sábado, 15 de novembro de 2014

“Os vistos gold são uma excrescência moral ".


“Os vistos gold são uma excrescência moral que temos aceitado por causa da grave crise do país. Mas não nos podemos admirar por uma excrescência moral se replicar numa infindável multiplicação de excrescências morais, como as que conhecemos esta semana com a detenção de altos funcionários do Estado supostamente envolvidos num escândalo de corrupção associado aos vistos para milionários. Porque entre a existência dos vistos gold e a corrupção que alegadamente suscitaram há na origem e na essência os mesmos vícios: a gula pelo dinheiro e a relativização dos valores.

Um país que vende autorizações de residência não em função do talento dos requerentes, do seu mérito ou do papel que possam representar na cultura, na economia (para lá de comprarem apartamentos de luxo) ou na sociedade, mas que os acolhe apenas em função da sua conta bancária, torna-se numa tenda de feira. Que tanto pode vender vistos como empresas estratégicas como favores. O facto de a prática ser comum a vários países aflitos, ou o reconhecimento de que vender vistos a milionários é como vender anéis para salvar os dedos, não deve esconder a questão essencial: um Estado decente de um país decente não devia vender cidadania. Deve oferecê-la a quem a merece.”

Manuel Carvalho / PÚBLICO / 16-11-2014.

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