A mulher mais poderosa de
Portugal é angolana
22 Dezembro 2009,
11:36 por Pedro Santos Guerreiro | psg@negocios.pt
Portugal tem
muitas mulheres importantes, algumas são ricas, poucas são poderosas. Uma é as
três coisas. Tem 36 anos e não é portuguesa. É a angolana Isabel dos Santos.
Portugal tem
muitas mulheres importantes, algumas são ricas, poucas são poderosas. Uma é as
três coisas. Tem 36 anos e não é portuguesa. É a angolana Isabel dos Santos.
Dizem que detesta
ser tratada como "a filha de José Eduardo dos Santos". Pela maneira
como está a afirmar-se em Portugal, um dia trataremos o Presidente de Angola
como "o pai de Isabel dos Santos". É a nova accionista da Zon. E de
muitas outras empresas. Uma atrás da outra, todas lhe estendem tapetes. Tapetes
verdes, da cor do dinheiro.
A mulher mais
rica de Portugal, segundo a "Exame", é Maria do Carmo Moniz Galvão
Espírito Santo Silva, com uma fortuna de 731 milhões de euros. Não tem metade
do poder de Isabel dos Santos. E tem apenas uma fracção do seu dinheiro: só na
Galp, BPI, Zon e BESA, a empresária angolana tem quase dois mil milhões de
euros. Fora o resto.
A lista dos dez
mais ricos de Portugal está aliás cheia de pessoas que fazem negócios com a
família dos Santos. Américo Amorim é sócio de Isabel na Galp e no Banco BIC.
Belmiro de Azevedo, segundo foi noticiado, quer ser parceiro de distribuição em
Angola. O Grupo Espírito Santo tem interesses imobiliários, nos diamantes, na
banca. Salvador Caetano tem concessões. O Coronel Luís Silva acaba de fechar
negócio para vender acções da Zon a Isabel dos Santos. Zon onde João Pereira
Coutinho e Joe Berardo são accionistas.
Da lista dos mais
ricos, só a família Mello e Soares dos Santos estão "fora" da
geografia. O "dinheiro dos angolanos" pesa sobre muitas consciências.
Soares dos Santos foi o único a assumir publicamente o desdém pelos níveis de
corrupção de Angola.
Isabel dos Santos
é accionista da Zon e sócia da PT. É accionista do BPI e sócia do BES. É
accionista da Galp e a Sonangol é parceira da EDP. A empresária garante que não
tem relações com as actividades do seu pai e da estatal Sonangol. Identificando
todos os interesses em causa, as relações de sociedades portuguesas alargam-se
ainda à Caixa, Totta, BPN e Mota-Engil. Dá um índice bolsista.
O que faz com que
tantas empresas portuguesas implorem para fazer negócios com Isabel dos Santos?
E que Isabel "jogue" em equipas rivais, concorrentes confessos em
Portugal, sem um pestanejo? Só uma coisa consegue tanto unanimismo: o dinheiro.
A liquidez angolana, que desapareceu de Portugal. A contrapartida de acesso ao
crescente mercado angolano. Os portugueses não abrem os braços a Isabel dos
Santos, abrem-lhe as carteiras - estão vazias.
O casamento entre
angolanos e portugueses tem as prioridades do das famílias feudais: o interesse
está primeiro, o amor virá depois, se vier. E o interesse é recíproco: os
angolanos são entronizados em Portugal e na Europa; os portugueses são-no em
Angola e em África. Não há equívocos, há dinheiro.
Os últimos dois
grandes negócios de Isabel dos Santos em Portugal, no BPI em 2008 e na Zon em
2009, tiveram uma curiosidade cabalística: ambos foram fechados na terceira
semana de Dezembro, ambos de 10%, ambos por 164 milhões. Na Zon, pagou um
prémio de 26% sobre a cotação. Comprou caro? Comprou mais barato que os
accionistas que estão na empresa. Comprou bem.
Isabel e José
Eduardo construíram um poder tão ramificado em empresas portuguesas que só o
Estado e Grupo Espírito Santo os ultrapassarão. Tanta concentração de poder é
mais ameaçadora do que uma nacionalidade. Em Portugal, Isabel e José Eduardo
não são Santos da casa mas fazem milagres.
psg@negocios.pt
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