quarta-feira, 6 de agosto de 2014

Está na hora de Vítor Bento falar


Está na hora de Vítor Bento falar
Por Eduardo Oliveira Silva
publicado em 7 Ago 2014 in (jornal) i online

A palavra do presidente do Novo Banco é essencial para clientes e mercados definirem se têm confiança na solução

Já muitas entidades oficiais falaram sobre o caso BES/GES, que deixou de ser divisível quando se conheceu a exposição do banco ao grupo. Depois do resgate do banco, anunciado domingo, o governador do Banco de Portugal e a ministra das Finanças vieram a público explicar parte do muito que aconteceu numa semana louca.
Hoje ambos voltam a falar na Assembleia da República. Legitimamente, os portugueses esperam ouvir algumas novidades, boas ou más, mas querem saber a verdade possível a respeito da situação e do seu impacto no sistema bancário e na economia em geral, tanto em termos empresariais como nas contas do Estado. É de esperar que as audiências sejam duras, já que a oposição, e mesmo alguns elementos da maioria, manifestam grande mal-estar relativamente à forma como todo o processo foi conduzido.
Apesar do interesse que rodeia as audições, há ainda mais expectativa relativamente ao que terá para dizer e explicar Vítor Bento, a quem ficaria muito bem vir a público rapidamente por iniciativa própria.
Vítor Bento não assinou o balanço do BES, mas já o dirigia quando foi tornado público o catastrófico documento referente ao primeiro semestre de 2014 que reportava prejuízos de 3577 milhões de euros (mais de 700 milhões de contos), na sequência do qual o banco se desmoronou na bolsa, originando a sua divisão para tentar salvar a parte supostamente saudável.
Na sequência desse processo, Vítor Bento tornou-se, domingo à noite, presidente do chamado Novo Banco, conhecido já por banco bom, por contraponto ao banco mau, em que ficaram os activos tóxicos e os dinheiros da família Espírito Santo, através de uma espécie de confisco, cujos contornos legais e constitucionais terão – supõe-se – de ser confirmados.
Ora uma vez que Vítor Bento ficou à frente da parte supostamente viável, seria bom que se apressasse a vir a público explicar como pretende actuar, com que prazos e quais as conclusões que tirou de tudo o que aconteceu, juntando ainda algumas explicações sobre as surpresas que encontrou quando chegou ao BES.
Eventualmente, o líder do Novo Banco pode achar que é cedo e que o segredo é a alma do negócio. Mas neste caso não é. É certo que tudo acontece de um dia para o outro ou em horas. Exactamente por isso, o Novo Banco precisa de gerar um clima efectivo de confiança e tranquilidade. Para esse efeito, a credibilidade pessoal de Vítor Bento pode ser um trunfo. Nos mercados não há grande necessidade porque se trata de alguém com reputação sólida. Mas, sendo o Novo Banco uma entidade de retalho que se relaciona com os cidadãos normais e com empresas, é indispensável que o seu líder apareça, se exponha e assuma pessoalmente a estratégia que estabeleceu.

Por mais importantes que sejam os depoimentos de Maria Luís Albuquerque e Carlos Costa para perceber os meandros do caso, o importante mesmo é ouvir quem agora tem nas mãos aquele que até há dias era o maior banco privado português.

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