O que é que num clube de bairro, centenário mas endividado, pode interessar a um grão-mestre da maçonaria e a autarcas do PSD? |
Clube centenário de Lisboa
cobiçado pela maçonaria e pelo PSD
JOSÉ ANTÓNIO CEREJO 02/08/2014 - PÚBLICO
Assembleia eleitoral vai fazer-se num hotel com a polícia à porta.
Presidente da mesa é grão-mestre da Grande Loja Legal de Portugal. Autarcas do
PSD entraram para sócios antes das eleições.
O que é que num clube de bairro, centenário mas endividado, pode interessar
a um grão-mestre da maçonaria e a autarcas do PSD?
A pergunta anda
há meses na cabeça de centenas de sócios do Sport Futebol Palmense, uma
associação criada em 1910 na Palma de Baixo, entre a Estada da Luz e a
Universidade Católica de Lisboa. A resposta, contudo, não se lhes afigura
fácil.
Na síntese de
alguns velhos sócios, que alegam recear pala sua segurança para não dar o nome,
o clube está a assistir desde há uns dois anos a “um assalto” protagonizado por
pessoas acabadas de chegar e com intuitos que não compreendem.
O confronto entre
a tradição Palmense e os novos sócios tem-se vindo a agudizar e na quarta-feira
à noite chegou a haver gritos e seguranças privados em frente ao clube. Dezenas
de novos sócios, com raros apoios entre os antigos, apareceram no local para
promoverem uma candidatura aos órgão sociais, sem que os nomes dos candidatos
sejam conhecidos. Mas os do bairro não estiveram pelos ajustes.
A sessão, que não
chegou a realizar-se, tinha sido marcada pela direcção — cujo presidente está a cumprir uma penas de
prisão desde Março e da qual já se demitiu uma grande parte dos membros — e a convocatória das eleições, a realizar
na próxima segunda-feira, tinha sido feita pelo presidente da Assembleia Geral
sem o conhecimento dos restantes elementos da mesa.
Entre os novos
sócios presentes encontrava-se Rodrigo Gonçalves, anterior presidente da junta
de freguesia local — a de São Domingos
de Benfica — e actual deputado municipal. O autarca, que é também
vice-presidente do PSD de Lisboa e membro do Conselho Nacional do mesmo
partido, está a ser julgado por agressão a um outro presidente de junta do PSD
e foi recentemente acusado de corrupção passiva pelo Ministério Público.
Ricardo Crespo, o
cabeça de lista pelo PSD à junta local nas eleições de Setembro, a cuja lista
derrotada pertencia também o presidente do clube que está na cadeia, também lá
se encontrava, garantem várias testemunhas.
Quem lá não
estava era o presidente da Assembleia Geral, o advogado José Francisco Moreno,
que ocupa desde 2010 o lugar de grão-mestre da Grande Loja Legal de Portugal e
fez parte do gabinete de Manuela Ferreia Leite, quando esta era ministra.
Ontem mesmo os
outros três membros da mesa da assembleia mandaram-lhe uma carta a pedir uma
reunião urgente por não terem sido vistos nem achados na convocatória das
eleições e para pedirem explicações sobre o processo de adesão de novos sócios,
que tem sido conduzido por um colaborador de José Moreno não pertencente aos órgãos sociais.
Para os que se
consideram filhos do bairro, nados e criados no clube, a ofensa maior
traduziu-se entretanto na convocação da assembleia geral eleitoral de
segunda-feira. Esta não se fará na sede, como sempre, mas no Hotel Ibis, na Av.
José Malhoa.
À porta da sala
deverá haver agentes da PSP e só poderão entrar os sócios com quotas em dia. Nelson
Martins, um dos membros da anterior direcção que está do lado de José Moreno e
Rodrigo Gonçalves, disse ao PÚBLICO que a reunião se fará no hotel e terá
polícia à porta “porque vai haver muita gente e há pessoas que têm atitudes
menos próprias”. Nelson Martins recusa motivações políticas na adesão dos novos
sócios. Diz que “são cerca de 300 e alguns até são da oposição”.
Os nomes dos
candidatos aos órgão sociais, explica, só serão conhecidos na assembleia
“porque a oposição não quis que se fizesse a sessão de quarta-feira”. Quanto à
legalidade da convocação do acto eleitoral, Nelson Martins está confiante: “Eu
não estou a ver o dr. Moreno a ser parvo. Ele sabe o que está a fazer. Ele não
vai meter o pé na argola.”
Da parte dos
adversários do grupo dos novos sócios, Carlos Gonçalves, um dos
vice-presidentes que se demitiu logo no início do mandato “por ver o rumo
ilegal que as coisas estavam a levar”, é um dos que não entende o que está a
acontecer no Palmense. “Isto é tudo muito estranho. Não percebo porque é que há
um grupo de pessoas que nunca teve nada a ver com o clube e querer tomar o poder,
custe o que custar”, afirma.
O PÚBLICO tentou
falar durante a tarde desta sexta-feira com Rodrigo Gonçalves e com José
Moreno, mas não obteve resposta.
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