terça-feira, 11 de novembro de 2014

Manuel Maria Carrilho e Bárbara Guimarães do amor ao inferno


Manuel Maria Carrilho e Bárbara Guimarães do amor ao inferno
De casal conto de fadas a conferências de imprensa num hotel de luxo para falar sobre a ex-mulher e conspirações políticas para ganhar votos. Como é que o casamento de um filósofo conceituado e ex-ministro da Cultura acabou assim?

Por Rosa Ramos com Kátia Catulo
publicado em 12 Nov 2014 in (Jornal) i online

Posou para as fotografias até no momento de beber água. Manuel Maria Carrilho alugou uma sala, ontem à tarde, num luxuoso hotel do centro de Lisboa para receber jornalistas e contar como o governo terá utilizado os seus problemas com a ex- -mulher para atacar o PS - partido de que foi ministro e de que ainda é militante - em época pré-eleitoral. A apresentadora de televisão foi convidada pela secretária de Estado para a Igualdade para participar, no início do mês, nas "Jornadas contra a Violência Doméstica". Um evento que, garante Carrilho, terá sido, na verdade, "um exercício de manipulação política grave e cruel, além de ilegal e inconstitucional", que visou "de forma clara" a sua pessoa. E o PS.

Carrilho recordou que Bárbara Guimarães foi vista dias antes a almoçar com a secretária de Estado - algo que revela o carácter planeado do evento: "Tudo foi cuidadosamente objecto de planeamentos, colaborações e conluios."

Para o ex-ministro, o facto de o governo ter convidado a apresentadora de televisão para participar num evento sobre violência doméstica numa altura em que ainda correm nos tribunais dois processos- -crime, é uma "intromissão do Estado" na justiça. "E encontrar o governo associado a uma coisa destas permite concluir que existe o objectivo político de atacar alguém que se encontra ligado ao mais importante partido da oposição, sabendo-se que nos encontramos já em contagem decrescente para o combate político."

Manuel Maria Carrilho, que leu um discurso escrito, referiu ainda que o evento, promovido pela "desorientada" secretária de Estado, teve por objectivo "manipular a opinião e os tribunais". "Está-se na presença de um exercício de trapaça política e social, caucionada pelo governo, o qual pretende, de forma oportunista, retirar dividendos políticos com a finalidade de, pouco a pouco, ir ganhando posição no combate eleitoral que irá ter de enfrentar num futuro próximo."

Só isso, acrescentou, explica o facto de o primeiro-ministro e o ministro dos Assuntos Parlamentares terem marcado presença no evento. "Pelos vistos, este governo, não satisfeito com os graves problemas que tem causado aos portugueses, ainda perde tempo a promover acções ad hominem apenas por estar em causa um adversário político ligado ao partido que, tudo indica, se encontra numa posição favorável para constituir um novo governo, como espero sinceramente que aconteça, a bem de Portugal."

Apesar das referências constantes ao PS, Carrilho garantiu aos jornalistas, já no final da conferência de imprensa, que abandonou a política "há algum tempo" e que está concentrado na carreira académica. No entanto, o ex-ministro garante que é "um cidadão como outro qualquer", disponível para "exercer a democracia". Um "nim" sobre se poderá vir a ser escolhido para um cargo político se o PS ganhar as eleições legislativas do próximo ano.

ERA A FAMÍLIA PERFEITA
 Não é a primeira vez que Carrilho mistura a vida privada com a política. Quando o verniz do casamento cor-de-rosa com Bárbara Guimarães estalou, encontrou-se com o então líder do PS, António José Seguro, para, segundo o "Expresso", discutir as implicações do escândalo. Por esses dias, já a ex-mulher, a crítica literária Joana Varela, tinha escrito uma mensagem de apoio na página do Facebook da apresentadora: "Parabéns, Bárbara. Fizeste-lhe o que ele me fez. Ficaste-lhe com a casa e com o filho." Carrilho, que foi acusado de maus--tratos físicos e psicológicos também no primeiro casamento, atribui a culpa dos falhanços ao destino. "Tive azar com as mulheres", disse numa entrevista à "Visão".

