Governantes admitem
"acertos" aos vistos gold mas não se comprometem
MARIA JOÃO LOPES
, ANA HENRIQUES e LUSA 15/11/2014 – PÚBLICO
Secretas admitem ter estado no Instituto de Registos e Notariado a fazer
uma "limpeza electrónica". Secretário de Estado das Comunidades e
Poiares Maduro não descartam discussão sobre o programa
O secretário de
Estado das Comunidades Portuguesas, José Cesário, admite que o programa de
vistos gold pode vir a sofrer "alguns acertos". Poiares Maduro também
não afasta a discussão do sistema.
As afirmações do
governante foram feitas ontem, dia em que o Serviço de Informações de Segurança
(SIS) confirmou ter estado no Instituto de Registos e Notariado (IRN) a fazer
"uma limpeza electrónica", a pedido do presidente desta entidade, "fora
do horário de expediente". Segundo o jornal Expresso, António Figueiredo
suspeitava estar sob escuta ou com o computador monitorizado por terceiros,
tendo os movimentos dos homens do SIS sido presenciados por inspectores da
Judiciária que vigiavam aquele que se veio a tornar um dos principais arguidos
do caso dos vistos dourados.
A Polícia
Judiciária deteve, na quinta-feira, 11 pessoas por suspeitas de corrupção,
branqueamento de capitais, tráfico de influência e peculato. Entre os detidos
estão, além do presidente do Instituto dos Registos e Notariado, o director
nacional do Serviço de Estrangeiros e Fronteiras, Manuel Jarmela Palos, e a
secretária-geral do Ministério da Justiça, Maria Antónia Anes.
Os detidos foram
identificados na sexta-feira no Tribunal Central de Instrução Criminal, no
Campus de Justiça de Lisboa, e três deles foram ontem inquiridos, no âmbito da
investigação. O primeiro a ser ouvido foi o director Serviço de Estrangeiros e
Fronteiras, mas as medidas de coacção ainda não são conhecidas. Prestaram ainda
declarações um funcionário do IRN e um cidadão chinês, estando marcadas para
hoje, e provavelmente para os dias seguintes, as restantes audições.
"O processo
é escrutinado. Agora, se quem faz o escrutínio é ou não honesto, é outra
questão. Mas sobre isso é prematuro falar, porque não se sabe ainda o que se
passou. Não ponho de parte a hipótese de serem feitos alguns acertos ao
programa. É natural, já foram feitos", afirmou José Cesário, escusando-se,
porém, a especificar que acertos poderão ser esses.
O secretário de
Estado defende a manutenção do sistema por entender que ele traz benefícios ao
país. No seu entender, como já tem referido, Portugal "não vende vistos ou
passaportes", sendo as autoridades "muito rigorosas" na atribuição
da autorização permanente de residência. E mantém essa convicção: "Não
sabemos o que se terá passado, se houve pessoas que se aproveitaram das suas
funções para agilizar [processos] e, por isso, é prematuro fazer qualquer
comentário. Mas o sistema está montado de uma forma que dá garantias de
rigor", afirmou. "Já permitiu injectar em Portugal mais de mil
milhões de euros em dois anos, cerca de 1100 milhões de euros até 2014. Criou
postos de trabalho directos e indirectos e injectou muito dinheiro nas empresas."
Também o ministro
Adjunto e do Desenvolvimento Regional, Miguel Poiares Maduro, diz que o
programa "pode ser discutido", mas que não deve haver confusão entre
vistos gold e casos de justiça.
Entretanto, no
seu comentário semanal na SIC Marques Mendes assegurou que não auferiu um único
euro nas actividades que desempenhou numa das empresas implicadas no caso dos
vistos gold, a JMF-Projects & Business. "Não tenho nada, nada a ver
com esse assunto", declarou o antigo líder do PSD, explicando que quando a
firma de consultoria e gestão de empresas foi fundada, em 2009, não existiam
sequer vistos dourados. "Foi uma sociedade à qual aderi com mais três
pessoas depois de ter deixado a vida política activa, para dar um rumo
profissional à minha vida", acrescentou.
Marques Mendes
garante ainda que acabou por não ter qualquer actividade profissional na
JMF-Projects & Business, da qual fez também parte o ministro da
Administração Interna, Miguel Macedo, além da filha de António Figueiredo.
"Desde 2011 que a sociedade não tem na prática qualquer actividade.
Pensava até que estava desactivada", diz Marques Mendes. "Enquanto
sócio dela nunca tive uma reunião, um contacto ou uma diligência relativa aos
vistos. Nada, nada, nada".
O vice-presidente
da Associação de Integridade e Transparência, Paulo Morais, entende que o
primeiro-ministro devia pedir desculpas ao país pelas suspeitas que recaem
sobre aqueles dirigentes.
Segundo o
secretário-geral do Sistema de Informações da República Portuguesa, que tem o
SIS sob sua alçada, a operação levada a cabo no IRN é "frequente em muitas
outras instituições do Estado" e não viola lei.
Dias antes do
escândalo dos vistos dourados rebentar, a eurodeputada Ana Gomes questionou o
director da Europol sobre se o sistema – que vigora noutros países – não
incentivaria a criminalidade organizada. O responsável pelo serviço europeu de
polícia não mostrou conhecer o assunto. “Respondeu-me que para ele era novidade
mas que iria investigar”, relata Ana Gomes, que anda a pedir esclarecimentos a
várias instituições sobre os vistos gold há mais de um ano.
Marques Mendes nega ligações ao
caso dos vistos gold
ANA HENRIQUES
15/11/2014 - 22:05
Ex-líder do PSD diz que nunca auferiu "um único euro" da empresa
de que se tornou sócio em 2009 e que agora surge nas investigações.
Marques Mendes
assegurou, no seu comentário semanal na SIC, que não auferiu um único euro nas
actividades que desempenhou numa das empresas implicadas no caso dos vistos
gold, a JMF-Projects & Business.
“Não tenho nada,
nada a ver com esse assunto”, declarou o antigo líder do PSD, explicando que
quando a firma de consultoria e gestão de empresas foi fundada, em 2009, não
existiam sequer vistos dourados.
“Foi uma
sociedade à qual aderi com mais três pessoas depois de ter deixado a vida política
activa, para dar um rumo profissional à minha vida”, acrescentou.
Marques Mendes
garante que acabou por não ter qualquer actividade profissional na JMF-Projects & Business, da qual fez
também parte o ministro da Administração Interna, Miguel Macedo, além da filha
do presidente do Instituto de Registos e do Notariado, que é um dos principais
arguidos do caso.
“Desde 2011 que a
sociedade não tem na prática qualquer actividade. Pensava até que estava
desactivada”, diz Marques Mendes. “Enquanto sócio dela nunca tive uma reunião,
um contacto ou uma diligência relativa aos vistos. Nada, nada, nada”.
Onze pessoas,
entre elas o director do Serviço de Estrangeiros e Fronteiras, o presidente do
Instituto dos Registos e Notariado e a secretária-geral do Ministério da
Justiça, foram detidas na chamada “Operação Labirinto”, por suspeitas de
corrupção na atribuição de vistos gold.
Os detidos
começaram este sábado a ser ouvidos no Tribunal Central de Instrução Criminal,
em Lisboa.
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