Socialistas debatem afastamento
de figuras próximas de Sócrates
Uns falam na necessidade de um sinal para fora do partido. Outros defendem
que o PS está perante “uma oportunidade” para fazer uma “regeneração”. O
assunto vai marcar o congresso no fim-de-semana
Um deputado lembra a
narrativa da direita “de colar Costa ao velho PS”. Costa tem de “ter cuidado
com as pessoas que vai colocar na direcção”
Margarida Gomes e
Nuno Sá Lourenço / 27-11-2014 / PÚBLICO
O sentimento não
é unânime, mas “é uma opinião que vai correndo”, conforme reconheceu um
deputado socialista. Ainda atordoados com o golpe que representou a detenção do
ex-secretário-geral José Sócrates a poucos dias do congresso do PS, nas hostes
socialistas debate-se sobre como deve o novo líder, António Costa, gerir as
próximas semanas políticas. Para lá da manutenção do discurso de separação de
poderes — elogiado por todos —, há quem defenda no interior do principal
partido da oposição que o presidente da Câmara de Lisboa tem de ir mais longe
no sinal a dar ao país.
Na mente de
alguns dirigentes do PS ouvidos pelo PÚBLICO está a urgência de concretizar
numa decisão um distanciamento higiénico em relação a um passado recente. Um
ex-dirigente nacional sustentou mesmo que o actual momento era “uma
oportunidade para os partidos, não só o PS, operarem uma regeneração” interna.
Vários
responsáveis socialistas reconheceram terem sido abordados sobre essa
necessidade. Com a ressalva de que esse sinal a dar é responsabilidade tanto de
Costa como de Álvaro Beleza (em representação dos seguristas), na elaboração
das listas para os próximos órgãos dirigentes do partido.
As circunstâncias
em que vai decorrer a reunião magna dos socialistas criam dificuldades
acrescidas ao novo líder no momento de escolher as pessoas para a sua equipa. “Costa
terá de ter inteligência política e ponderar o que é mais importante para o PS
e agir em conformidade. E esse equilíbrio é que é difícil”, sublinhou um
socialista.
“Este terramoto
vai obrigá-lo a ter mais cuidado com as escolhas a fazer para os órgãos
nacionais. Tem de se rodear de pessoas com peso político, mas também idóneas e
com reconhecimento público interno e externo”, adiantou ao PÚBLICO outra fonte,
revelando que a detenção do ex-líder apanhou a direcção do grupo parlamentar
completamente de surpresa. A intervenção do líder da bancada parlamentar, Ferro
Rodrigues, há dias no Parlamento, que visou ensaiar uma espécie de reabilitação
política de José Sócrates, indicia isso mesmo, refere outra fonte.
Injusta ou não,
um deputado do PS lembra a “narrativa de colar Costa ao velho PS”. Perante a
gravidade da situação, Costa terá de “ter cuidado com as pessoas que vai
colocar na direcção do partido”. Esse sentimento transpira tanto de uma parte
do grupo parlamentar como de algumas “estruturas” do partido.
“Têm que se tomar
medidas”, adverte um outro dirigente distrital socialista, para evitar que o PS
saia das próximas legislativas com “pouco mais de 20% dos votos”. E o primeiro
sinal, conclui esse dirigente, tem de ser dado no congresso: “Até prova em
contrário, há gente que devia entrar em pousio”.
Um outro
dirigente, com responsabilidades nacionais, reconhece que “há malta que quer
correr com os socráticos”. Mas admite que esse é um exercício difícil. “Fazer
algo de muito dramático pode ficar mal”. Como se de uma decisão drástica de
varrimento transparecesse a ideia de que o PS assumia responsabilidades.
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