Um detido especial?
Ana Henriques e
Pedro Sales Dias / 27-11-2014 / PÚBLICO
Os serviços
prisionais evocam a lei para garantirem que não abriram nenhuma excepção no
tratamento do recluso José Sócrates. Mas será mesmo assim? Nas primeiras 48
horas que passou na cadeia de Évora - destinada aos agentes das forças de
segurança e a outros reclusos cujo contacto com presos regulares possa fazer
perigar a sua segurança - o ex-primeiro ministro foi visitado pelo antigo
ministro e presidente da Federação Distrital de Évora do PS Capoulas Santos, a
sua ex-mulher Sofia Fava e, por fim, pelo antigo Presidente da República Mário
Soares (ver texto ao lado). Este último chegou mesmo a explicar que foi o
director da cadeia, “muito simpático”, quem lhe permitiu antecipar a visita que
era para ter feito só hoje, dia em que ia estar ocupado por ir lançar um livro.
Segundo o regulamento desta cadeia, as quartasfeiras são, a par dos
fins-de-semana e feriados, os únicos dias de visita - muito embora a lei diga
que o recluso preventivo colocado em regime comum pode receber visitas “sempre
que possível todos os dias”.
Habituado a
defender agentes das forças de segurança, o advogado Melo Alves conhece bem o
funcionamento das prisões. “Cada recluso tem direito a visitas duas ou três
vezes por semana, que só podem ter lugar com autorização das educadoras”,
figuras do estabelecimento prisional que têm a seu cargo um conjunto de presos.
Admitindo que também já beneficiou de autorizações excepcionais para visitar
constituintes seus detidos ao fim-de-semana, por exemplo, o advogado pensa
mesmo assim que José Sócrates “está a ter direitos que outros reclusos não
têm”.
“É verdade que em
certas circunstâncias se consegue visitar o recluso no próprio dia em que se
pede autorização para tal. Mas com um recluso normal as coisas não aconteceriam
com tanta celeridade. Não teria este tipo de facilidades”, observa, numa
referência ao facto de o ex-governante ter recebido três visitas e se preparar
concerteza para receber muitas mais “visitas de cortesia”.
Sócrates já não
se encontra na cela isolada onde passou as duas primeiras noites: foi
transferido para uma ala, onde continua numa cela individual. Já tomou o
pequeno-almoço com os restantes presos e teve de lidar com as burocracias
inerentes ao seu ingresso no estabelecimento prisional, o que não lhe terão
agradado por aí além, como tratar do cartão de utente dos serviços prisionais
para poder fazer chamadas dos telefones da cadeia e fazer compras no bar.
Segundo o
Regulamento Geral dos Estabelecimentos Prisionais, aprovado quando era ainda
primeiro-ministro, cada recluso só tem direito a uma chamada telefónica por dia
para o exterior, com a duração máxima de cinco minutos, e a outra para o seu
advogado, com a mesma duração, embora o director da prisão possa autorizar mais
telefonemas a quem não receba visitas regulares. Também só pode ligar para dez
números diferentes, além do do seu advogado. Esta cadeia para polícias foi
inaugurada em 2007, era Sócrates primeiro-ministro.
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