Regresso ao tempo dos chicos
espertos
Por Luís Rosa
publicado em 21
Nov 2014 in
(jornal) i online
Casos BES, PT e Visa Gold
destruíram a credibilidade recuperada nos últimos quatro anos
É um paradoxo mas
não é menos verdadeiro por isso. Dizer que a política de austeridade dos
últimos quatro anos empobreceu a população e desgastou definitivamente a
maioria PSD/CDS é tão certo como afirmar que, no mesmo período, a credibilidade
externa do país nos mercados internacionais foi recuperada em grande medida
depois do descalabro orçamental e da dívida pública do governo de José
Sócrates. Com muito sangue, suor e lágrimas pelo caminho. Com a destruição de muitos
postos de trabalho e criação de outros. E com um crescimento económico ainda
muito ténue, mas com outra percepção dos investidores internacionais do nosso
país.
Essa
credibilidade que nos custou tanto a reconquistar, contudo, desvaneceu-se num
piscar de olhos com os casos BES, PT e Visa Gold. Se antes tínhamos a imagem de
um país parecido com a Grécia, que aldrabava um pouco as contas do Estado
desorçamentando tudo o que estivesse relacionado com obras públicas, com os
casos atrás referidos voltamos a ter a imagem de chicos espertos e a dar razão
aos preconceitos dos países do Norte da Europa, que não acreditam na palavra e
no rigor dos portugueses.
Os casos BES e PT
são o resultado, em primeiro lugar, de falhas muito graves de governo interno
de duas das sociedades mais importantes do mercado nacional. Dito de outra
forma, os órgãos internos de fiscalização de cada uma das sociedades, pagos a
peso de ouro, pura e simplesmente não existiram. Comités de auditoria,
conselhos fiscais ou até mesmo conselhos de administração inteiros fizeram
exactamente o mesmo que Nuno Godinho de Matos, ilustre advogado e
ex-administrador do BES, confessou ao i ter feito em todas as reuniões de
administração do BES em que participou durante seis anos: "Entrava mudo e
saía calado." O mesmo se diga da PT, cujo conselho de administração,
liderado por Zeinal Bava, se limitou a seguir pedidos do BES de subscrição de
900 milhões de euros de dívida do Grupo Espírito Santo, contra o interesse
geral da sociedade e dos restantes accionistas, ou a subscrever um acordo com a
Oi que deixa muito a desejar em termos de defesa dos accionistas da PT.
A tudo isto
associam-se agora as suspeitas de corrupção ao mais alto nível da administração
pública com o caso Visa Gold. Ter os líderes do Serviço de Estrangeiros e
Fronteiras e do Instituto de Registos e Notariado detidos por suspeitas de
corrupção não é cartão-de-visita aceitável em nenhum país do mundo ocidental. A
corrupção é um elemento que impede uma concorrência aberta e leal que beneficie
os consumidores, que favorece os mais fracos em detrimento dos mais competentes
e que mina a confiança dos investidores internacionais.
As perguntas que
se impõem são simples: que investidor estrangeiro quererá investir em Portugal
se as principais empresas do país, como o BES e a PT, dão uma imagem de fraude
e de logro? Que multinacional internacional desejará instalar uma nova fábrica
ou nova sede no nosso país com uma cultura de corrupção instalada? Nenhuma
relevante, arrisco dizer. Com empresas e bancos descapitalizados, o
investimento estrangeiro torna-se fundamental - sem o mesmo não há recuperação
económica sustentada.
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