OPINIÃO
A detenção de Sócrates é um caso
político
JOSÉ VÍTOR
MALHEIROS 25/11/2014 - PÚBLICO
A sombra que este caso lança
sobre o PS afecta pessoalmente António Costa.
1. Os políticos
encontraram rapidamente a fórmula para evitar comentar a detenção de José
Sócrates e as acusações que impendem sobre ele de branqueamento de capitais,
fraude fiscal e corrupção. Invocando a “separação de poderes”, todos acharam
por bem repetir que “à justiça cabe o que é da justiça e à política o que é da
política”, não fazer comentários sobre este caso específico e fazer votos de
que a justiça siga o seu curso sem perturbações.
A contenção é de
louvar, até porque não se conhecem ainda as acusações concretas, muito menos os
indícios que levaram o Ministério Público a acusar o ex-primeiro-ministro e
menos ainda a eventual defesa de Sócrates. Mas há uma coisa que é inegável:
este caso pertence à política, é muito mais um caso político do que um caso
judicial e está a ter e vai ter um impacto político considerável. Não porque
José Sócrates seja um político e um ex-governante ou um ex-primeiro-ministro. Se
Sócrates fosse acusado de violência doméstica ou de contrabando de droga, essas
acusações poderiam ser absolutamente independentes da sua acção política. Mas a
acusação que é feita a Sócrates é de corrupção no exercício de cargos políticos
— as outras acusações decorrem desta — e nada poderia ser mais político do que
isso.
Uma das razões
para tentar separar a política deste caso judicial é o desejo de proteger o
mal-afamado nome da política. Mas, por esta ordem de ideias, qualquer crime
cometido por um político no exercício de funções políticas, através de
instrumentos a que tivesse acesso na sua qualidade de político, fossem quais
fossem os prejuízos causados em bens públicos, nunca seria da ordem da política
porque, sendo um crime, seria da ordem da justiça. O raciocínio sugere uma
ideia imaculada da política e não faz sentido.
Alguns órgãos de
comunicação fizeram investigações próprias e, baseados nos factos que
consideram ter provado, afirmam que “Sócrates fez” isto ou aquilo. Trata-se de
um risco que querem correr e apostam nisso a sua reputação. Mas um órgão de
comunicação que não possua investigação própria para sustentar afirmações desse
tipo tem de ter o cuidado de não as fazer e de não tratar as acusações como se
se tratasse de factos provados.
E a sombra tambem
não pode deixar de afectar os governos onde Sócrates possa ter cometido os
actos de corrupção de que é acusado e as pessoas que colaboraram com ele mais
de perto, já que é pouco provável que, a ter cometido de forma continuada os
actos de que é acusado, os tenha cometido sem alguma conivência de outros.
A credibilidade
de Costa ficou seriamente afectada pela prisão de Sócrates e a sua capacidade
para reunir uma equipa à sua volta fica limitada pela imperiosa necessidade de
excluir dela os socratistas mais visíveis. Se Costa ainda pode sonhar com a maioria
absoluta tendo em conta o circo que irá ter lugar até às eleições e os nomes
que entretanto irão cair à volta de Sócrates, só o futuro dirá.
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