal que deverá ser abrangido pela
auditoria, mas o PÚBLICO sabe que estão em causa as relações financeiras com o
BES e o GES (que remonta a 2000, quando as duas empresas assinaram uma parceria
estratégica e trocaram participações accionistas) nos últimos anos e não apenas
os financiamentos de 900 milhões de euros que causaram a polémica. Actualmente
a PT tem 2% do “BES mau” e o “BES bom” tem cerca de 10% da PT.
Granadeiro, que
tem estado debaixo de fogo desde que se tornou pública a aplicação da PT em
papel comercial da Rioforte (holding não financeira do GES - Grupo Espírito
Santo), sai, mas deixa recados. “Convivo bem com os meus actos, mas não com os
encargos e responsabilidades de outros”, escreve Granadeiro na carta de
renúncia enviada ao conselho de administração e a que o PÚBLICO teve acesso.
Até à data, só
Henrique Granadeiro e Luís Pacheco de Melo (administrador financeiro da PT) têm
sido associados ao investimento na Rioforte. Mas agora o presidente cessante
espera que a auditoria encomendada pelo conselho de administração da PT venha
fazer-lhe justiça. “Estou seguro que a auditoria externa e independente (…)
evidenciará os processos e as causas do incidente e demonstrará que sempre agi
no melhor interesse da Portugal Telecom”, escreve o gestor.
A notícia da
demissão de Granadeiro foi adiantada pelo Jornal de Negócios e confirmada uma
hora e meia mais tarde pela PT em comunicado enviado à CMVM. Mas esse é parco
em relação a palavras sobre a actuação do presidente cessante. “O Presidente do
Conselho de Administração e da Comissão Executiva da PT, Dr. Henrique
Granadeiro, informou hoje o Conselho de Administração que, tendo conduzido todos
os trabalhos necessários para garantir a convocação de uma AG e toda a
informação aos accionistas, apresentou a sua renúncia de todas as funções que
detém no Conselho de Administração”, lê-se no comunicado da PT.
Já Granadeiro
assegura que, “desde a primeira hora”, desde que foi “surpreendido com a
situação de incumprimento generalizado das obrigações do BES para com a PT no
quadro da implosão” do GES, entendeu dever “assumir o encargo de evitar ou
minorar” as consequências do default do GES na avaliação patrimonial da PT “e
na continuidade do processo de fusão com a Oi”.
E nesse âmbito o
gestor assegura que “defendeu até ao limite os interesses do grupo”, em
particular da PT SGPS, “desenvolvendo todas as diligências necessárias ao
cumprimento pelo BES – e não só pela Rioforte – das obrigações e compromissos
assumidos” quer perante a PT, quer pela Oi. Mais recados.
A fim de “deixar
plena liberdade” à administração da empresa para “conduzir os trabalhos
preparatórios” da assembleia-geral de accionistas (onde serão votados os termos
do novo acordo anunciado a 16 de Julho para salvar a fusão com a Oi),
Granadeiro sai. Mas pelo meio, fica outro recado: “Entendo que devo renunciar
ao cargo de presidente do CA, seguindo a recomendação da CE da Portugal Telecom
SGPS”, escreve o ex-chairman da PT.
Depois da saída
de Henrique Granadeiro, o conselho de administração da PT é composto por Luís
Pacheco de Melo, Alfredo Baptista, Carlos Alves Duarte, Manuel Rosa da Silva,
Pedro Leitão, Shakhaf Wine (que são administradores executivos), Francisco
Soares, Gerald McGowan, João Mello Franco, José Basto, Helena Nazaré, João
Matos Gomes, Milton Vargas, Nuno Vasconcellos, Rafael Mora (ambos em
representação da Ongoing) e Paulo Varela (Visabeira).
Estes
responsáveis vieram “clarificar” na nota enviada ontem ao supervisor da bolsa
“que, em relação às aplicações de tesouraria na Rio Forte Investments S.A.
(“Rioforte”), nem o Conselho de Administração nem a Comissão Executiva da PT
aprovaram ou discutiram, antes das notícias veiculadas na comunicação social no
final de Junho, essas aplicações”.
Por esse motivo,
o CA PT “mandatou directamente a PriceWaterhouseCoopers(PwC) para analisar, de
forma independente, os procedimentos e actos relativos a este assunto até à
data”. O PÚBLICO sabe que a comissão de auditoria da operadora de
telecomunicações, encabeçada por João Mello Franco, está também a concluir um
relatório sobre estes investimentos.
A notícia da
auditoria foi avançada pelo Expresso, que deu conta de um pedido de auditoria
forense, o tipo específico de auditoria destinado a perceber se há algum
indício de crime. Segundo o Expresso, o objectivo do conselho de administração
da PT é perceber se houve alguma irregularidade nas aplicações de tesouraria
realizadas pela empresa no GES ao longo destes anos. A administração da PT
nunca refere o termo forense, mas esta não é uma auditoria corrente, destinada
a validar as contas que são apresentadas aos accionistas. As auditorias
forenses realizam-se quando há dúvidas ou situações que levantam suspeitas que
precisam de ser esclarecidas, que é o que o conselho de administração pretende.
Vítor Bento não exclui redução de
trabalhadores e balcões no Novo Banco
Por Ana Suspiro
publicado em 7
Ago 2014 in
(jornal) i online
O presidente do
Novo Banco, que sucedeu ao Banco Espírito Santo (BES), admitiu ontem que “vai
ter que haver um redimensionamento do banco”. Na primeira entrevista no cargo,
dada à SIC, Vítor Bento reconheceu mesmo que é provável que esse processo
atinja o número de trabalhadores e de balcões do terceiro maior banco
português. Será um plano a acertar com os “stakeholders” (partes interessadas)
da instituição.