Bárbara e Manuel Carrilho separaram--se no ano passado e há uma série de processos a correr em tribunal (ver cronologia), sendo que em dois deles está em causa o crime de violência doméstica. A apresentadora acusa o professor de agressões e o professor garante ter sido alvo de violência. Os dois negam as acusações um do outro. A novela do ex-ministro da Cultura envolve telefonemas para a PSP, agressões misteriosas, um suposto rapto dos filhos menores, furtos de bens, acusações de alcoolismo, conferências de imprensa, primeiras páginas de jornais e de revistas. Um desfecho surpreendente, tendo em conta que, em Outubro de 2012, Carrilho dedicava à mulher o livro que acabara de lançar, "Pensar o Mundo". E ela desfazia--se em elogios ao trabalho do marido: "É uma obra lindíssima", dizia aos jornalistas. Se agora a apresentadora é um problema para Carrilho, não foi assim em 2005: quando quis ser presidente da Câmara de Lisboa, o ex-ministro mostrou a mulher e o filho no vídeo do lançamento da campanha. Eram a imagem de uma família perfeita e que o ex-ministro em tempos protegia.

Quando o filho Dinis nasceu, Carrilho foi acusado de agredir um fotógrafo que tentou recolher imagens do bebé, alegando que tinha direito à sua privacidade. O ex--ministro e a apresentadora casaram em 2001. Completavam-se, segundo a opinião pública: ela era uma espécie de boneca da televisão, a quem ele dava credibilidade e cultura. E ele ganhava a admiração geral por ter conquistado uma mulher bonita e conhecida de todo o público português.



O AMOR ACABA ASSIM?
Ao fim de 12 anos de casamento, e já com dois filhos, deixou de haver desejo de privacidade ou elogios mútuos. E dos filmes cor-de-rosa passou--se às conferências de imprensa em hotéis de Lisboa para falar de assuntos do foro privado misturados com cabalas políticas. "No contexto da dinâmica relacional, a passagem do amor ao ódio é um processo rápido. É o acumular de feridas não saradas da auto-estima, que se sente beliscada quando o outro refaz a sua vida", explica o professor de Psicologia Forense Carlos Poiares.

A violência doméstica não escolhe classes sociais, mas não deixa de parecer estranho que um professor catedrático e uma apresentadora de televisão se vejam envolvidos em acusações mútuas. "Neste tipo de casos em que há mediatismo e estatutos elevados, o abandono é mais difícil de digerir", considera o especialista. "As movimentações do outro, que são públicas, passam a ser sempre interpretadas como sendo contra si e cai-se frequentemente no ridículo." A seguir ao divórcio de um casal público passa a haver um jogo de egos. "Quanto maior é o estatuto que a pessoa julga que tem, maior desconforto sente ao ver a outra pessoa seguir a sua vida e ter sucesso. Nasce assim o desejo de escamotear o outro." Por outro lado, explica Carlos Poiares, quanto maior é o estatuto social, "maior é também sentimento de impunidade".

O ex-inspector da PJ António Teixeira recorda que em estatutos sociais mais elevados a violência - seja física seja psicológica - é mais facilmente camuflada. E o homem "continua a não gostar de ser rejeitado, trocado ou posto de lado". Quando há um divórcio litigioso, a única coisa que importa, de parte a parte, é "ganhar".


António Teixeira defende que, no caso concreto de Bárbara e Carrilho, o Ministério Público deveria actuar. "Quando há menores e, em casos como este, com impacto mediático, deveriam ser tomadas medidas adicionais, de maneira a proteger as crianças, que são quem sofre com isto". Porém, o antigo inspector considera que o governo não deveria ter convidado a apresentadora para a conferência sobre violência doméstica: "O Estado foi pouco cuidadoso ao chamar alguém que tem um litígio judicial por resolver, porque isso extrema ainda mais os problemas."

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