Não há paciência para a
"ética" de Manuel Alegre
Por Luís Osório
publicado em 13
Nov 2014 in
(Jornal) i online
Essa maneira marialva de ver a
"ética" agride, constrange e é patética
A defesa que
Manuel Alegre faz de Manuel Maria Carrilho insere-se na lógica da chamada
"ética republicana". Um amigo não se deixa cair em nenhuma
circunstância, sobretudo se já estiver em queda ou de rastos. É a lógica de uma
certa aristocracia "siciliana". Um homem deve respeitar-se a si
próprio e estar ao lado de quem está ao seu lado - mesmo que seja corrupto, mau
carácter, pedófilo ou assassino. Tudo isso é secundário, são as circunstâncias
da vida, os revezes, os dramas da realidade. A amizade predomina quando existe
superioridade moral, convicções e lealdade.
Neste tempo de
tanta volatilidade, um tempo em que as mudanças são tão mais rápidas e em que a
verdade e a mentira muitas vezes, e lamentavelmente, são conceitos abstractos,
essa maneira perversa e até um pouco marialva de ver a "ética",
agride, constrange e é patética. Manuel Alegre pode defender quem quiser, está
no seu direito. Até Carrilho, não importa. É dono do seu nome e faz dele o que
julga ser melhor. Porém, é também justo que se diga, em nome de uma ideia de
civilização, que os poderosos, mesmo quando, como Alegre, usam uma voz grave
como instrumento de poder e sedução, passaram a pagar um preço pelo que dizem,
defendem ou calam.
Manuel Alegre já
não tem nada a ganhar. Não pode ser Presidente da República ou definir o que
quer que seja no PS; tem apenas a marca que é o seu nome. Mas com a defesa que
fez das teses de conspiração de Carrilho talvez não saiba o quanto contribuiu
para "matar" a ideia de que determinadas pessoas estão acima do comum
dos mortais. Verá que não é verdade. A ética republicana alicerçada nessa tal
superioridade moral é um embuste porque de moral e de ética tem muito pouco. Uma
mentira.
E o problema das
mentiras é serem gulosas e baralharem tudo. São como uma droga dura ou a paixão
em estado puro. Porque quanto mais dela dependemos mais ela nos pede. Começamos
por achar que controlamos tudo e acabamos dependentes de tão controlados. Primeiro
uma muito pequena. Depois, para proteger a primeira, dizemos uma segunda que,
como a inicial, também precisa de uma terceira que a sustente e esta de uma
quarta que a ampare e de uma quinta que a credibilize. A soma de várias
pequenas mentiras condena-nos a uma teia de que passamos a depender para
sobreviver aos olhos de quem mentimos pela primeira vez. Não é diferente de
comprimidos ou de chocolate. As mentiras têm porventura a vantagem de não
engordar. Não é uma vantagem pequena, mas as ressacas são tão esmagadoras como
as outras.
Esse é o
problema. A defesa de uma mentira vai levar a mais mentiras que credibilizem e
justifiquem o que não tem credibilidade e justificação possível. Da próxima vez
que Manuel Alegre levantar a voz e defender o Estado social julgarei que está a
dizer um poema. O PS, muito provavelmente, será poder dentro de um ano, mas não
precisa desta ética de panteão.
Manuel Alegre apoia tese de
Carrilho contra Bárbara Guimarães. "É suspeito que governo faça isto"
Por Luís Claro e
Rosa Ramos
publicado em 13
Nov 2014 in
(Jornal) i online
Ex-ministro acusa governo de usar
o conflito com Bárbara Guimarães para ganhar eleições. "Está no domínio da
patologia política", diz deputada do PSD
Não é comum em
Portugal os políticos misturarem a vida privada com a vida política. Manuel
Maria Carrilho, ex-ministro da Cultura e ex-deputado do PS, fê- -lo e acusou o
governo de, ao convidar Bárbara Guimarães para um encontro sobre violência
doméstica, pretender "retirar dividendos políticos com a finalidade de ir
ganhando posição no combate eleitoral que irá ter de enfrentar num futuro
próximo". A tese de Carrilho merece duras críticas dos responsáveis do
PSD, mas é partilhada por alguns socialistas. O histórico socialista Manuel
Alegre admite que "é muito suspeito que o governo faça isso", ou
seja, ter convidado a ex-mulher do socialista para as jornadas Jornadas contra
a Violência Doméstica. "Ele foi ministro e, independentemente de quem
tenha razão, [o assunto] presta-se a uma interpretação política. Tratando-se de
duas figuras públicas, é susceptível de leitura política", acrescenta, em
declarações ao i, Manuel Alegre.
A posição de
Carrilho foi, porém, duramente criticada por alguns socialistas. Isabel
Moreira, que pertence à subcomissão de Igualdade na Assembleia da República,
classifica a acusação do ex-ministro como "um absurdo".
A deputada
socialista considera "lamentável" a postura de Manuel Maria Carrilho
ao longo de todo o processo. "Quem é que ele julga que é para achar que o
governo devia restringir o direito de uma mulher dar a cara por uma causa? Eu
agradeço à Barbara Guimarães ter dado a cara por uma causa que é de
todos", diz ao i Isabel Moreira, acusando o ex- -ministro de estar a
tentar tirar "proveito político" desta situação. João Cravinho, que
foi colega de Carrilho no governo, prefere aconselhar prudência para que
"as coisas da vida privada não cheguem à opinião pública".
A secretária de
Estado da Igualdade, Teresa Morais, que promoveu o evento, não comenta esta
polémica, mas vários responsáveis do PSD reprovam a atitude de Carrilho. A deputada
Carla Rodrigues, da subcomissão parlamentar para a Igualdade, diz ao i que
Carrilho "está numa situação de devaneio" e considera a acusação ao
governo "completamente ridícula". A deputada explica que "a
intenção era dar projecção ao problema da violência doméstica e foram
convidadas diversas figuras públicas, entre as quais a Bárbara Guimarães".
Nas redes sociais, a polémica foi comentada por alguns responsáveis do PSD. A
deputada Nilza de Sena escreveu que a acusação do ex-ministro "está no
domínio da patologia". Hermínio Loureiro aconselhou o socialista a
"ir ao médico, urgentemente".
Opiniões
Manuel Alegre
Ex-deputado do PS
“É muito suspeito que o governo faça isso. Ele
foi ministro e, independentemente de quem tenha razão, [o assunto] presta-se a
uma interpretação política. Tratando-se duas figuras públicas, é susceptível de
leitura política”.
João Cravinho
Ex-ministro e
ex-deputado do PS
“Eu não tenho
qualquer curiosidade pela vida privada das pessoas com relevância pública. Se
misturar a vida privada com a política dá bom resultado? Os reis costumam fazer
isso. Estou é preocupado com um aspecto: temos de ter alguma prudência e
desejar que as coisas da vida privada não cheguem à opinião pública (...) Se o
PS deve estar preocupado? Presumo que não deverá estar muito”.
Isabel Moreira
Deputada do PS
“Ele não tem
razão nenhuma. É um absurdo. Quem é que ele julga que é para achar que o
governo devia restringir o direito de uma mulher dar a cara por uma causa? Eu
agradeço à Barbara Guimarães ter dado a cara por uma causa que é de todos. Há
um percurso lamentável desta personagem. Está a tentar tirar proveito político
e acho isso lamentável”
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