Está na hora de Vítor Bento falar
Por Eduardo
Oliveira Silva
publicado em 7 Ago
2014 in
(jornal) i online
A palavra do presidente do Novo Banco é essencial para clientes e mercados
definirem se têm confiança na solução
Já muitas
entidades oficiais falaram sobre o caso BES/GES, que deixou de ser divisível
quando se conheceu a exposição do banco ao grupo. Depois do resgate do banco,
anunciado domingo, o governador do Banco de Portugal e a ministra das Finanças
vieram a público explicar parte do muito que aconteceu numa semana louca.
Hoje ambos voltam
a falar na Assembleia da República. Legitimamente, os portugueses esperam ouvir
algumas novidades, boas ou más, mas querem saber a verdade possível a respeito
da situação e do seu impacto no sistema bancário e na economia em geral, tanto
em termos empresariais como nas contas do Estado. É de esperar que as
audiências sejam duras, já que a oposição, e mesmo alguns elementos da maioria,
manifestam grande mal-estar relativamente à forma como todo o processo foi
conduzido.
Apesar do
interesse que rodeia as audições, há ainda mais expectativa relativamente ao
que terá para dizer e explicar Vítor Bento, a quem ficaria muito bem vir a
público rapidamente por iniciativa própria.
Vítor Bento não
assinou o balanço do BES, mas já o dirigia quando foi tornado público o
catastrófico documento referente ao primeiro semestre de 2014 que reportava
prejuízos de 3577 milhões de euros (mais de 700 milhões de contos), na
sequência do qual o banco se desmoronou na bolsa, originando a sua divisão para
tentar salvar a parte supostamente saudável.
Na sequência
desse processo, Vítor Bento tornou-se, domingo à noite, presidente do chamado
Novo Banco, conhecido já por banco bom, por contraponto ao banco mau, em que
ficaram os activos tóxicos e os dinheiros da família Espírito Santo, através de
uma espécie de confisco, cujos contornos legais e constitucionais terão –
supõe-se – de ser confirmados.
Ora uma vez que
Vítor Bento ficou à frente da parte supostamente viável, seria bom que se
apressasse a vir a público explicar como pretende actuar, com que prazos e
quais as conclusões que tirou de tudo o que aconteceu, juntando ainda algumas
explicações sobre as surpresas que encontrou quando chegou ao BES.
Eventualmente, o
líder do Novo Banco pode achar que é cedo e que o segredo é a alma do negócio. Mas
neste caso não é. É certo que tudo acontece de um dia para o outro ou em horas.
Exactamente por isso, o Novo Banco precisa de gerar um clima efectivo de
confiança e tranquilidade. Para esse efeito, a credibilidade pessoal de Vítor
Bento pode ser um trunfo. Nos mercados não há grande necessidade porque se
trata de alguém com reputação sólida. Mas, sendo o Novo Banco uma entidade de
retalho que se relaciona com os cidadãos normais e com empresas, é
indispensável que o seu líder apareça, se exponha e assuma pessoalmente a
estratégia que estabeleceu.
Por mais
importantes que sejam os depoimentos de Maria Luís Albuquerque e Carlos Costa
para perceber os meandros do caso, o importante mesmo é ouvir quem agora tem
nas mãos aquele que até há dias era o maior banco privado português.
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