“Os vistos
gold são uma excrescência moral que temos aceitado por causa da grave crise do
país. Mas não nos podemos admirar por uma excrescência moral se replicar numa
infindável multiplicação de excrescências morais, como as que conhecemos esta
semana com a detenção de altos funcionários do Estado supostamente envolvidos
num escândalo de corrupção associado aos vistos para milionários. Porque entre
a existência dos vistos gold e a corrupção que alegadamente suscitaram há na
origem e na essência os mesmos vícios: a gula pelo dinheiro e a relativização dos
valores.
Um país que
vende autorizações de residência não em função do talento dos requerentes, do
seu mérito ou do papel que possam representar na cultura, na economia (para lá
de comprarem apartamentos de luxo) ou na sociedade, mas que os acolhe apenas em
função da sua conta bancária, torna-se numa tenda de feira. Que tanto pode
vender vistos como empresas estratégicas como favores. O facto de a prática ser
comum a vários países aflitos, ou o reconhecimento de que vender vistos a
milionários é como vender anéis para salvar os dedos, não deve esconder a
questão essencial: um Estado decente de um país decente não devia vender
cidadania. Deve oferecê-la a quem a merece.”
Manuel Carvalho /
PÚBLICO / 16-11-2014.
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