quarta-feira, 26 de novembro de 2014

Socialistas debatem afastamento de figuras próximas de Sócrates.


Socialistas debatem afastamento de figuras próximas de Sócrates
Uns falam na necessidade de um sinal para fora do partido. Outros defendem que o PS está perante “uma oportunidade” para fazer uma “regeneração”. O assunto vai marcar o congresso no fim-de-semana

Um deputado lembra a narrativa da direita “de colar Costa ao velho PS”. Costa tem de “ter cuidado com as pessoas que vai colocar na direcção”
Margarida Gomes e Nuno Sá Lourenço / 27-11-2014 / PÚBLICO

O sentimento não é unânime, mas “é uma opinião que vai correndo”, conforme reconheceu um deputado socialista. Ainda atordoados com o golpe que representou a detenção do ex-secretário-geral José Sócrates a poucos dias do congresso do PS, nas hostes socialistas debate-se sobre como deve o novo líder, António Costa, gerir as próximas semanas políticas. Para lá da manutenção do discurso de separação de poderes — elogiado por todos —, há quem defenda no interior do principal partido da oposição que o presidente da Câmara de Lisboa tem de ir mais longe no sinal a dar ao país.
Na mente de alguns dirigentes do PS ouvidos pelo PÚBLICO está a urgência de concretizar numa decisão um distanciamento higiénico em relação a um passado recente. Um ex-dirigente nacional sustentou mesmo que o actual momento era “uma oportunidade para os partidos, não só o PS, operarem uma regeneração” interna.
Vários responsáveis socialistas reconheceram terem sido abordados sobre essa necessidade. Com a ressalva de que esse sinal a dar é responsabilidade tanto de Costa como de Álvaro Beleza (em representação dos seguristas), na elaboração das listas para os próximos órgãos dirigentes do partido.
As circunstâncias em que vai decorrer a reunião magna dos socialistas criam dificuldades acrescidas ao novo líder no momento de escolher as pessoas para a sua equipa. “Costa terá de ter inteligência política e ponderar o que é mais importante para o PS e agir em conformidade. E esse equilíbrio é que é difícil”, sublinhou um socialista.
“Este terramoto vai obrigá-lo a ter mais cuidado com as escolhas a fazer para os órgãos nacionais. Tem de se rodear de pessoas com peso político, mas também idóneas e com reconhecimento público interno e externo”, adiantou ao PÚBLICO outra fonte, revelando que a detenção do ex-líder apanhou a direcção do grupo parlamentar completamente de surpresa. A intervenção do líder da bancada parlamentar, Ferro Rodrigues, há dias no Parlamento, que visou ensaiar uma espécie de reabilitação política de José Sócrates, indicia isso mesmo, refere outra fonte.
Injusta ou não, um deputado do PS lembra a “narrativa de colar Costa ao velho PS”. Perante a gravidade da situação, Costa terá de “ter cuidado com as pessoas que vai colocar na direcção do partido”. Esse sentimento transpira tanto de uma parte do grupo parlamentar como de algumas “estruturas” do partido.
“Têm que se tomar medidas”, adverte um outro dirigente distrital socialista, para evitar que o PS saia das próximas legislativas com “pouco mais de 20% dos votos”. E o primeiro sinal, conclui esse dirigente, tem de ser dado no congresso: “Até prova em contrário, há gente que devia entrar em pousio”.

Um outro dirigente, com responsabilidades nacionais, reconhece que “há malta que quer correr com os socráticos”. Mas admite que esse é um exercício difícil. “Fazer algo de muito dramático pode ficar mal”. Como se de uma decisão drástica de varrimento transparecesse a ideia de que o PS assumia responsabilidades.

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