Esta
possibilidade deixada em aberto contrasta com o discurso feito horas antes no
Parlamento pela ministra das Finanças. Para Maria Luís Albuquerque, a solução
encontrada para resgatar BES é que “melhor defende todos os interesses em
jogo”: trabalhadores, depositantes e contribuintes
A gestão do novo
banco vai apresentar um plano de reestruturação, no prazo de um a três meses,
cujo principal objectivo será o de assegurar que o capital que foi colocado
nesta solução “é totalmente reembolsado”. No entanto, Vítor Bento foi logo
avisando que: “milagres não sei fazer”. O plano irá também contemplar a venda
de activos, uma estratégia que terá de encontrar um equilíbrio entre o impacto no
capital e a geração de rendimento do que for alienado.
Apesar do Novo
Banco ter recebido um capital de 4900 milhões de euros, a prioridade será
reembolsar a parte que foi financiada pelo Estado, através da linha de troika,
e que está actualmente em 3900 milhões de euros. A venda do banco que ficou com
os activos bons do BES será a principal forma de devolver os fundos ao Estado. Contudo
o esforço de garantir que a nova entidade é viável, e portanto passível de
atrair investimento, “é um desafio que vai levar o seu tempo”, sublinhou Vítor
Bento. E o tempo limite da nova gestão do banco são os dois anos do prazo
limite do empréstimo concedido pelo Estado ao Fundo de Resolução da Banca.
Vítor Bento
deixou contudo a garantia: “O banco hoje é mais seguro e mais forte do que era
na sexta-feira”, reafirmando que os depositantes estão protegidos.
O gestor que veio
da SIBS (Sociedade Interbancária de Serviços)
e não tinha conta no BES – agora já tem – confidenciou que hesitou em
aceitar o convite para presidir ao Banco Espírito Santo. “Eu tinha a melhor
vida possível. Era bem pago e tinha tempo para a actividade cívica”.
Vítor Bento, que
se demitiu do Conselho de Estado depois de assumir a presidência do BES,
revelou que recebeu apelos a um sentido de missão e de dever patriótico para
evitar uma débâcle financeira. E quando o desafio lhe foi colocado, lembra, o
quadro não era tão dramático.
O gestor, que
assumiu a presidência do BES num domingo a 14 de Julho, mas que desde
segunda-feira tem a sua equipa, justificou que deu a entrevista depois de muita
gente insistir para que desse a cara
para explicar as implicações da intervenção no banco. Bento realçou contudo que
apesar do silêncio que manteve até ontem, a sua cara é a que mais tem aparecido
na imprensa nos últimos dias.
O presidente do
Novo Banco não negou ainda que alguns depositantes terão saído – ontem o jornal “Público” noticiava que a
Caixa tinha recebido 200 milhões de euros de depósitos no dia a seguir ao
resgate do BES. Mas, sublinhou na SIC: “se alguns saíram, a sua grande maioria
mantém o contrato com o banco”, desvalorizando o impacto das saídas.
Caso BES é exemplo da “ligação
entre o poder político e o poder financeiro”, diz Manuel Monteiro
SÃO JOSÉ ALMEIDA
07/08/2014 - PÚBLICO
Antigo líder do CDS comenta caso BES e critica proximidade de políticos da
direita portuguesa com o sector bancário.
Manuel Monteiro,
antigo líder do CDS, afirmou ao PÚBLICO que “a quantidade de consultores” do
sector bancário que são políticos, “é um exemplo da permanente ligação entre o
poder político e o poder financeiro”. Isto porque, “num país tão pequeno nada
se passa sem que haja ligações entre todos”. E concretiza que “nomeadamente o
Banco Espírito Santo tem tido ao longo dos anos pessoas ligadas à direita
portuguesa”. O antigo deputado à Assembleia da República considera que “este é
um dos problemas centrais da democracia portuguesa”.
Indo mais longe,
Monteiro afirma que os responsáveis dos “partidos da área da direita
portuguesa, ao longo dos anos, têm circulado de uma forma constante entre tomar
posições políticas e dar pareceres para empresas da área financeira”. E conclui
que “é óbvio que se perde a independência de ambas as partes e que isso
prejudica o funcionamento da democracia.
Monteiro
considera que “é lamentável percebermos o Estado a que chegámos perante uma
conivência cúmplice e silenciosa da própria direita portuguesa”. E precisa: “A direita,
tal como eu sempre a entendi, não é aquela que se rende perante a ausência de
valores, nos quais a ética e a honra têm de estar sempre presentes em qualquer
sociedade. Aquilo que se verifica é que a direita com responsabilidades em
Portugal ou vai atras do prejuízo ou é conivente com o prejuízo.”
O antigo líder do
CDS sustenta que esta situação leva a que “face a todas as soluções que são
encontradas, a primeira reacção é de desconfiança em relação aos políticos que
as tomam”. No seu caso particular garante que tem “a maiores dúvidas na solução
encontrada”, pelo que considera que “a história dirá a quem isto beneficiou
principalmente”.
As dúvidas de
Monteiro prendem-se ao facto de Portugal ter “um tecido empresarial cujo grau
de endividamento, que ficou no banco bom, estava dependente e associado a
acções e obrigações que ficaram no banco mau”. Uma situação que, na sua
opinião, “pode vir a gerar gravíssimos problemas de tesouraria por parte
considerável de pequenos e médios empresários”.
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