Sector recusa fim dos vistos
dourados
PÚBLICO / 15-11-2014
A Confederação
Portuguesa da Construção e do Imobiliário (CPCI) reclamou ontem a continuação
do programa dos vistos gold, defendendo que nenhum outro programa foi capaz de
obter resultados tão expressivos em matéria de investimento estrangeiro. Recordando
os resultados obtidos, designadamente os 1076 milhões de euros em investimento
estrangeiro captado, dos quais 972 correspondem a aquisição de imobiliário
nacional, a CPCI diz em comunicado que “o programa não pode ser posto em causa
por questões de natureza judicial, as quais devem ser cabal e rapidamente
esclarecidas pelos tribunais”.
Em nota à
imprensa, a CPCI adianta que o programa não pode ser posto em causa “por
disputas de natureza política, uma vez que se trata de um programa com efeitos
positivos comprovados, que existe em muitos outros países e que tem de ser
defendido, sob pena de se perderem investidores para outros destinos que se
encontram em concorrência directa com Portugal em matéria de captação de
investimento”.
Pelo contrário,
as primeiras reacções dos partidos da oposição à Operação Labirinto, que
resultou na detenção de 11 pessoas, incluindo altos quadros dos ministérios da
Administração Interna, da Justiça e do Ambiente, vão no sentido de ser
necessário operar uma alteração do programa, canalizando-o para investimentos
produtivos, com criação de emprego. Até agora, só três casos, num universo de
1775 autorizações de residência concedidas, envolveram a criação de emprego,
que, nos termos das regras do programa, tem de resultar na abertura de um
mínimo de dez postos de trabalho.
Rosa Soares
Estrelas da advocacia defendem
altos quadros do Estado
Pedro Sales Dias
e Ana Henriques / 15-11-2014
Um dia depois de
chegarem ao conhecimento público os nomes de altos quadros do Estado detidos
por suspeitas de corrupção nos vistos gold, chegaram ao processo advogados de
renome para os defender. Aos corredores do Tribunal Central de Instrução
Criminal, no Campus da Justiça de Lisboa, acorreram pesos-pesados da advocacia
portuguesa, bem conhecidos de outros megaprocessos mediáticos.
Esperava-se para
ontemo início dos interrogatórios a cargo do juiz Carlos Alexandre e do juiz auxiliar
João Filipe Bártolo, mas os detidos foram apenas identificados ao início da
noite. Só hoje começam a ser inquiridos.
O director
nacional do Serviço de Estrangeiros e Fronteiras (SEF), Manuel Jarmela Palos, é
defendido por João Medeiros, da sociedade de advogados PLMJ, de que é sócio
José Miguel Júdice. Medeiros é advogado de Jorge Silva Carvalho no chamado
“caso das secretas”. O ex-director do Serviço de Informações Estratégicas de
Defesa é acusado de violação do segredo de Estado, corrupção e abuso de poder. O
advogado defende ainda, em múltiplos processos, João Rendeiro, fundador do
Banco Privado Português.
Já Rui Patrício é
advogado do presidente do Instituto dos Registos e do Notariado, António
Figueiredo, também detido, e voltou a aparecer nas luzes da ribalta judiciária
no processo Face Oculta. Nele era advogado de José Penedos, o ex-presidente da
REN condenado a cinco anos de prisão efectiva. Patrício está em quase todos os
julgamentos mediáticos. Esteve também no da Operação Furacão, onde foi advogado
de duas dezenas de arguidos, e no caso Bragaparques, onde defendeu a
ex-vereadora da Câmara de Lisboa Eduarda Napoleão. Entre Maio de 2009 e
Novembro de 2011 foi também membro do Conselho Superior da Magistratura, órgão
de gestão e disciplina dos juízes.
A
secretária-geral do Ministério da Justiça, Maria Antónia Anes, tem como
advogada Maria João Costa, que defendeu também o médico Ferreira Dinis,
condenado a sete anos de prisão efectiva no caso Casa Pia. É ainda advogada de
Rui Mateus Pereira. O processo contra o presidente do Instituto de Gestão
Financeira e Equipamentos da Justiça está em fase de recurso depois de ter sido
absolvido de participação económica em negócio e falsificação de documentos
enquanto director da Cultura na Câmara de Lisboa.
Carlos Pinto
Abreu foi outro dos advogados que ontem andaram pelo Tribunal Central de
Instrução Criminal. Questionado pelos jornalistas, não identificou o seu
cliente no processo. Foi advogado de Isaltino Morais, do ex-presidente dos CTT
Carlos Horta e Costa, absolvido do crime de gestão danosa, do ex-director-geral
das Florestas, no caso Portucale, e dos pais de Maddy McCann.
O processo conta
ainda à cabeça da investigação com uma procuradora experiente e com sucesso em
casos de crimes financeiros complexos. Susana Figueiredo liderou desde o
início, em meados de Janeiro, a investigação à corrupção nos vistos gold. A
magistrada faz parte de um grupo de procuradores que fez escola no Departamento
de Investigação e Acção Penal de Lisboa, dirigido por Maria José Morgado. Esteve
vários anos na 9.ª secção que investiga a criminalidade económico-financeira. Investigou
ainda o caso BCP com ligação a sociedades offshore e a ex-ministra da Educação,
Maria de Lurdes Rodrigues, condenada por prevaricação de titular de cargo
político. Passou para o Departamento Central de Investigação e Acção Penal este
ano.
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