Embora
admita que a investigação seja da responsabilidade dos Estados-membros, Ana
Gomes adverte, no entanto, que a atribuição dos vistos gold “interfere com a
integridade e segurança do sistema de Schengen”.
Ana Gomes desafia Comissão
Europeia a discutir vistos gold
MARGARIDA GOMES
17/11/2014 - PÚBLICO
Eurodeputada já escreveu aos novos comissários para tomarem uma posição.
Comissão Europeia diz que compete a Portugal investigar o caso.
A eurodeputada
socialista Ana Gomes quer a Comissão Europeia (CE) a discutir os vistos gold,
“um esquema” que considera “altamente indutor de corrupção e criminalidade”.
“Perante este
escândalo que aconteceu, a Comissão Europeia não pode ficar quieta em relação a
Portugal, nem em relação a outros países que também atribuem os vistos gold”,
declarou Ana Gomes ao PÚBLICO, revelando que já escreveu aos novos comissários
europeus responsáveis pela comissão de Justiça, Liberdade e Assuntos Internos
para que o tema dos vistos gold seja discutido rapidamente”.
A eurodeputada do
PS revela que decidiu escrever à CE depois de ter informações relativas “à
circulação de malas de dinheiro, provenientes dos visto gold”. A carta aos
novos comissários seguiu esta segunda-feira.
Ana Gomes não
aceita a posição assumida pela porta-voz executivo comunitário para os Assuntos
Internos, Natasha Bertaud, que disse que compete a Portugal a investigação de
suspeitas de corrupção na atribuição daqueles vistos, uma vez que as condições
de permanência de cidadãos de países terceiros são competência nacional.
“Os
Estados-membros determinam as condições de entrada e permanência de nacionais
de países terceiros. Alegações de corrupção neste domínio devem ser
investigadas a nível nacional”, acrescentou Natasha Bertaud à Lusa.
Embora admita que
a investigação seja da responsabilidade dos Estados-membros, Ana Gomes adverte,
no entanto, que a atribuição dos vistos gold “interfere com a integridade e
segurança do sistema de Schengen”. A eurodeputada, que há muito tempo anda
atenta a este tema, considera que “Portugal não estava preparado para ter um
sistema destes”, que – sublinha – “para além de ser ilegal, é imoral, porque
favorece a corrupção, a importação da criminalidade organizada e viola a directiva
relativa ao branqueamento de capitais”.
O também
eurodeputado João Ferreira, do PCP, diz que o que se está a passar “é muito
grave” a declara que a demissão do ministro da Administração Interna, Miguel
Macedo, não resolve o problema, porque o que aconteceu põe em causa a
“credibilidade das instituições”. “E o problema da credibilidade que tem origem
na própria política do Governo, que é errada e potencia este tipo de práticas
como branqueamento de capitais e lavagem de dinheiros”, aponta João Ferreira.
“Sem prejuízo que
a questão legal seja devidamente apurada, há aqui uma questão política da maior
relevância e não fica resolvida com a saída do ministro Miguel Macedo. Esta
questão tem a ver com a credibilidade das instituições”, reforça o eurodeputado,
referindo que o Parlamento Europeu já fez um debate sobre a atribuição de
vistos gold onde o nome de Portugal foi mencionado e onde foi revelado que
havia riscos.
João Ferreira
afirma ainda que “estes vistos servem para a compra da nacionalidade” e que o
escândalo que agora rebentou “seria suficiente para o Presidente da República
demitir o Governo e convocar eleições legislativas antecipadas”.
Com o visto gold,
os cidadãos oriundos de países terceiros podem circular no espaço Schengen, que
inclui quase todos os países da União Europeia, mais Islândia, Liechtenstein,
Noruega e Suíça.
Bulgária, Chipre,
Croácia, Irlanda, Reino Unido e Roménia são Estados-membros que não integram o
espaço de livre circulação. com Lusa
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