Vital diz que o esquema dos
vistos gold fracassou e defende criação de comissão independente
MARGARIDA GOMES
19/11/2014 - PÚBLICO
O constitucionalista entende que o Governo deve reflectir sobre a
atribuição dos vistos dourados e aponta medida para atenuar a corrupção.
Vital Moreira
afirma que o esquema dos vistos gold em Portugal falhou, abrindo as portas à
corrupção, e propõe medidas que podem prevenir e atenuar a corrupção na
atribuição destes vistos a cidadãos de estados terceiros.
“A facilidade com
que este esquema, aparentemente, se desenhou, mostra que o sistema precisava de
cautelas e garantias que não foram prevenidas”, declarou Vital Moreira,
preconizando uma reflexão sobre o assunto. E porque considera que é “muito
difícil evitar a corrupção”, o ex-eurodeputado, reclama “mais informação e mais
transparência”.
Na véspera do
vice-primeiro-ministro e ministro de Estado, Paulo Portas, ser ouvido na
Comissão Parlamentar de Economia a propósito da criação dos vistos gold, por
iniciativa do PCP, o constitucionalista Vital Moreira defende a criação de uma
comissão independente a nível governamental pela qual todas as candidaturas aos
vistos gold tenham forçosamente de passar.
Em declarações ao
PÚBLICO, Vital Moreira não se detém muito nos contornos da “lamentável história
dos vistos gold”, que levou à demissão de Miguel Macedo de ministro da
Administração Interna, mas afirma que “os decisores políticos são politicamente
responsáveis por não terem adoptado os mecanismos necessários para evitar abusos”.
Para o cabeça de
lista do PS ao Parlamento Europeu em 2009, “há meios típicos para prevenir ou
atenuar - não digo evitar, porque corrupção haverá sempre -, e limitar o efeito
corruptógeno dessas situações”. A par da “transparência e informação”, proclama
a criação de uma comissão independente de controlo”, afirmando que “teria sido
uma sábia decisão para limitar os efeitos criptógenos destes mecanismos”.
Declarando que a
“União Europeia tem de se preocupar se os Estados-membros abusarem da sua
competência em matéria de vistos gold”, para além de “ter uma palavra a dizer
no sentido de disciplinar e de estabelecer regras mínimas”, Vital entende que
está na altura de se fazer um balanço da medida que em vigor há praticamente um
ano e meio.
“Mais do que se
pensar no que se devia de ter feito, é pensar naquilo que se deve fazer para
melhorar o sistema e impedir que situações como a que ocorreu [no caso da
Operação Labirinto no âmbito da qual foram investigadas 11 pessoas, cinco dos
quais estão presos por corrupção na atribuição dos vistos gold]” na semana
passada, defendeu ainda o especialista na área do Direito Europeu.
Fernando Froufe,
professor de Direito Europeu na Universidade do Minho, também entende que “é
imperioso” fazer uma avaliação dos
vistos gold. “Nunca podemos perder de vista que se trata de uma medida
excepcional”, diz.
Embora não
simpatize com a ideia, Pedro Froufe declara que se “deve restringir mais, de
forma a que estas situações sejam efectivamente excepcionais”. O professor de
Direito Europeu discorda de dois dos critérios que estão fixados para
atribuição de visto gold: 500 mil euros para investimento em imobiliário e a
criação de dez postos de trabalho em investimento empresarial” e questiona se a
medida, quando foi lançada por Portugal, foi dada a conhecer às instituições
europeias.
“Somos um
Estado-membro integrado que advém do nosso processo de integração, por isso
importa saber se a medida foi negociada, acordada ou pelo menos dada a conhecer
previamente no âmbito do Conselho [Europeu] e das instituições europeias”,
declara, frisando que se “trata de uma obrigação geral dos Estados-membros por
força do princípio de lealdade comunitária”, observa o docente.
Pedro Froufe
reconhece que, se se fizer uma avaliação pelo lado económico, pelo lado da
captação e investimento “há um balanço positivo”, mas a questão – afirma – não
é essa. “Não podemos confundir a árvore com a floreta, porque é precioso fazer
uma avaliação global de quais as vantagens e desvantagens, mesmo sob o ponto de
vista político-simbólico”, defende. Para questionar: “Não sei até que ponto é
que mil e 100 milhões de euros poderão, eventualmente, compensar alguns danos
em termos da tal responsabilidade de cooperação e lealdade europeia”.
O especialista em
Direito Europeu recorda o que aconteceu no Canadá, que terá sido o primeiro
país a apostar nos vistos gold, uma política que acabaria por ser abandonada,
porque o Governo percebeu duas coisas: “Primeiro, que era uma fonte de
potenciais problemas; segundo que se tratava de uma medida excepcional”.
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