Assis sentiu-se empurrado para a
“periferia política” do PS
Manuel Carvalho /
1-12-2014 / PÚBLICO
Francisco Assis
abandonou o Congresso que consagrou António Costa como secretáriogeral por
discordar da nova orientação política do partido e por recusar uma tentativa de
Carlos César, o novo presidente do PS, de o colocar na “periferia política”.
Assis, que no
espaço de apenas três meses passou de eleito do PS para liderar a lista do
partido às eleições europeias à condição de simples militante de base, deixou o
congresso agastado e politicamente desiludido. A “nova orientação do PS para a
esquerda” desagradou-lhe. E a “gestão política do tempo das intervenções” dos
delegados que se inscreveram para discursar no congresso foi a gota de água que
o fez regressar a casa a meio da reunião magna do PS. Ainda assim, poupa
António Costa às suas críticas. “Tenho estima pessoal por ele, não o quero
envolver nisto”, afirma.
Há muito que o
eurodeputado assistia com “reservas” à actuação do PS na Assembleia da
República e ao papel desempenhado pelo seu líder parlamentar, Ferro Rodrigues. No
decorrer do primeiro dia dos trabalhos do congresso, ficou para ele provado que
há no partido uma “nova orientação”. Que se afirma ao nível do discurso
político, agora mais afastado do centro e mais próximo da esquerda onde se
situa o Bloco, mas também na composição do novo Secretariado Nacional do PS. “Há
aqui uma linha, um caminho, que é legítimo, mas que não é o que eu defendo”,
afirma Francisco Assis.
Para Assis, este
desvio do PS para posições mais à esquerda contraria a natureza dos
“compromissos que se alcançam em termos europeus”. Esses compromissos, sublinha
Assis, levam os partidos da família política do PS ao contacto com “o
centrodireita”. A definição programática do PS de Costa revelou uma “visão
distinta”. Numa recente entrevista ao jornal online Observador, defendera que,
“se ninguém tiver maioria absoluta, é desejável que exista uma coligação [à
direita]”, por não conseguir ver como se poderá “fazer uma coligação à
esquerda”. Ora, quer António Costa quer o seu líder parlamentar recusam esta
estratégia.
Francisco Assis
esperava poder manifestar no congresso a “visão distinta do PS” que tem vindo a
defender. Inscreveu-se para a poder apresentar. Mas o momento que lhe foi
atribuído para o fazer desagradou-o. “Toda a gente sabe que o período depois de
jantar é menos importante”, nota, mas foi para esse período que a sua participação
ficou agendada. “Não se trata assim quem há apenas três meses foi escolhido
para liderar a lista do PS nas eleições europeias”, diz. Até porque Ferro
Rodrigues teve oportunidade de dirigir “um ataque violentíssimo” à sua defesa
de uma coligação pós-eleitoral com o PSD, no caso de as legislativas do próximo
ano não promoverem uma maioria.
“A gestão
política do tempo das intervenções privilegiou algumas pessoas em detrimento de
outras”, acusa Assis. A hora que lhe coube para discursar implica uma “leitura
política”, nota. Houve “uma tentativa de me colocar numa periferia política”,
acrescenta. Por isso abandonou o Congresso e fica de fora dos órgãos nacionais
do PS. Algo em que já tinha pensado. “Há sempre uma altura para sair. Já
participo nos órgãos nacionais do partido há 26 ou 27 anos”, afirma. Mas a sua
saída não é obra de uma decisão reflectida. Assis, um dos esteios da liderança
do PS de Seguro, afastou-se. Por divergências ideológicas e por se sentir
despeitado pelo PS de Costa.
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