O Mude “é um dos primeiros
edifícios a cair” se houver um sismo em Lisboa, diz Salgado
O alerta do vereador Manuel Salgado foi mal recebido por Margarida
Saavedra, que critica “obras megalómanas”
Inês Boaventura /
13-11-2014 / PÚBLICO
Edifício
foi comprado por 16,5 milhões de euros e precisa de obras de cerca de nove
milhões
O vereador da
Reabilitação Urbana da Câmara de Lisboa afirma que se houver um sismo na cidade
o edifício do Museu do Design e da Moda (Mude), na Rua Augusta, “é um dos
primeiros a cair”. Por isso, sustenta Manuel Salgado, a requalificação do
imóvel, que tem um custo estimado de cerca de nove milhões de euros, “é
urgente”.
“Se temos o azar
de ter um tremor de terra em Lisboa, aquele é um dos primeiros edifícios a
cair”, alertou o autarca durante a última reunião da Assembleia Municipal de
Lisboa, em resposta a perguntas do PCP sobre o museu. Nesse fórum, Manuel
Salgado admitiu que esta pode vir a tornar-se “uma situação de risco”, caso o
Mude, que tem “uma área enorme” de 12 mil m2, não seja alvo de obras
“rapidamente”.
Entre os
trabalhos a desenvolver, explicitou, encontram-se o “reforço estrutural” do
edifício na Baixa Pombalina, a instalação de dois elevadores, intervenções nas
casas de banho, no sistema de segurança e nos ares condicionados. Segundo
informações divulgadas em Julho, mês em que a câmara aprovou o programa
preliminar de requalificação do Mude, está em causa um investimento de perto de
nove milhões de euros.
As declarações de
Manuel Salgado não foram bem recebidas pela autarca social-democrata Margarida
Saavedra. A actual segunda-secretária da mesa da Assembleia Municipal de Lisboa
admite “que a ameaça seja real”, mas afirma que se assim é isso devia ter sido
“acautelado” quando o município decidiu comprar o edifício em causa para lá
instalar o Mude.
“Como é que a
câmara pôde fazer a aquisição do edifício sem averiguar a situação em que
estava?”, pergunta Margarida Saavedra. Em declarações ao PÚBLICO, a autarca,
que era vereadora da oposição quando o negócio foi concretizado, sublinha que o
vereador Manuel Salgado “é arquitecto, está habituado a obras, não é um
amador”. “Todos nós, quando compramos uma casa, acautelamos se não nos vai cair
em cima”, diz Margarida Saavedra, que critica o vereador, mas também o
presidente António Costa, porque “não acautelaram a situação e compraram o
edifício, descurando o estado em que estava”.
A autarca
social-democrata lembra que em 2008 o PSD se opôs à compra do edifício na Rua
Augusta, tendo considerado “caríssimo” o montante de 16,5 milhões de euros
despendido para o efeito (21,7 milhões de euros subtraídos de um valor
referente a um acerto de contas entre a câmara e o vendedor, a Caixa Geral de
Depósitos). Quanto ao investimento agora previsto de nove milhões de euros,
Margarida Saavedra diz que se trata de “uma obra megalómana”, difícil de
compreender numa altura em que “há outras prioridades”, desde logo ao nível
social.
A
segunda-secretária da mesa da assembleia municipal afirma ainda que a ideia,
que “foi vendida” por anteriores executivos camarários socialistas, de que o
Mude seria “autosustentável”, está longe de ser uma realidade. “Diziam que as
negociações para a instalação de uma Loja do Cidadão no rés-do-chão estavam em
estado avançado. Hoje não está alugada coisíssima nenhuma”, frisa, lembrando
que também ficou pelo caminho um “ninho de empresas” anunciado para o local.
O Orçamento da
câmara para 2015 prevê, segundo anunciou António Costa na apresentação do
documento, uma verba de 0,4 milhões de euros para a “requalificação do Mude”,
valor que fica longe dos nove milhões de euros que se estima que vá custar a
obra. Em declarações anteriores, o presidente do município adiantou que
pretendia encontrar outras soluções de financiamento, nomeadamente através de
fundos comunitários.
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