Margem sul na mão de chineses
Catarina
Guerreiro | 25/11/2014 / SOL online
O projecto de
construção da primeira marina da margem sul do Tejo, em Almada, está agora nas
mãos de chineses. Segundo o SOL apurou, os terrenos da antiga Lisnave, para
onde a Câmara Municipal de Almada aprovou aquela obra, estão prestes a ser
vendidos a um consórcio internacional, que tudo indica ser o Wanda Group,
liderado por Wang Jianlin, apontado em 2013 pela revista Forbes como o homem
mais rico da China.
O processo de
venda está a ser conduzido pela Baía do Tejo (empresa detida pela Parpública,
holding do Estado), que no mês passado enviou mesmo uma delegação àquele país
asiático para concluir o mais rapidamente possível o processo de venda.
“Estivemos de
facto em Pequim, em Outubro, a falar com os investidores” - avança ao SOL o
presidente da Baía do Tejo, Jacinto Pereira, confirmando também que no Verão
passado representantes do grupo de Wang Jianlin estiveram em Portugal, a visitar
o local para onde existe um plano de urbanização aprovado desde 2009.
Este plano prevê
uma mini-cidade para mais de 10 mil habitantes, semelhante à Expo de Lisboa, e
tem como pólo central uma marina com lugar para 500 embarcações. Está ainda
prevista a transferência do terminal fluvial de Cacilhas para a doca 13 e uma
área bruta de 630 mil metros quadrados para construção - entre habitações,
comércio, hotéis e um centro de ciência e tecnologia, entre outras
infra-estruturas.
Crise dos 'vistos
gold' pode afectar projecto
Jacinto Pereira
diz que a venda dos terrenos está “para muito breve”, garantindo que não se
trata de uma mera operação financeira de especulação imobiliária, mas de uma
aposta no desenvolvimento da zona. “Temos como missão a promoção dos terrenos
para encontrar investidores, o que herdámos da extinta sociedade Arco
Ribeirinho Sul, em relação aos terrenos da Lisnave, mas também do Seixal
(Siderurgia Nacional) e do Barreiro” (Quimiparque), explica o gestor, lembrando
que em causa está um projecto de 1.200 milhões de euros.
Jacinto Pereira
recusa confirmar o nome dos investidores, referindo apenas que surgiram na
sequência da visita à China, em Maio deste ano, do Presidente da República,
Cavaco Silva. Mas o SOL sabe que, de todos os possíveis investidores, incluindo
outros chineses, o Wanda Group foi o que revelou maior interesse. A visita de
responsáveis deste grupo aos terrenos de Almada foi acompanhada por elementos
da AICEP (Agência para o Investimento e Comércio Externo de Portugal).
Certo é que uma
das apostas do futuro comprador, segundo fontes do sector, será no mercado
imobiliário internacional, nomeadamente destinado aos chineses. “Como Portugal
está em crise, a ideia é vender casas a chineses e outros estrangeiros”, diz
uma fonte ligada ao processo, notando que a actual polémica em torno dos vistos
gold - que serão um chamariz para a compra de imóveis de luxo nesta nova
mini-cidade - pode afectar o projecto.
Jacinto Pereira
admite que o futuro consórcio deverá apostar no mercado estrangeiro para
conseguir vender imóveis para habitações e para fins comerciais.
FIL da margem sul
por decidir
O plano de
urbanização para a zona de Almada Nascente - que contempla esta mini-cidade e
que obriga qualquer investidor a cumpri-lo - está aprovado pela autarquia desde
2009. No entanto, o prazo de validade foi já ultrapassado (era de três anos), o
que permite ao investidor revê-lo e fazer alterações.
Qualquer
projecto, porém, terá de ter luz verde das autoridades locais. “É preciso
sempre licença da Câmara”, confirma ao SOL o presidente da autarquia de Almada,
Joaquim Judas, que não esconde a desilusão por os antigos terrenos da Lisnave
estarem neste momento sem uso. “Estão a ficar degradados”, avisa, esclarecendo
que há algum tempo que a Câmara pediu autorização para, enquanto não se
concretiza a venda, converter um mega-armazém ali existente numa espécie de FIL
(Feira Internacional de Lisboa) da margem sul.
“Gostávamos de
criar ali um espaço que promovesse a cultura desta região”, explica Joaquim
Judas, acrescentando que a ideia está dependente de autorização do proprietário
(o Governo) para avançar. “Está previsto na lei que se façam usos transitórios
dos terrenos, o que implica usar por um certo período de tempo determinado
espaço sem alterar nada, para não comprometer o plano de urbanização já
aprovado”, acrescenta o autarca, frisando que o facto de ali nada se poder
fazer está a ter “custos incalculáveis”.
Jacinto Pereira
adianta que a Baía do Tejo esteve a avaliar o pedido da autarquia para accionar
o uso transitório, tendo chegado à conclusão de que seria mais adequado ser o
novo investidor a decidir. “Se não tivéssemos perspectivas de ter um investidor
a curto ou médio prazo, podia fazer sentido avançar”, revela o responsável. Ou
seja, a concretizar-se o negócio em vista, caberá ao grupo chinês decidir se,
enquanto constrói a mini-cidade, permite que a Câmara ponha a funcionar a FIL
da margem sul.
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