Paulo Portas garante que não
pensou demitir-se por causa dos vistos
Oposição quis saber se vice-primeiro-ministro não retira consequências do
caso, tal como fez Miguel Macedo ao demitir-se. Portas dramatizou: fim dos
vistos leva para outros países investimento essencial a Portugal
Maria Lopes /
21-11-2014 / PÚBLICO
Os deputados bem
tinham insistido no assunto, mas o vice-primeiro-ministro contornara-o sempre
nas mais de três horas de audição na comissão parlamentar de Economia. À saída,
garantiu: “Não, não pensei demitir - me.” Paulo Portas foi chamado pelo PCP
para falar sobre a polémica com os vistos dourados, que já deu em arguidos,
detidos e demissões. Até de um ministro.
A oposição bem
tentou explorar a via dos desaguisados na coligação – lembrando que o PSD
empurrou o assunto com a barriga para Portas, que um ministro se demitiu
enquanto o outro vem ao Parlamento dizer que está tudo bem. “Tudo o que
aconteceu ocorreu por baixo do nariz dos ministros, e eles têm que ter
conhecimento do que se passa” no âmbito das competências dos seus ministérios,
apontou o socialista Pita Ameixa, vincando querer olhar não para as questões
judiciais, mas para a “acção política” e saber se o PSD “enfiou a carapuça” a
Portas mandando-o, sozinho, justificar-se no Parlamento. “Colocou a hipótese de
se demitir?” A resposta chegaria mais de duas horas depois.
Cecília Honório
(BE) quis saber se Paulo Portas tinha dado instruções políticas para acelerar
os processos, como descreveu ao juiz o presidente do Instituto dos Registos e
Notariado, António Figueiredo, sem referir de que gabinete vinham tais
indicações. A deputada criticou a “falta de humildade” de Portas em relação aos
“custos políticos” do processo dos vistos gold. “O ministro da Administração
Interna demitiu-se (…) Não quer falar sobre solidariedade dentro da coligação? Como
é que há um ministro que assume todos os custos sozinho?”
António Filipe
(PCP) insistiu: há um processo com 11 arguidos, o caso levou à demissão de um
ministro e o vice-primeiro-ministro vem ao Parlamento dizer que está tudo bem
com os vistos gold. Paulo Portas não foi taxativo sobre as instruções de
aceleração dos processos e também admitiu que “não está tudo bem”. Tanto não
está que “o Governo está aberto a melhorar o sistema”. Mas sobre responsabilização
política nada disse dentro da sala.
Perante os
deputados da oposição que tentaram abordar o assunto pelo lado político, Portas
preferiu defender firmemente os “seus” vistos com números, factos e avisos, mas
admitiu, tal como aprendeu com Adriano Moreira, com “humildade”, que o assunto
precisa de revisão. Por isso, o Governo vai desafiar todas as bancadas
parlamentares a apresentarem propostas, em Dezembro, para melhorar o sistema
dos vistos e o viceprimeiro-ministro compromete-se a aceitar os aspectos
considerados “razoáveis”. Mas não respondeu ao desafio de auditar os vistos já
concedidos.
Do PCP e do BE,
Portas admite esperar pouco. Os dois partidos já exigiram o fim dos vistos. Um
cenário que o ex-ministro dos Negócios Estrangeiros, que os lançou, pinta como
uma quase catástrofe. Lembrou que há mais 14 países europeus com sistemas de
vistos em troca de investimento, alguns até com condições mais ligeiras – e que
se Portugal fechar a porta estes irão agradecer. Até final de Outubro foram
concedidos 1681 vistos pela aquisição de imobiliário de valor superior a 500
mil euros, 91 pela transferência de capital e apenas três pela criação de pelo
menos dez postos de trabalho.
Em dois anos, os
vistos gold trouxeram 1107 milhões de euros de investimento e 105 milhões em
impostos, contabilizou. “Não creio que Portugal esteja em condições de deitar
fora um investimento deste valor”, repetiu. “Se a política patriótica de
esquerda que o PCP defende é dar o investimento para outros países, eu fico
perplexo”, desafiou.
Paulo Portas
deixou alguns mimos ao PS. Afinal, foi o partido que em 2007 lançou o embrião
dos vistos gold, que são apenas uma “evolução na continuidade na política de
atracção de investimento”, atirou Portas, elogiando algumas ideias de António
Costa, então na Administração Interna. Até lembrou que o PCP, na altura, votou
a favor de um processo que dava vistos de residência a estrangeiros que
fizessem investimentos – sem valor mínimo fixado – ou apenas mostrassem
intenção de os fazer.
Cecília Honório
vincou que a audição servia também para tentar avaliar quantos postos de
trabalho criaram os vistos. Portas ripostou: “Quem é que cria mais postos de
trabalho: a Remax ou o Bloco de Esquerda?”
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