Por Augusto
Freitas de Sousa
publicado em 17
Nov 2014 in
(Jornal) i online
Há pouco tempo a
lista para sócio chegava aos dez anos. Hoje a espera é menor, mas ainda
continua entre os clubes mais exclusivos
Timothy John
Andersen Chambers, habitualmente conhecido por Tim Chambers nasceu em
Inglaterra quase por acaso. A família há muito que estava em Portugal - "o
avô casou com D. Branca Bolhão Pato", lembra com um sorriso no olhar.
Estabeleceram-se em Vila Verde, Braga, em 1850, onde compraram terras e viveram
da agricultura. É ele o presidente do Oporto Cricket and Lawn Tennis Club, o
mesmo que abre as portas de um clube que, apesar da exclusividade e das
tradições, gosta de frisar a abertura à sociedade portuguesa, neste caso,
portuense. Todavia, o clube, descendente do "gentleman's club" inglês
da Rua das Virtudes, no Porto, continua a reservar o estatuto de "full
members" para os ingleses ou luso-ingleses.
O percurso do
presidente do clube é um exemplo da vida da comunidade inglesa no Porto, que se
divide entre o clube, a Feitoria inglesa, a Oporto British School e, em alguns
casos, a igreja inglesa. Apesar de Chambers ter nascido no Reino Unido, o
bisavô, o avô e o pai nasceram em Portugal. Passou cinco anos da sua infância
num colégio inglês, formou-se numa universidade na Suíça, ganhou experiência de
trabalho em Londres e regressou ao Porto para trabalhar com o pai. É casado em
segundas núpcias com uma britânica. Admira Portugal, por vezes com mais empenho
que os próprios portugueses. Hoje trabalha numa empresa tecnológica em Santa
Maria da Feira.
No Porto, o clube
passa despercebido aos olhares menos atentos. Um portão discreto para a Rua do
Campo Alegre - de carro entra-se e sai-se pela via da esquerda - com um caminho
que termina na "club house". A casa possui um restaurante para 50
pessoas, um "lounge bar", uma sala de leitura, uma sala
"snack" com dois terraços, uma sala de televisão, salão de jogos,
sala de bilhar e oito quartos duplos para alugar. No exterior, uma piscina ao
ar livre, seis courts de ténis e um campo, habitualmente reservado para o
cricket, mas com outras funcionalidades como o futebol.
Tim Chambers
explica que entre Abril e Junho vêm 14 equipas de cricket de Inglaterra. Uma
modalidade que acaba por envolver sócios e não sócios durante um extenso
período de tempo, uma vez que "se pode jogar até aos 70 anos ou
mais", refere. Mais uma tradição que "o clube faz questão de
manter", esclarece.
Há pouco tempo, a
lista de sócios tinha uma média de espera de 10 anos para novas inscrições, mas
os responsáveis esforçaram-se por abrir mais candidaturas e hoje são apenas uns
meses, depois de ser proposto por dois membros "full" ou "exceptional
full". Ainda assim são aceites depois de uma votação.
EXCLUSIVO
O clube conta com
984 sócios classificados por: honorários, full, exceptional full (que
entretanto foi extinto), associate, non-resident country, junior, diplomatic,
non-resident over-seas, temporary e corporate. Os honorários são usualmente os
embaixadores e cônsules, enquanto nos full members estão os elementos das
famílias inglesas ou luso-inglesas, por exemplo, os Symington que têm 19 full.
Entre os associados estão nomes como o ministro da Defesa, Aguiar Branco, os
banqueiros Alípio Dias e Jardim Gonçalves, o ex-governante Mariano Gago ou os
empresários Américo Amorim e Paulo Azevedo. Todos pagam uma jóia de 656 euros
e, por ano, cerca de 1000 euros. Um dos membros overseas, residentes fora de
Portugal, era o ex-jogador do FC Porto, Mickey Walsh.
Tim Chambers
lembra que além das actividades desportivas e de lazer do clube, há datas
tradicionais "que todos os anos são assinaladas". É o caso do
aniversário da rainha em Junho, o bazar de Natal, o "Goose lunch", a
festa de Verão e a "St. Andrews Ceilidh", um baile tradicional
escocês, no último sábado de Novembro, que este ano chegou a correr riscos com
o referendo que decorreu na Escócia. O presidente explica que a questão foi
amplamente discutida no clube, mas "todos os membros se manifestaram
contra a separação".
No Oporto Cricket and Lawn Tennis Club, o
sr. Alberto é dos
funcionários mais antigos. Já veio do velho clube na Rua das Virtudes e
trabalhou cerca de 37 anos sem qualquer outra profissão. Reformou-se na
recepção do clube, mas, recorda Tim Chambers "não consegue estar longe do
clube e passa por cá para ajudar em algumas tarefas". São 26 empregados
que mantêm de pé um dos clubes mais exclusivos do país.
O Oporto Cricket
and Lawn Tennis Club foi originalmente formado em 1855, no Candal, em Vila Nova
de Gaia. Entre os membros fundadores estão as famílias Sandeman, Reid, Tait,
Cassels, Sellars, Dow, Warre e Fladgate, ainda hoje com representantes entre os
membros do clube. O Clube Britânico do Porto (Virtudes) foi fundado em 1909 e o
terreno do Campo Alegre adquirido em 1923, mas os dois clubes só se juntaram em
1967. Algumas parcelas do terreno comprado, as que se estendem para a Rua do
Campo Alegre, no Porto, acabaram por ser vendidas em 1987 para financiar a
ampliação do clube e a construção de algumas instalações.
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