Estamo vai vender o edifício da
Alfândega, que foi o antigo celeiro pombalino de Lisboa
Movimento cívico pede classificação do edifício, no Terreiro do Trigo, pelo
menos como monumento de interesse público
Património /
Marisa Soares / 6-11-2014 / PÚBLICO
A Estamo,
imobiliária de capitais exclusivamente públicos, pôs à venda o edifício do
antigo Celeiro Público de Lisboa, onde funcionou a Alfândega, situado no
Terreiro do Trigo. O imóvel é um dos nove que a empresa está a tentar alienar,
em pacote, no valor global de 37,25 milhões de euros.
O imponente
edifício, com três andares e cerca de 110 metros de comprimento por 30 de
largura, foi construído entre 1765 e 1768 para guardar as toneladas de cereais
que ali eram deixadas pelos barcos que cruzavam o estuário do Tejo. No anúncio
da venda, a empresa destaca a localização deste imóvel, bem servida de
transportes públicos, “numa zona mista entre comércio, serviços e habitação”,
perto do local onde vai nascer o novo terminal de cruzeiros de Santa Apolónia.
Pela “importância
arquitectónica e histórica indiscutível” do edifício, os membros do movimento
cívico Fórum CidadaniaLx consideram “incompreensível” que este esteja ainda por
classificar, “no mínimo como Monumento de Interesse Público”.
Numa carta
dirigida ao presidente da Câmara de Lisboa, António Costa, e ao director-geral
do Património Cultural, Nuno Vassallo e Silva, os membros do Fórum apelam “para
que façam justiça” a este que é “um dos maiores edifícios de génese pombalina”
da capital. Os signatários defendem a rápida classificação do imóvel,
considerando que “será relativamente fácil reunir a memória descritiva” para
elaborar a proposta.
Segundo a
informação disponível no site Monumentos, o edifício apenas está parcialmente
incluído na zona de protecção do castelo de São Jorge e dos restos das cercas
de Lisboa.
O antigo Celeiro
Público foi destinado para Alfândega pelo marquês de Pombal e funcionou como
tal até ao Estado Novo, quando foi transformado no chamado Palácio das
Finanças. Recentemente estiveram ali instalados, além da Direcção-Geral de
Contencioso e Controlo Aduaneiro de Lisboa, outros serviços da DirecçãoGeral
das Alfândegas e dos Impostos Especiais sobre o Consumo.
Nas paredes dos
corredores dos pisos superiores, há lambris de azulejos setecentistas com desenhos
de cenas de descarga, medição, armazenagem e despacho do trigo.
“Os acabamentos
interiores são correntes com reboco pintado nas paredes e tectos abobadados,
pavimentos em madeira e linóleo nas salas de trabalho e em linóleo nos
corredores, sendo os revestimentos nos átrios em pedra, assim como as escadas”,
lê-se no anúncio da imobiliária. O edifício tem uma área bruta de construção de
quase 10 mil metros quadrados. A Estamo comprou este espaço ao Estado em 2010
por 6,7 milhões de euros.
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