sábado, 22 de novembro de 2014

José Sócrates foi detido. PS em estado de choque

PS em estado de choque
Por Ana Sá Lopes e Rita Tavares
publicado em 22 Nov 2014 in (jornal) i online

Estado de choque e surpresa total. Os vários socialistas contactados pelo i mostraram-se surpreendidos com a detenção do ex-primeiro-ministro na noite de sexta-feira.  Mesmo os socialistas que fazem parte do círculo mais próximo de José Sócrates – e que cada vez que há uma notícia sobre suspeitas judiciais em relação ao ex-primeiro-ministro correm a defendê-lo nas redes sociais – mantiveram um silêncio pesado.

Foi através da comunicação social que a notícia chegou aos socialistas. Sócrates foi detido no dia em que PS está a realizar eleições directas para escolher o secretário-geral que vai suceder a António José Seguro e onde António Costa é o único candidato. Um dirigente socialista contactado pelo i sugere mesmo a possibilidade da existência de uma relação entre os dois acontecimentos – colocando uma suspeita sobre o Ministério Público de ter escolhido deliberadamente o “timing” para actuar.

António Costa, que já venceu as primárias (que escolheram o candidato do PS a primeiro-ministro), tem uma declaração marcada para o fim do dia de hoje, na sede do partido, para reagir ao resultado eleitoral. A vitória de Costa está garantida e a entronização do líder para o novo ciclo do PS está marcada para o Congresso do partido no próximo fim-de-semana. O facto de António Costa ter sido número dois de José Sócrates tem sido amplamente utilizado pelo PSD e CDS para o combate ao novo líder do PS. A detenção do ex-primeiro-ministro coloca o PS, que contava agora com um novo impulso com a eleição do novo líder, numa situação mais difícil e fragilizada.




José Sócrates foi detido
EM ACTUALIZAÇÃO: LUCIANO ALVAREZ e HUGO DANIEL SOUSA 22/11/2014 - 00:24 (actualizado às 06:33) PÚBLICO
Sócrates é um dos quatro suspeitos em investigação sobre fraude fiscal, branqueamento de capitais e corrupção. É a primeira vez que um ex-primeiro-ministro é detido. Detenção ocorreu à chegada ao aeroporto de Lisboa.

O ex-primeiro-ministro José Sócrates foi detido na noite desta sexta-feira no âmbito de um processo em que se investigam crimes de fraude fiscal, branqueamento de capitais e corrupção, confirma uma nota da Procuradoria-Geral da República (PGR).

José Sócrates foi detido no aeroporto da Portela, em Lisboa, pelas 23h10, quando regressava de Paris.

"No âmbito de um inquérito, dirigido pelo Ministério Público e que corre termos no Departamento Central de Investigação e Acção Penal (DCIAP), e onde se investigam suspeitas dos crimes de fraude fiscal, branqueamento de capitais e corrupção, na sequência de diligências, desencadeadas nos últimos dias, foram efetuadas quatro detenções. Entre os detidos encontra-se José Sócrates", diz o comunicado da PGR.

Como nota a Lusa, esta é a primeira vez na história da democracia portuguesa que um ex-primeiro-ministro é detido para interrogatório judicial.

O inquérito, apurou o PÚBLICO, está a ser conduzido pelo procurador Rosário Teixeira.

A PGR afirma no comunicado que há mais três detidos além de Sócrates. Não revela, porém, nomes. Segundo o jornal Sol, que avançou a notícia, em causa estão Carlos Santos Silva (administrador do grupo Lena, que é amigo de Sócrates), Gonçalo Ferreira (advogado na Proengel, uma empresa de Carlos Santos Silva) e Joaquim Lalanda de Castro (representante em Portugal da Octapharma, a multinacional farmacêutica para a qual o ex-primeiro-ministro trabalha desde 2013).

O comunicado da PGR diz ainda que a presente investigação não teve origem no processo Monte Branco, informação que o PÚBLICO também confirmou. No Verão, a revista Sábado tinha noticiado que o ex-primeiro-ministro estava a ser investigado no âmbito do processo Monte Branco, algo já então desmentido pela PGR.

"Três dos detidos foram presentes ao juiz de instrução criminal durante o dia de sexta-feira, sendo que os interrogatórios serão retomados este sábado. Também este sábado, o quarto arguido será presente ao juiz de instrução. Foram ainda realizadas buscas em vários locais, tendo estado envolvidos nas diligências quatro magistrados do Ministério Público, e sessenta elementos da Autoridade Tributária e Aduaneira e da Polícia de Segurança Pública (PSP), entidades que coadjuvam o Ministério Público nesta investigação", acrescenta o comunicado da PGR.

Segundo o Sol, a casa de José Sócrates no centro de Lisboa foi um locais onde decorreram buscas, assim como num empresa em Alvalade onde o ex-primeiro-ministro terá arrendado um box onde guarda documentação.

"O inquérito, que investiga operações bancárias, movimentos e transferências de dinheiro sem justificação conhecida e legalmente admissível, encontra-se em segredo de justiça", diz ainda a nota emitida já depois da meia-noite pela Procuradoria.

A informação de que José Sócrates poderia ser detido começou a circular ao fim da tarde. Segundo o PÚBLICO apurou, ao início da noite alguns canais de televisão já tinham equipas no aeroporto de Lisboa. Sinal de que alguém tinha “soprado” a informação para a comunicação social. A SIC  tem mesmo imagens do carro que levou Sócrates para interrogatório.

Sócrates acabou por ser detido por membros da Autoridade Tributária e da PSP que têm estado a colaborar com o magistrado Rosário Teixeira, e que é também o responsável pela investigação ao Grupo Lena, cuja sede foi na tarde de sexta-feira alvo de buscas.

José Sócrates, de 57 anos, foi primeiro-ministro de Portugal entre Março de 2005 e Junho de 2011. Foi o primeiro socialista a governar com maioria absoluta, tendo deixado o Governo após o pedido de ajuda à troika de credores internacionais em Junho de 2011.

Depois dos mais de seis anos de governação, Sócrates mudou-se para Paris, onde estudou, afastando-se da vida política portuguesa. Em Março de 2013, regressou à ribalta, com uma entrevista à RTP, e em Abril desse ano tornou-se comentador da estação pública, com um programa semanal, ao domingo.

Nesse entrevista à RTP, Sócrates foi confrontado com as acusações de ter uma vida de luxo em Paris. “Tenho uma só conta bancária há mais de 25 anos. Nunca tive acções, off-shores, nunca tive contas no estrangeiro. A primeira coisa que fiz quando saí do Governo foi pedir um empréstimo ao meu banco”, explicou então.


O nome do ex-primeiro-ministro já tinha sido envolvido em alguns processos judiciais, como o licenciamento do empreendimento Freeport em Alcochete e as polémicas escutas do processo Face Oculta, mas nunca a justiça tinha ido tão longe em relação a Sócrates.

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