EDITORIAL
Juncker ensaia uma fuga para a
frente
DIRECÇÃO
EDITORIAL 12/11/2014 - PÚBLICO
Foi na semana
passada que vários jornais denunciaram a existência de acordos fiscais secretos
estabelecidos entre o Luxemburgo e 340 multinacionais, à margem dos interesses
dos restantes países europeus. Na altura em que foram firmados esses acordos,
Jean-Claude Juncker era primeiro-ministro do Luxemburgo.
O agora
presidente da Comissão Europeia esteve uma semana mudo e calado e ontem, de uma
forma surpreendente, veio quebrar o silêncio para vir prometer uma revolução
fiscal e uma espécie de harmonização dos impostos a nível europeu. E chegou ao
ponto de dizer que este pacto fiscal deveria ser levado a nível do G20. É o que
se chama "fuga para a frente". Juncker reconhece que as práticas
fiscais no Luxemburgo, não sendo ilegais, beliscam os patrões éticos e morais,
mas daí não tira nenhuma ilação ou consequência política.
Acossado pelo escândalo do
Luxemburgo, Juncker promete uma revolução fiscal
MARIA JOÃO
GUIMARÃES 12/11/2014 - PÚBLICO
Presidente da Comissão Europeia e antigo primeiro-ministro do Luxemburgo
parte para a ofensiva e rompe o silêncio depois de acusações de ter permitido
que o seu país se tornasse um paraíso fiscal.
Jean-Claude
Juncker, presidente da Comissão Europeia, acabou de passar uma semana num
incómodo silêncio sobre o caso que arrisca abalar o seu recém-iniciado mandato
– de que o Luxemburgo tinha permitido uma série de acordos especiais com
empresas que ali pagaram menos impostos do que nos seus países de origem.
Depois de uma
demora a reagir, o recém-empossado presidente da Comissão Europeia partiu para
o ataque, apresentando-se como alguém que vai liderar uma campanha europeia
contra a evasão fiscal e os regimes especiais que permitem às empresas pagar
menos impostos.
Perante a
pergunta óbvia de um jornalista que questionou porque deverá alguém acreditar
em Juncker, que liderou o Luxemburgo na época em que este serviu de paraíso
fiscal para tantas empresas (mais de 340, segundo a investigação do consórcio
internacional de jornalistas), Juncker respondeu secamente: “Porque eu digo que
sim.”
Juncker defendeu
o Luxemburgo dizendo que oferecer condições fiscais melhores a empresas
estrangeiras, raramente de forma transparente, era “uma prática bem estabelecida”
em 22 dos 28 membros da União Europeia. O “estado de coisas” que levou ao caso
luxemburguês deve-se, acrescentou, ao facto de os Estados-membros terem
sistemas fiscais “diametralmente opostos”, que podiam levar a resultados “que
não estão de acordo com padrões éticos e morais”.
O modo de acabar
com isto é aprovar legislação europeia que se aplique a todos os países, disse
Juncker – algo que ele apoia desde 1991. Para isso seria necessária a aprovação
de todos os 28, o que até agora nunca aconteceu.
O presidente da
Comissão Europeia diz que irá retomar uma proposta para transparência fiscal
com os governos a partilharem entre si condições especiais de impostos que
ofereçam, acabando com a possibilidade de empresas multinacionais procurarem
entre vários países qual o que lhes oferece as condições mais favoráveis, não
só a nível europeu mas também do G20 (o grupo das 20 maiores economias do
mundo), que se reunirá neste fim-de-semana na Austrália. Juncker defendeu ainda
uma proposta para um método de cálculo de rendimento de empresas que dificulte
tentativas de empresas para jogar com as jurisdições de impostos de vários
países.
Propostas de
harmonização fiscal têm contado com a oposição veemente de alguns
Estados-membros como, lembra a emissora noticiosa Bloomberg, o Reino Unido ou a
Irlanda.
A Comissão
Europeia estava já a investigar o Luxemburgo por concessões fiscais feitas à
Amazon e a uma subsidiária da Fiat. Mas a revelação de que o país tinha ajudado
centenas de empresas a “canalizar centenas de milhares de milhões de dólares
através do Luxemburgo e a poupar milhares de milhões de dólares em impostos”
vai muito para além disso.
O que era feito
não é crime: tecnicamente respeita a lei. São esquemas – “planeamento fiscal”,
oferecido por bancos e consultoras financeiras aos seus clientes – que abusam
dos métodos legais que permitem diminuir a carga tributária sobre as empresas.
No caso do Luxemburgo, diz a investigação dos jornalistas, algumas empresas
chegaram a conseguir ter apenas 1% de carga fiscal.
Juncker, que foi
ministro das Finanças antes de chefiar o Governo do Luxemburgo nos últimos 18
anos, disse que pode ser considerado “politicamente responsável”, mas ao mesmo
tempo afirmou: “Não sou o arquitecto do modelo luxemburguês porque não há modelo
luxemburguês.”
Sem comentários:
Enviar um comentário